CLDF: Movimentos sociais questionam validade do racionamento de água



Por Marco Túlio Alencar

A real necessidade do rodízio no fornecimento de água – cujo encerramento está marcado para o próximo dia 15 – foi questionada pelos movimentos da sociedade civil que participaram de comissão geral da Câmara Legislativa, que discutiu o racionamento nesta quinta-feira (7). O evento foi requerido pelo presidente da Casa, deputado Joe Valle (PDT).

As entidades integram o Fórum Alternativo da Água do Distrito Federal (FAMA/DF), que apresentou uma série de sugestões “para solucionar de forma sistêmica a crise hídrica”.  Entre as proposições estão: a preservação dos biomas, educação ambiental efetiva, investimento na Caesb, um programa de “cidades sensíveis à água”, além da captação da água de forma efetiva e de uma gestão popular da água.

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Abordando o tema pelo viés da população, Maria Madalena Torres, do Movimento Popular Por uma Ceilândia Melhor, lembrou as dificuldades da população originária da cidade para ter acesso à água. Ela relatou problemas antigos – quando a população ainda dependia de latas d’água – e os atuais, enfrentados pelos moradores dos setores mais pobres do DF, durante o racionamento. “Crianças não tinham como tomar banho para ir à escola, nas casas onde não há reservatório”, contou. Ela também reivindicou que a água seja cobrada de acordo com o consumo, sem a cobrança de taxa mínima.

Bem sagrado 

Maria Consolación Udry, do Instituto Oca do Sol, discorreu sobre a água de uma forma “holística”, ao considerar que “as águas são sagradas, não pertencem ao ser humano, ao gestor publico, à Caesb ou à Adasa”. Ela acredita que, se fosse aplicado esse conceito, haveria uma “corresponsabilidade pelo cuidado com este alimento”. Também afirmou que, apesar dos números e novas tecnologias serem fundamentais, é necessário “investimento para preservar os mananciais, fiscalizar os córregos e as nascentes”.

Em nome do FAMA/DF, falou o professor Perci Coelho de Souza que, além de apresentar o fórum e suas atividades, destacou sua principal diretriz: “Não admitimos que a água seja tratada como mercadoria”, defendendo o caráter público e a necessidade de acesso democrático, fundamentando-se no direito à vida. Ele criticou o racionamento que estaria a serviço “da necessidade de justificar a expansão urbana e a valorização das terras do DF”, citando como exemplo o Taquari II.

Representando o Sindicato dos Trabalhadores da Caesb (Sindágua), Igor Pontes, afirmou que o período do racionamento foi de “grande sofrimento para vários setores da população”. Além disso, chamou a atenção para o armazenamento de água de maneira precária, que traz prejuízos do ponto de vista sanitário. “A população foi pega de surpresa, mas o GDF, a Caesb e a Adasa tinham capacidade de prever essa situação”, declarou, apresentando reportagens onde dirigentes públicos já anunciavam o comprometimento do abastecimento desde 2010.

Em nome do GDF, participaram da comissão geral a Caesb e a Adasa. O diretor da agência reguladora Jorge Werneck observou que havia uma cultura de abundância. “Mas o DF cresce em ritmo acelerado e é uma região crítica quanto à disponibilidade de água”. Ele apresentou números e listou as ações do órgão para enfrentar o problema, desde campanhas educativas à mediação de conflitos em áreas rurais, passando pela redução de perdas no meio urbano. Ele comemorou a situação atual dos reservatórios, mas aconselhou que todos “deveriam continuar economizando água”.

Maurício Ludovice, presidente da Caesb, disse que os últimos 18 meses foram difíceis para os brasilienses e para a companhia. “Aprendemos muito e estamos saindo de forma positiva, após enfrentarmos muitas dificuldades. A população também aprendeu”, comentou, dizendo acreditar que “o uso não responsável acabou”. Ele também enumerou várias medidas adotadas pela companhia para enfrentar a crise.

Distritais 

Além do deputado Joe Valle, que frisou a transmissão da comissão geral por meio da plataforma participativa e-Democracia, que permitiu aos internautas enviarem perguntas aos especialistas, e sustentou “a necessidade de buscar o consenso apara avançar”, também participaram do debate os distritais Chico Leite (Rede) e Telma Rufino (Pros). O deputado Reginaldo Veras (PDT) acompanhou a discussão.

Chico Leite, que integra a Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara Legislativa e coordenou o Grupo de Trabalho que acompanhou a crise hídrica, indagou a Adasa se o DF está pronto para acabar com o racionamento e recebeu resposta positiva à pergunta. Telma Rufino apresentou uma campanha de sua autoria denominada “Se educar, não precisa racionar” e resumiu: “A crise nos deu várias lições”. Presidente da Comissão de Assuntos Fundiários (CAF), ela também fez um balanço das ações do colegiado nesse setor.

Participou ainda do evento André Lima, ex-secretário de Meio Ambiente do DF, que cobrou investimentos prometidos pela Terracap na proteção de mananciais bem como a efetivação do Zoneamento Ecológico Econômico. Também disse ser preciso fortalecer a produção rural sustentável.

Fonte: CLDF



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