Em um ano, a equipe de direção do Hospital Regional de Brazlândia (HRBz) conseguiu reorganizar a unidade de Saúde e fazer funcionar o que estava parado. Até as cirurgias eletivas voltaram a ser feitas. O que atrapalha a rotina é a falta de profissionais, a falta de equipamentos, a falta de medicamentos, a falta de mobiliário e a falta de estrutura física adequada.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho, e o vice, Carlos Fernando, foram a Brazlândia verificar as condições de trabalho, na manhã desta segunda-feira (13). Encontraram uma unidade de saúde desgastada, onde os servidores fazem vaquinha para comprar mobiliário e pintar as paredes.
Com cerca de 200 atendimentos diários no Pronto Socorro, dos mais simples aos mais graves, o HRBz sofre com a falta de pediatras, clínicos e anestesiologistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Não se tem um fluxo organizado para a entrada dos pacientes porque não há classificação de risco.
Nos corredores do PS, homens e mulheres em macas e acompanhantes se misturam sem o mínimo de privacidade. Lençóis e cobertores fazem as vezes de cortina para uma troca de roupas.
Fora da emergência, paredes e teto precisando de reparos e pintura. Equipamentos velhos, não poucos enferrujados, são os obstáculos no caminho. Pacientes permanecem internados porque não há quem lhes dê alta. Aumenta a possibilidade de infecção e aumenta o gasto público.
A enfermaria do ambulatório da Pediatria tem 16 leitos e o PS oferece mais 12. As crianças, junto com mulheres e homens adultos se espalham pelos corredores e a porta não fecha, os meninos não são levados para lugar mais adequado.
O médico que fica na porta atende de 30 a 40 crianças por turno. Deveria haver três médicos atendendo no Pronto Socorro, um na enfermaria e um neonatologista. Mas, a realidade é ter dois pediatras para tudo. A escala da neonatologia não fecha com apenas quatro profissionais. E esses têm que dar conta, também, do Alojamento Compartilhado e da Sala de Parto.
Na recepção da emergência, 35 pacientes aguardavam atendimento. Em geral, dois clínicos se revezam, atendendo a porta e cuidando também da enfermaria. Outros 10 clínicos foram prometidos pela Secretaria de Saúde, mas com salário pouco e trabalho demais, é razoável acreditar que não permaneçam.
O HRBz é um dos hospitais para onde não querem ir os profissionais de Saúde aprovados em concurso. Cortaram gratificações de titulação, de insalubridade e de movimentação dos novatos. Isso significa mais de 30% a menos de salário no fim do mês. Há quem trabalhe 60 horas semanais na emergência. Por isso também, pouca gente quer ir para Brazlândia.
Em meio a tanta carência, não faltam cirurgiões ao HRBz. No entanto, o serviço é represado pela falta de anestesiologista.
Exames são itinerantes
Gasta-se mais para fazer um Raio X no HRBz do que em qualquer outro hospital da rede pública do DF, pois a chapa é feita lá, mas tem que ser levada para revelação no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). O revelador, quebrado há um ano, não tem recuperação. Os exames vão e voltam de ambulância, quando dá. Os pacientes ficam horas, até um dia inteiro esperando. Se não faltam medicamentos na rede, Brazlândia é mal servida. Usam-se antibióticos, mais caros, de ponta, porque faltam os mais simples.
“Os médicos, os outros servidores e a população aguardam soluções que não chegam. Aguardam os novos profissionais, que não encontram estímulo e incentivos para trabalhar em Brazlândia. O governo faz planos para médio e longo prazos, mas não dá sinal de se preocupar com o que acontece agora nas emergências lotadas”, critica o presidente do SindMédico-DF.
O tempo desgasta o prédio do hospital, que em dezembro completa 40 anos e já parece um retrato em sépia. Mas nem tudo é desalento. A equipe continua atendendo cada doente, cada parturiente, cada paciente que nunca encontra portas fechadas.
Fonte: SindMédico-DF