Dieta cetogênica traz esperança a crianças com epilepsia refratária

Referência no atendimento a pacientes epilépticos, o Hmib tem o primeiro ambulatório da rede pública especializado em um cardápio rico em gorduras benéficas para o tratamento da enfermidade



“Meu filho sofre com epilepsia desde que nasceu e aos três meses começou o tratamento. Ele era uma criança que passava quase o dia todo dormindo devido à medicação. Não participava de nada, só acordava para comer e tinha muitas crises por dia. Agora, ele já consegue ficar mais tempo acordado, interage, brinca, fica sentado”, afirma Gleice Souza, mãe do adolescente de 15 anos Gustavo Souza.

A melhora de Gustavo não é por acaso. Há um mês, ele adotou a alimentação cetogênica como forma de tratamento para a epilepsia refratária (resistente a medicamentos). O serviço oferecido no ambulatório de dieta cetogênica do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) – referência no cuidado a crianças epilépticas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – consiste em prescrever um cardápio rico em gorduras, baixo em carboidratos e adequado em proteínas.

Gleice Souza (E) relata que, há um mês, seu filho Gustavo, 15 anos, adotou a alimentação cetogênica: “Agora, ele já consegue ficar mais tempo acordado, interage, brinca, fica sentado” | Fotos: Sandro Araújo/Agência Saúde DF

A dieta proposta contribui para a redução das convulsões em indivíduos com epilepsia de difícil controle medicamentoso. Cada escolha é feita por uma equipe treinada, composta por neuropediatra e nutricionista, e baseada nas necessidades do paciente, considerando seu estado nutricional.

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Gleice revela que ela e o filho tiveram dificuldades no começo, devido ao novo cardápio e à rotina que envolve pesar e catalogar todos os alimentos usados no preparo das refeições. Em acréscimo, Gustavo passa diariamente por aferições da cetose – um processo natural do organismo que produz energia a partir da gordura quando há pouca ingestão de carboidratos.

Mesmo com as mudanças iniciais, Gleice aprova a terapia: “Hoje o Gustavo está bem adaptado e melhorando a cada dia. Estou amando o tratamento! Tenho esperança de que ele pare de ter crises e descontinue o medicamento”, conta.

A coordenadora do ambulatório do Hmib, Ludmila Uchoa, destaca que, ao final do tratamento de dois a três anos, o paciente volta à vida normal: “O esperado é que, após esse período, haja uma redução superior a 50% das crises”

Cardápio personalizado

A nutricionista-chefe do ambulatório Dieta Cetogênica do Hmib, Giselle Xavier, esclarece que há uma preocupação em propor alimentos saudáveis e com um custo acessível aos pacientes do SUS. “Quando se fala em gordura, é muito comum citar bacon, alimentos processados ou carne. Na dieta cetogênica, buscamos receitar abacate, azeite, ovos, castanhas, isto é, gorduras benéficas”, explica. “Também disponibilizamos gratuitamente fórmula pronta para complemento da dieta, por meio do PTNED [Programa de Terapia Nutricional Enteral Domiciliar]”, complementa.

Para que haja uma melhor adaptação do organismo ao novo paladar e ao metabolismo, o cardápio é aplicado gradativamente. “O mesmo é feito ao final da terapia”, destaca a coordenadora do ambulatório do Hmib, Ludmila Uchoa.

Ela enfatiza ainda que o tratamento não é permanente, durando de dois a três anos. “Ao final, o paciente volta a sua vida normal. O esperado é que, após esse período, haja uma redução superior a 50% das crises. Esse resultado ocorre em mais da metade das crianças”, relata a coordenadora. “Temos casos de crianças que nunca mais usaram remédios nem tiveram crises.”

Criado em 2016, o ambulatório de Dieta Cetogênica do Hmib já atendeu mais de 100 pacientes. Qualquer criança pode ter acesso ao serviço, desde que encaminhada por um neuropediatra da rede pública. Os atendimentos ocorrem toda quarta-feira, das 13h às 18h.

Março Roxo

A campanha Março Roxo tem como objetivo conscientizar a população sobre a epilepsia e combater o preconceito que as vítimas da síndrome sofrem. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a epilepsia atinge mais de 50 milhões de pessoas no mundo. A entidade estima que, se houver diagnóstico e tratamento corretos, 70% das pessoas podem ficar livres das crises.



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