Covid-19: meias paredes não impedem o vírus



Por Dr. Gutemberg

Em uma vistoria feita no Hospital da Região Leste (HRL), no Paranoá, na última quinta-feira, verificamos que o isolamento para pacientes de covid-19 internados na emergência da unidade ainda tem falhas. Até aquele dia, as enfermarias de adultos e crianças internados por outras doenças era separada da internação por covid-19 por uma meia parede, que não vai até o teto.

E lá se vão mais de 100 dias desde o primeiro caso de covid-19 diagnosticado no Distrito Federal, com 30 mil casos diagnosticados.

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Na China, entre os dias 23 de janeiro e 3 de fevereiro, foi erguido do nada e entrou em funcionamento o Hospital de Huoshenshan, em Wuhan, com 400 leitos com todo o suporte. O nosso HRL tem 13 leitos e não tem condição de dar assistência a pacientes graves. E não é o único. A condição desse hospital não é muito diferente das demais unidades de saúde do Distrito Federal, nas quais os espaços de isolamento e o fluxo de pacientes entre áreas contaminadas e livres do novo coronavírus continuam sendo inadequados. Algumas obras foram feitas para adaptar espaços, mas nem tudo foi concluído.

O próprio hospital de campanha do Estádio Nacional Mané Garrincha teve obras iniciadas em 11 de abril e começou a funcionar em 22 de maio, com apenas metade da capacidade. Um projeto com apenas 24 dos 197 leitos com respiradores, apesar de a necessidade de mais desses equipamentos ser patente. Neste caso o amadorismo se mostra na elaboração e aprovação do projeto.

Amadorismo, improvisação e demora têm sido as marcas na maioria das ações de enfrentamento à pandemia da covid-19 no Distrito Federal a cargo da Secretaria de Estado de Saúde. Não fosse o isolamento social e o fechamento do comércio decretados precocemente, o esperado colapso do sistema de saúde do DF já teria ocorrido.

Agora, com a retomada da atividade econômica, não há mais tempo para isso. As adaptações têm que ser concluídas em todas as unidades de saúde – tanto as adequações estruturais para áreas de isolamento e o mapeamento de fluxo de pacientes quanto as ações para capacitar e garantir a segurança das equipes de profissionais de saúde: treinamento, testagem e fornecimento de material de proteção individual com quantidade e qualidade necessárias.

Em todas as unidades de saúde circulam portadores do novo coronavírus, sintomáticos ou não. E todos os hospitais e UPAs terão leitos ocupados por pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Alguns fatos indicam, no entanto, que a máquina da saúde ainda emperra: os testes quinzenais dos profissionais de saúde não estão sendo feitos, apesar de serem previstos em lei; os serviços de limpeza predial das unidades de saúde não foram reforçados e até pioraram depois da mudança da empresa que presta o serviço.

Os profissionais de saúde estão cada vez mais sob pressão, com o aumento dos casos de contaminação (tanto de pacientes quanto entre os profissionais de saúde) e remanejamento para atuação sem treinamento em atividades com que não estão habituados. Esse esforço tem que ter contrapartida à altura das autoridades.

Os passos primordiais a serem dados nesse sentido são a conclusão das adaptações pendentes, a regularização do fornecimento dos equipamentos de proteção individual, a cobrança por melhoria nos serviços terceirizados de limpeza, a regularidade na testagem dos profissionais de saúde e o devido ajuste no percentual da gratificação de insalubridade.

Dr. Gutemberg é médico, advogado,
presidente da Federação Nacional dos Médicos
e do Sindicato dos Médicos do DF



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