Em meio ao vaivém das quase 800 mil pessoas que diariamente passam pela Rodoviária do Plano Piloto, três servidores com coletes da Secretaria de Saúde podem parecer despercebidos para a maioria dos transeuntes, mas são aguardados pela população em situação de rua. É a equipe do Consultório na Rua, responsável por levar serviços a quem for identificado como em situação de vulnerabilidade.
Um dos atendidos pelo Consultório na Rua foi Ricardo Cruz, de 63 anos. Há cinco meses dormindo na rodoviária, ele estava sem os remédios para controlar a pressão alta. A equipe entregou uma cartela da medicação e uma receita para que ele possa comparecer a uma unidade de saúde e manter o tratamento.
O enfermeiro Rodrigo Silva leva nas saídas uma maleta com medicamentos, equipamentos para verificar pressão e glicemia, testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis e material para curativos. O servidor também faz esclarecimentos sobre a importância da vacinação e, em caso de necessidade, o encaminhamento para as unidades da rede da Secretaria de Saúde.
“Entre as principais ocorrências estão problemas de pele, problemas respiratórios, dores no estômago e questões de saúde mental”, conta. Por isso, dos três membros da equipe que foi até a Rodoviária, uma delas era uma psicóloga.
“Não necessariamente quem está na rua tem transtorno mental, mas a situação torna a pessoa mais vulnerável”, explica Luciana Bayeh, que tem 12 anos de experiência em atendimentos na Secretaria de Saúde, sendo três no Consultório de Rua. O papel dela no grupo é fazer uma escuta ativa, identificar situações, fazer intervenções psicológicas e, em caso de necessidade, encaminhar para as unidades que prestam o serviço de saúde mental.
“A empatia é importante para que a gente possa estabelecer uma comunicação não violenta”, completa a terceira componente do grupo, a assistente social Carolina Vaz. Ela tenta compreender as necessidades da população vulnerável e fazer a integração com as políticas de assistência promovidas pelo Governo do Distrito Federal e organizações da sociedade civil.
Na ação realizada na Rodoviária, o foco foi um grupo de imigrantes que não apresentavam queixas imediatas de saúde, mas não conseguiam iniciar a busca por emprego ou por abrigo. A solução adotada foi um contato com o Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas), oferecido pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) em parceria com o Instituto Ipês para incluir populações vulneráveis nas políticas públicas de justiça, educação e assistência social, dentre outras.
Busca ativa
A Secretaria de Saúde possui três equipes do Consultório na Rua. Elas são vinculadas às unidades básicas de saúde (UBSs) 1 da Asa Sul, 5 de Taguatinga e 5 de Ceilândia. Cada uma atua em regiões distintas do Distrito Federal e faz uma interface com os serviços oferecidos nas UBS.
O trabalho é classificado como uma busca ativa. “Isso não quer dizer que a pessoa em situação de rua não possa procurar uma UBS diretamente. Elas têm o direito de atenção à saúde”, afirma a diretora de Áreas Estratégicas da Atenção Primária, Juliana Félix.
De acordo com a demanda, as equipes podem ser reforçadas para atender um número maior de pessoas. Já os locais para atuação de cada Consultório na Rua são selecionados conforme informações das próprias equipes e de organizações governamentais e do terceiro setor.