Doenças evitadas com imunização não apresentam recuo nos últimos anos no DF



Para agravar a situação, o estoque de vacinas, tanto na rede pública quanto na privada, está zerado

Antes mesmo de os filhos nascerem, os pais têm inimigos declarados. As doenças imunopreveníveis, como gripe, diarreia, sarampo, catapora, meningite, coqueluche, entre outras, exigem atenção redobrada na prevenção e no tratamento rápido nos casos de infecção. Na capital federal, os índices, apesar de estáveis, não demonstram recuo nos últimos anos, na contramão do cenário nacional. Pelo menos cinco crianças morreram vítimas DE UMA dessas patologias este ano. A vacinação é a forma mais adequada de combate. Contudo, a imunização está prejudicada, como o Correio informou na edição de sexta-feira. Dos 22 casos confirmados de gripe até setembro, por exemplo, 17 foram em crianças menores de 1 ano. Em 10 casos, os pacientes necessitaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Um não resistiu às complicações e morreu.

Nos 215 casos notificados de coqueluche, 71,3% eram de crianças menores de 1 ano, segundo informações da Secretaria de Saúde. A pentavalente, vacina para a doença, está em falta desde janeiro. As crianças devem tomar três doses no primeiro ano de vida. Contudo, Heitor Coser, 6 meses, ainda não tomou nenhuma. A mãe do menino, a professora Luciana Inez Coser, 41, tentou a imunização nas redes pública e privada, mas não conseguiu. “Fico bastante preocupada. Esse é um serviço básico e que previne uma série de problemas”, reclamou a moradora de Taguatinga. Pelo calendário de vacinação, Heitor deveria ter tomado todas as doses da pentavalente, uma vez que ela é ministrada aos 2, 4 e 6 meses de vida. A filha mais velha de Luciana, Isadora, de 2 anos e meio, está com o cartão de vacinação em dia.

Um bebê de apenas 17 dias morreu, em março, vítima de coqueluche. “Enquanto no Brasil se observou uma redução importante na incidência da coqueluche em número de casos por habitante, no Distrito Federal, não foi observada essa tendência”, registra o Boletim Epidemiológico de Doenças Imunopreveníveis da Secretaria de Saúde. A justificativa seriam problemas no diagnóstico. “A manutenção da incidência da doença na população geral está ligada ao diagnóstico da doença que não é realizado”, diz o texto.

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Na capital federal, 47 crianças menores de 1 ano tiveram algum tipo de meningite. Seis apresentaram a forma mais grave: doença meningocócica (Leia quadro). Ao todo, três morreram. Apesar de a maior parcela dos casos não ter especificação do tipo de contágio, o boletim emitido pelo governo garante que nos últimos anos houve redução da variação mais letal. No ano passado, ocorreram 13 casos e seis mortes. “A doença está controlada. Pelo menos nos últimos 10 anos não houve surto no Distrito Federal”, informou, em nota, a Secretaria de Saúde.

Análise
A Pastoral da Criança acredita que os problemas estão ligados ao monitoramento das doenças. A permanência dos índices, segundo a entidade, deve ser estudado para se conhecer onde estão havendo falhas. “Analisar as evidências é essencial para saber a razão do não recuo das doenças nessa faixa etária. Essas questões podem haver com o fluxo migratório, o relaxamento da sociedade com os cuidados com higiene e até mesmo a baixa disponibilidade de vacina”, defendeu o gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur (leia Três perguntas para).

Os hospitais públicos realizaram 45 internações por doenças infecciosas e febris. Destes, apenas 11 foram considerados casos suspeitos de sarampo, mas todos descartados — a maioria na faixa etária abaixo dos 5 anos. “Todas essas doenças são prevenidas com a imunização. Temos no Brasil parques de produção para todas as vacinas que estão em falta. O governo deve olhar esse quesito com prioridade. O Brasil tem o melhor plano de imunização pública do mundo. Quando esse problema começa se repetir, afeta a segurança da saúde pública”, ressalta o infectologista da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) Marcos Junqueira do Lago.

Entre 2010 e 2014, mais de 381 mil pessoas tiveram diarreia aguda — 14 crianças menores de 5 anos morreram. Até a primeira semana de setembro, a Secretaria de Saúde notificou 19.277 casos da doença, sendo 5.956 (30%) infantis. A forma mais comum de infecção é pelo consumo de alimentos e água contaminados por bactérias ou vírus. A fisioterapeuta Karlla Gertrudes, 36 anos, e o marido, Arédio Gertrudes, 36, evitam que Felipe, 2, consuma comida cuja procedência ou forma de acondicionamento seja duvidosa. “Não é nada neurótico, mas sim um cuidado especial. Se eu sei que estarei na rua com o Felipe na hora que avançar o almoço, levo a marmita com a refeição dele”, explica a mulher.

Balanço

» Gripe (Influenza)
74 notificações, 22 casos confirmados e uma morte

» Coqueluche
215 suspeitas, 80 casos confirmados e uma morte

» Sarampo e rubéola 11 suspeitas, nenhum caso confirmado

» Meningite
47 casos, 3 mortes

» Diarreia aguda
19.277 casos, nenhuma morte

» Catapora
654 casos notificados

Fique atento

Veja as diferenças entre as doenças que mais atingem crianças

Gripe
A influenza ou gripe é uma doença viral, altamente transmissível, que afeta principalmente o nariz, a garganta, a boca, os brônquios e os pulmões. A transmissão ocorre de pessoa para pessoa, por meio das vias respiratórias. A enfermidade dura cerca de uma semana, ocorre durante todo o ano, mas é mais frequente nos meses do outono e do inverno, quando as temperaturas caem. Pode haver complicações. Além de febre, tosse, dor de garganta, dor de cabeça e no corpo, a pessoa passa a apresentar dificuldades respiratórias.

Coqueluche
Causada pela Bordetella pertussis, é uma doença infecciosa aguda que compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e se caracteriza pela tosse seca. As complicações levam à morte. Uma das características da coqueluche é a ciclicidade, que corresponde a picos epidêmicos entre três e cinco anos. Seu contágio ocorre pela inalação das secreções respiratórias que o doente espalha pelo ar.

Meningite

Infecção das meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula), pode ser provocada por vírus, mas a forma mais comum é causada por uma bactéria — o meningococo. Os sintomas iniciais são febre alta, náuseas, vômitos e rigidez dos músculos da nuca. O doente não consegue encostar o queixo no peito e deve ser hospitalizado imediatamente, sendo submetido a tratamento por antibióticos. Como é transmitida por espirro, tosse ou fala, é importante a notificação à escola caso uma criança a contraia.

Sarampo e rubéola

O sarampo, assim como a rubéola, é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, transmissível e extremamente contagiosa, muito comum na infância. As manifestações iniciais são febre alta, tosse seca persistente, coriza e conjuntivite.
Segue-se o aparecimento de manchas avermelhadas. A maior parte de infecção por rubéola se dá durante a gestação. Pode causar aborto, morte fetal, parto prematuro e malformações congênitas, como catarata, glaucoma, surdez, cardiopatia congênita, entre outros.

Catapora
É uma das doenças mais comuns da infância. Causada por vírus, pode ser altamente contagiosa para aqueles que nunca foram acometidos antes ou para aqueles que não receberam a vacina. Caracteriza-se, principalmente, pelo surgimento de bolhas vermelhas na pele, espalhadas por todo o corpo, que causam coceira, além de febre e fraqueza. A catapora é causada pelo vírus Varicela-zóster e facilmente transmitida. O contágio acontece por meio do contato com o líquido da bolha, por tosse ou espirro. Mesmo aqueles que estão infectados e não apresentam os sintomas da doença podem transmiti-la. Quando alguém é infectado, a catapora leva de 10 a 21 dias para se manifestar.

Diarreia aguda
É uma síndrome clínica que se caracteriza por alterações de volume, consistência e frequência das fezes, podendo, frequentemente, ser acompanhada de vômitos, febre, cólica e dor abdominal, ou apresentar muco e sangue. Os transmissores mais comuns são bactérias, vírus e parasitas. A via de transmissão é orofecal, o que possibilita múltiplos veículos de transmissão, tais como os alimentos, a água e transmissão de pessoa a pessoa. Alguns agentes podem ser transmitidos por via respiratória, fixando-se, posteriormente, no trato gastrintestinal. Atinge principalmente crianças menores de 5 anos.

Fonte: Correio Braziliense



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