Com explosão de casos de dengue no DF, Ibaneis exonera subsecretário Vigilância à Saúde, mas casos preocupam todo país

Com três mortes confirmadas, de 31 de dezembro a 20 de janeiro DF teve um aumento, 646% de casos confirmados de dengue em relação ao mesmo período do ano passado



Por Kleber Karpov

O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), exonerou, na quinta-feira (25/1), o subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero Martins, em decorrência da explosão dos casos de dengue no Distrito Federal. Ocasião em que Rocha decretou Estado de Emergência, em decorrência do risco de se tornar uma epidemia – situação em que a doença se espalha para diversas cidades do DF.

De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação E-SUS Sinan, da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (MS), acumulado até 25 de janeiro, o DF chegou a um total de 15.542 casos prováveis, com coeficiente de incidência de 551,7 casos, por 100 mil habitantes. Ao todo, a capital do país registrou 3 óbitos, confirmados em decorrência da doença e outras 12 mortes estão sob investigação.

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Dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) apontam a Região Administrativa (RA) Ceilândia como a RA com maior incidência de dengue com 3.963 casos, seguida por Sol Nascente / Pôr do Sol (1.110), Brazlândia (1.045) e Samambaia (997).

DF x Estados

Os casos de dengue do DF, chamam atenção, quando comparados aos estados brasileiros, por registrar mais que o dobro de incidência, quando comparado ao Acre, segundo no ranking nacional com casos de dengue, com 212.5 casos confirmados para cada 100 mil habitantes, seguido por Minas Gerais com coeficiente de 166.5 por 100 mil.

Fonte: E-SUS Sinan

Porém, quando se confronta os casos prováveis, o Distrito Federal salta para a quarta posição com 15.542 casos prováveis, atrás de Minas Gerais com 34.198, São Paulo com 20.773 e Paraná (16.608).

E-SUS Sinan

DF x Brasil

Ainda de acordo com o E-SUS Sinan, o Brasil registrou 120.874 prováveis, com coeficiente de incidência de 59,5 a cada 100 mil habitantes, o registro de 12 óbitos por dengue com outras 85 mortes em investigação. Nesse contexto, apenas o DF, contabiliza 12,85%, com os 15.542 prováveis registrados, além de representar 25% das mortes no país, ao se considerar as três que ocorreram no DF.

Previsibilidade

Sob essa ótica é importante se levar em consideração, dados apresentados pelo Ministério da Saúde (MS), ainda em dezembro de 2023, que apontava preocupação de a Região-Centro Oeste, além dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo estarem entre locais com alto grau de focos de dengue em todo o país, o que incluiu o Distrito Federal.

A época o MS demonstrou especial preocupação com a Região Sul , mais especificamente com o Paraná, classificado como estado com potencial muito alto para casos de dengue. Embora o estado supere o DF em número com os 16.608 casos prováveis, o estado registra 38,51% do coeficiente de incidência, com 212,5 mil casos confirmados para cada grupo de 100 mil habitantes.

Preocupação

Durante o anúncio da estratégia de vacinação contra a dengue, realizado pelo Ministério da Saúde, na quinta-feira (25), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, divulgou dados, além de falar sobre a preocupação com os casos de dengue em todo o pais. “Vivemos um momento de grande preocupação em relação à dengue”, avaliou a ministra Nísia Trindade.

Ainda de acordo com Nisia Trindade, o DF conta com quatro sorotipos da dengue, a circular pelo país – inclusive o sorotipo 3, sem circulação de forma epidêmica no Brasil há mais de 15 anos. O sorotipo 1 é classificado atualmente como predominante. “Temos a circulação dos quatro sorotipos ao mesmo tempo no país. Realmente é bastante preocupante”, reforçou a diretora do departamento de Doenças Transmissíveis do ministério, Alda Cruz.

Vacina

O MS aponta que ao todo, 521 municípios brasileiros foram selecionados para iniciar a vacinação contra a dengue por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), vacinações que devem ter início a partir de fevereiro.

O Ministério mapeou um total de 37 regiões de saúde que, segundo a pasta, são consideradas endêmicas para a doença que deve receber as primeiras doses da Qdenga, vacina contra a dengue, a ser administrada em duas doses. fabricado pela empresa japonesa Takeda Pharma.

Limitação de doses

Se por um lado, a vacina já tenha chegado ao Brasil, único do mundo a ter o imunizante recém-lançado, com produção limitada, a estimativa é que o SUS tenha recebido cerca de 3,5 milhões de doses.

Em decorrência da limitação de doses, o MS inicialmente optou por seguir determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda a imunização de crianças na faixa etária entre 6 e 16 anos.

No entanto, avaliação do Ministério aponta que crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, estão nas faixas etárias com maior concentração de número de hospitalizações por dengue. Segundo o MS, de janeiro de 2019 a novembro de 2023, o grupo respondeu por 16,4 mil hospitalizações, atrás apenas dos idosos, grupo para o qual a vacina não foi autorizada.

Foco do problema

Estudos da Vigilâncias à Saúde da SES-DF apontaram que no DF, aproximadamente 94% dos focos de reprodução do aedes aegypti, estão dentro das residências, em áreas particulares.

Informações essas, também refletidas pela ministra da Saúde ao revelar que o combate a dengue, deve ser fruto da soma de esforços, uma vez que 75% dos domicílios servem de focos do aedes aegypti. “O combate à dengue é uma ação de governo, mas tem de ser uma ação também de cada cidadão, de cada cidadã. É necessário lembrar que os focos do mosquito estão 75% nas casas, então essa união de esforços é muito importante”, destacou.

Não por outro motivo, no DF, a governadora do DF, em exercício, Celina Leão (Progressista), organizou uma força-tarefa, planejou e deu início a uma série de ações conjuntas para combater o mosquito da dengue. Ações essas direcionadas, sobretudo, a atuar na conscientização, no apoio, na fiscalização das residências, inclusive com determinação de se emitir multas em casos de flagrante delito ou reincidência no despejo de lixo ou de descaso para com os surtos de dengue nas cidades.

Medidas essas, continuadas e ampliadas por Rocha que chegou a anunciar, nessa semana, a celeridade em processos de contratações de agentes de saúde, além da compra de insumos para o combate a dengue.

Vale lembrar que sob essa ótica, o próprio GDF noticiou, por exemplo, a limpeza de terreno particular, onde cerca de 15 pneus foram retirados de uma área particular na RA Riacho Fundo II.

Equipes do SLU integraram a ação fiscalizatória, eliminando focos da dengue | Foto: Roberto-Lopes-SLU.jpg

Alinhados, sintonizados e focados

Como bem o disse a secretária de Estado de Saúde, Lucilene Florêncio, durante reunião com a ministra da saúde em que participou na condição de vice-presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

“Estamos alinhados, sintonizados e focados na prevenção das arboviroses. As decisões são colegiadas, vindas de câmaras técnicas, de uma comissão tripartite, que inclui governo federal, estados e municípios. Estamos atentos ao uso de novas tecnologias para o enfrentamento da dengue”, explicou Lucilene Florêncio ao lembrar a participação de outras esferas do Executivo local, além de anunciar o pedido de socorro ao Ministério da Defesa.

“Estamos trabalhando com vários órgãos, como Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Defesa Civil, Corpo de Bombeiros para fiscalizar o descarte irregular de resíduos. A vacina vem nos dar um alento. Mas temos de fazer nosso dever de casa, nossa parte. Vamos conversar com o Ministério da Defesa e pedir apoio também ao Exército para ampliar a nossa frente de combate ao mosquito”, disse.

Suporte

Importante salientar que, no contexto Martins, que atuou com maestria durante a pandemias da Covid no antes e pós-imunização, além de já ter enfrentado e derrotado o aedes aegypti em outros carnavais.

Tanto que em junho de 2019, convidado a prestar esclarecimentos em Audiência Pública, para debater as causas da epidemia de dengue no DF e os efeitos do sistema de internação hospitalar decorrentes da falta de prevenção epidemiológica. Á época, o ex-subsecretário da Vigilância Sanitária ao explicar a quantidade de óbitos de vítimas da dengue, na gestão anterior, Martins já apontava a necessidade de suporte, sobretudo, de recursos humanos.

10 minutos por semana

Esse é o tempo que pode salvar a vida, desafogar hospitais e demais unidades de saúde caso as famílias se organizem para garantir que na residência não haja locais em que possam acumular água e sirvam de local para eclosão dos ovos colocados pela fêmea do mosquito aedes aegypti.

O mosquito fêmea em geral coloca entre 30 a 300 ovos por vez, em locais com água limpa e parada. Com 10 minutos, na semana, é fácil conter a proliferação do aedes aegypti e da doença.

Os principais sintomas da dengue. Foto: Arte/EBC

Na torcida

Sob essas óticas, é torcer para que o substituto, Fabiano dos Anjos Pereira Martins, então diretor da Vigilância Epidemiológica em Saúde da SES-DF, faça jus ao hiato deixado por Martins, e tenha êxito do combate a dengue por parte do governador.

 



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