Crias de Bolsonaro? Profissionais de saúde negacionistas decidem não se vacinar contra a Covid

Mesmo atuando em hospitais e outras unidades de saúde, alguns funcionários da área creem em boatos contra vacinas e recusam imunização



Por Judite Cypreste

Pedro Alberto tem 46 anos e trabalha como técnico em imobilização ortopédica em um hospital particular na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Pela profissão e pela idade, ele já deveria ter tomado ao menos a primeira dose de alguma das vacinas contra o coronavírus em uso no país. Pedro, contudo, não tomou – porque não quis.

Ele trabalha na área há quatro anos. Antes, serviu ao Exército. Pelo telefone, o profissional da saúde disse que se negava a tomar a vacina, por diversas razões. Dentre elas, a de que não confiava na eficácia de nenhum dos imunizantes disponíveis hoje — Coronavac, AstraZeneca e Pfizer.

Apesar dos diversos testes publicados, revisados por cientistas nacionais e internacionais, e a autorização da Anvisa, agência responsável pela autorização das vacinas no país, Pedro não acredita na eficácia dos imunizantes.

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“Por que vou tomar vacina se existe um medicamento recomendado pelo presidente da República?”, questionou, em referência à cloroquina, medicamento cujo uso é incansavelmente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), embora não tenha eficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19.

Para ele, todo esforço nacional pela vacinação não passa de uma “armação para se gastar mais recursos públicos”.

“Para que gastaram tanto dinheiro com vacinas? O (presidente) Bolsonaro já viu com médicos que a cloroquina é eficaz. Diversas autoridades e pessoas públicas tomaram quando pegaram Covid e se curaram”, fala Pedro, que aceitou conversar com a reportagem, contanto que não fosse identificado por todo o nome.

Pedro faz parte de um grupo de profissionais de saúde que se nega a tomar a vacina, mesmo trabalhando diariamente atendendo a milhares de pessoas em hospitais e assistindo de perto à triste realidade do avanço da Covid-19 no país.

O Ministério da Saúde e entidades afins não têm dados oficiais sobre a quantidade de profissionais da categoria que já se negaram a tomar algum dos imunizantes. Os casos de trabalhadores da área que se recusam a ser vacinados, entretanto, têm aumentado, cada vez mais, em todo o país – e, consequentemente, as mortes também.

No Hospital da Zona Sul de Londrina, localizado no Paraná, 10 dos 400 funcionários se recusaram a tomar a imunização. Dois deles morreram após contraírem o coronavírus. A técnica de enfermagem Angela Marques, de 54 anos, e o auxiliar administrativo na enfermaria Jeferson Alves da Costa, 34, não resistiram à doença.

Em Alagoas, a enfermeira Priscila Veríssimo, de 35 anos, morreu em fevereiro deste ano, após ter sido contaminada pela segunda vez. Ela também se negou a tomar a vacina.

O Ministério da Saúde diz, em nota, que trabalha para reforçar “a importância da vacinação para Covid-19 e orienta para que as pessoas que fazem parte do público prioritário da campanha busquem os postos de vacinação”.

Em plenário, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em dezembro, por unanimidade, que quem optar por não receber as doses da vacina contra a Covid-19 deverá sofrer punições ou medidas restritivas.

Para Pedro, contudo, a obrigatoriedade imposta pelo STF não o impele a se imunizar: “Não tomaria e pediria para me demitir”, disse, ao ser questionado se colocaria o emprego em risco, caso o hospital condicionasse sua permanência no posto de trabalho à vacinação.

Última pesquisa divulgada pelo Datafolha mostra que apenas 8% dos brasileiros não pretendem se imunizar; por outro lado, 91% da população manifestam-se a favor da vacinação; 1% preferiu não opinar.

Thaluana Alves, advogada especialista em direito do trabalho e direito empresarial, afirma que, neste caso, a demissão se enquadraria em uma justa causa.

“Não existe a opção de não se vacinar. Ele pode prejudicar a coletividade pública. Poderá ser demitido com base no artigo 482 da CLT: incontinência de conduta e perda dos requisitos estabelecidos para o exercício da profissão”, explica Thaluana.

Uma auxiliar de limpeza foi demitida, por justa causa, de um hospital em São Caetano do Sul, no ABC paulista, após recusar-se a tomar a vacina. A funcionária tentou recorrer da decisão, mas não teve sucesso.

Para a juíza do caso, “a necessidade de promover e proteger a saúde de todos os trabalhadores e pacientes do hospital, bem como de toda a população, deve se sobrepor ao direito individual da autora em se abster de cumprir a obrigação de ser vacinada”.

Pedro Alberto, entretanto, diz que abriria mão e se vacinaria em apenas uma hipótese: a de garantia do governo federal de que os imunizantes funcionam.

“Se o governo federal se responsabilizasse, garantisse a eficácia, aí, sim, eu tomaria a vacina. Aí, sim, seria confiável”, conclui.



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FONTEMetrópoles
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