Dia Mundial Sem Tabaco alerta para riscos de novas formas de fumar

Secretaria de Saúde oferece tratamento para dependentes do cigarro; nova preocupação é aumento do uso do narguilé e de dispositivos eletrônicos



Era para ter sido só uma brincadeira. Andreana de Jesus estava com 29 anos quando segurou o cigarro de uma amiga e tragou algumas vezes por pura diversão. “Eu fazia triatlo e tive que parar tudo por causa do cigarro. Fumei por mais de 20 anos e tive muitos problemas”, conta. Neste 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco, ela comemora os dois anos livre do vício e deixa o alerta: “Pare de fumar! Esse hábito traz muitas doenças e problemas na vida da gente. Destrói não só você, mas a sua família também”.

Paciente do Programa de Controle do Tabagismo, Andreana de Jesus está há dois anos sem fumar | Fotos: Sandro Araújo/Agência Saúde

Para a médica pneumologista Nancilene Melo, histórias como a de Andreana têm se repetido diariamente, porém, com uma mudança: novas formas de fumar. “Infelizmente, um número significativo de pessoas acha que utilizar dispositivos eletrônicos não corresponde a fumar. Ledo engano. Mesmo naqueles dispositivos que se dizem sem nicotina há uma série de substâncias capazes de fazer mal ao organismo”, reforça.

Quem usa o narguilé acaba exposto a substâncias como benzeno, arsênico e chumbo contidos no tabaco, além de substâncias existentes no carvão utilizado. O volume de vapor, na verdade aerossóis, de uma rodada de narguilé de cerca de uma hora é equivalente ao de 100 cigarros tradicionais

O novo cenário do tabagismo já tem impactado os atendimentos diários da Secretaria de Saúde (SES). “Tanto mães como os próprios adolescentes têm trazido os pacientes aqui para pararem de fumar, porque sabemos que hoje há essa onda dos pods, dos vapers, e a meninada assume essa tecnologia com a maior naturalidade”, revela o médico Francisco Leal, da policlínica de Taguatinga.

Publicidade

Do ponto de vista químico, o uso de narguilé ou de dispositivos eletrônicos é tão prejudicial quanto os cigarros tradicionais, quando não é pior. Foram identificadas substâncias como o sal de nicotina, que apresenta absorção mais rápida e quatro vezes mais potencial de causar dependência química frente à nicotina da folha do tabaco. Metais pesados, aditivos da indústria alimentícia e outros componentes cancerígenos fazem parte das misturas inaladas por meio dos dispositivos eletrônicos.

Já quem usa o narguilé acaba exposto a substâncias como benzeno, arsênico e chumbo contidos no tabaco, além de substâncias existentes no carvão utilizado. O volume de vapor, na verdade aerossóis, de uma rodada de narguilé de cerca de uma hora é equivalente ao de 100 cigarros tradicionais. “Se formos ver do ponto de vista técnico da biologia daquele processo, o narguilé é muito mais prejudicial do que o cigarro convencional”, resume Francisco.

Há a preocupação também pelo uso combinado. De acordo com Nancilene, tem se tornado comum o relato de jovens que iniciam o uso com narguilé ou dispositivos eletrônicos. Iniciada a dependência de nicotina, contudo, eles passam a utilizar o cigarro tradicional, por ser mais barato. “O indivíduo termina por manter os dois usos. É assustador”, revela.

Tratamento multidisciplinar

Não há medicações 100% eficazes contra o tabagismo. Ansiolíticos, antidepressivos e adesivos são considerados auxiliares, mas o processo exige uma abordagem multidisciplinar. “O tratamento do tabagismo feito na SES é voltado, principalmente, para o cognitivo comportamental. É uma questão de hábitos. Não adianta tratar somente a parte química, pois se a pessoa continuar com aquele hábito, ela vai retornar à dependência, ao vício”, explica o assistente social Saulo de Oliveira, da Gerência de Vigilância Epidemiológica de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde da SES.

“Eu só parei quando fui internado e me falaram que estava com enfisema pulmonar”, conta José Pereira Barbosa, de 68 anos

Os pacientes concordam. “Já faz 90 dias que estou sem fumar. São quatro anos tentando. Não é um vício fácil, mas a SES dá esse suporte para quem quer realmente parar de fumar. Acho que o tratamento é bem corretivo e a gente tem que querer”, opina Tânia Paula Garfez, 53 anos, fumante desde os 16 e atualmente em acompanhamento na policlínica de Taguatinga.

A decisão de parar, porém, quase sempre vem em um momento de choque. “Eu só parei quando fui internado e me falaram que estava com enfisema pulmonar”, conta o paciente José Pereira Barbosa, 68.

A taxa de pacientes que realmente conseguem parar de fumar é de 30%. Geralmente, são três tentativas frustradas antes do sucesso. O primeiro passo é o Teste de Fagerström, que avalia a dependência de nicotina de cada pessoa. Depois, são iniciados os trabalhos em grupo e o acompanhamento com profissionais da SES, entre médicos, psicólogos, enfermeiros e até assistentes sociais.

Somente em 2022, foram 1.467 pessoas tratadas na rede pública, sendo 636 homens e 831 mulheres. Apesar delas serem a maioria no tratamento, há cerca de três homens com o vício no Distrito Federal para cada mulher tabagista. Em números gerais, a Subsecretaria de Vigilância à Saúde estima em 11,8% da população com o hábito, classificado como uma doença.

Onde procurar ajuda

A porta de entrada para o tratamento é a Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência, conforme o endereço residencial. Nesses locais, é possível solicitar o acompanhamento multiprofissional e, se necessário, o encaminhamento a especialistas. Para saber a UBS de referência, acesse o site da SES e preencha o CEP.



Política Distrital nas redes sociais? Curta e Siga em:
YouTube | Instagram | Facebook | Twitter










FONTEAgência Brasília
Artigo anteriorHemocentro Brasília deve lançar campanha para incentivar doação regular de sangue
Próximo artigoEquipe da UBS 2 de Taguatinga faz apresentação contra o tabagismo