Carolina Caraballo
Até frequentar a Escola Classe 316 Sul, Ana Clara Pereira não sabia que era possível usar a tecnologia para aprender. A casa da menina de 10 anos, localizada na zona rural de Santo Antônio do Descoberto, não tem computador. E a qualidade da internet disponível na região não é boa.
“Quando comecei a estudar aqui, em 2020, vi que os professores usavam a TV para passar vídeos e reportagens sobre o conteúdo que a gente estava aprendendo. Isso deixa a aula muito mais legal”, observa Ana Clara. “Também passei a usar os computadores do colégio para fazer pesquisas e trabalhos escolares.”
A rede pública de ensino do Distrito Federal conta, atualmente, com 758 escolas. Desse total, 582 oferecem acesso à internet tanto para fins administrativos quanto pedagógicos, de acordo com a Secretaria de Educação do DF (SEE). A chamada GDF Net, fornecida via fibra óptica, atende 81% das instituições que ficam em áreas urbanas.
“Desde o final de 2019, o Governo do Distrito Federal tem desenvolvido um forte trabalho de conectividade, em especial nas escolas que apresentam um parque tecnológico deficiente”, afirma o subsecretário de Operações em Tecnologia da Informação e Comunicação da SEE, Edigar Rodrigues. “Estamos caminhando de forma rápida para termos 100% das instituições de ensino com acesso pleno à internet nos próximos anos.”
O interesse do GDF em usar a tecnologia como aliada na aprendizagem segue uma tendência mundial que acompanha os hábitos de conectividade dos jovens, dentro e fora da sala de aula. É a chamada metodologia ativa de ensino, na qual o aluno sai de uma posição passiva para ocupar um lugar de protagonismo nos estudos.
“Sai o ensino tradicional, em que o professor fala e o aluno escuta, e entra a metodologia ativa, em que o professor passa a atuar mais como mediador”Edigar Rodrigues, subsecretário de Operações em Tecnologia da Informação e Comunicação
“A ideia é incentivar que o estudante busque informações por conta própria, antes mesmo que o professor entregue para ele”, explica Edigar. “Sai o ensino tradicional, em que o professor fala e o aluno escuta, e entra a metodologia ativa, em que o professor passa a atuar mais como mediador.”
Engajamento
Responsável pelas aulas de biologia no Centro de Ensino Médio Integrado (Cemi), no Gama, Yuri Lima da Costa é um entusiasta do uso da internet dentro de sala de aula. “Podemos acessar sites de microscopia, por exemplo, para mostrar as várias técnicas de fluorescência. Porque uma coisa é você fazer um desenho para explicar a matéria. Outra é poder mostrar a imagem de fato”, aponta.
O professor também usa aplicativos para preparar quizzes e jogos educativos para tornar as aulas mais interessantes. “Podemos inclusive explorar o celular como ferramenta pedagógica, mostrando que o uso do aparelho pode ter um bom propósito”, opina Yuri. “Os estudantes adoram, e é uma ótima forma de ver como está o engajamento da turma”.
O diretor do Cemi, Lafaiete Formiga, comemora a qualidade da GDF Net, que garante internet potente e rápida aos seus 430 alunos. “Há dois anos, antes de sermos abastecidos pela fibra óptica do governo, o acesso era bastante problemático. A internet caía muito, e as aulas ficavam prejudicadas”, relembra. “Agora, toda a escola está conectada”.
Nova tecnologia
O acesso à internet nos colégios do Distrito Federal vai melhorar ainda mais. O GDF e o Ministério das Comunicações discutem desde setembro o uso da tecnologia 5G FWA (Fixed Wireless Access) na rede pública de ensino da capital federal. A solução seria um complemento ao fornecimento via fibra óptica.
O 5G FWA é uma versão fixa do 5G. A tecnologia usa uma espécie de roteador conhecido como CPE (Customer Premises Equipment). O equipamento se conecta à internet usando o 5G de uma operadora e distribui o sinal de forma localizada, por meio de uma rede wi-fi.
“Seis instituições públicas de ensino do Distrito Federal serão escolhidas para testar a nova tecnologia”, informa o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Distrito Federal, Leonardo Reisman. “Neste momento, estamos selecionando as escolas, levando em consideração a proximidade com antenas de 5G.”
O projeto-piloto está inserido na Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, lançada pelo governo federal em 26 de setembro. A iniciativa pretende ampliar o fornecimento de internet para as mais de 138 mil escolas públicas do país, garantindo conexão para uso administrativo e pedagógico com qualidade e velocidade.
Dados da Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação (MEC) apontam que mais de 40 mil instituições públicas de ensino do Brasil ainda não usufruem de qualquer conectividade. E quase 100 mil escolas têm internet, mas de baixa qualidade.