Novo modelo de gestão entra em operação no próximo dia 15. Sindicatos ironizam os objetivos anunciados por diretor da unidade
Por Isadora Teixeira
O Instituto Hospital de Base do Distrito Federal (IHBDF) começa a funcionar, oficialmente, em 15 de janeiro, a próxima segunda-feira. A nova gestão traçou uma meta ambiciosa para 2018: aumentar a produtividade em 20%, a partir da média dos últimos três anos.
Devem ser realizadas, por exemplo, ao menos 290.193 consultas médicas especializadas e 9.223 cirurgias. O Conselho de Administração promete mais e quer reabrir, neste primeiro semestre, 117 leitos – 107 de enfermaria e 10 da unidade de terapia intensiva (UTI). O orçamento, porém, é o mesmo de 2016: há R$ 602 milhões disponíveis para manter a maior unidade de saúde pública da capital federal.
As projeções estão descritas no Contrato de Gestão, aprovado no último dia 4 pelo colegiado. Após ser assinado, o documento entra em vigor na segunda (15/1), conforme antecipou ao Metrópoles o diretor do Hospital de Base e futuro diretor-presidente do IHBDF, Ismael Alexandrino.
Mesmo que o gestor consiga cumprir apenas parte da meta, a melhora será um alento para quem depende do Hospital de Base. Mas representantes de entidades profissionais veem com descrença os planos traçados por Ismael Alexandrino.
Críticas
Os objetivos para o primeiro ano de funcionamento do IHBDF são classificados como “piada” pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho. “É para rir, né?! Para aumentar em 20% as cirurgias, basta disponibilizar salas com equipamentos. Sobre os leitos, é só contratar mais profissionais e fazer a manutenção”, dispara.
Vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal (Sindate-DF), Jorge Vianna acredita que a produtividade poderia ser maior. Para ele, após todo o “desgaste” entre governo e entidades sindicais durante a tramitação do projeto de lei que instituiu o IHBDF, os avanços poderiam ser mais significativos. “As metas deveriam ser aumentadas em pelo menos 50%”, diz.
O diretor do Hospital de Base, no entanto, rebate as críticas: nos moldes comuns, a burocracia atrasa compras e contratações, afetando a oferta de serviço, de acordo com ele. “O novo processo é bem mais simplificado. Eu não tenho qualquer dúvida que o nosso instituto prestará um trabalho muito melhor à população”, defende.
Para a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde), Marli Rodrigues, no entanto, o “afrouxamento” nos processos que despendem recursos abre brecha para corrupção.
Vão atuar apenas para garantir compras sem licitação e contratar funcionários sem concurso público“
O hospital continuará com o mesmo escopo de atendimento: público e gratuito, segundo Ismael Alexandrino. Sobre a admissão de novos profissionais e aquisição de insumos, ele explica que, na verdade, haverá mais rigor. “No concurso, você faz uma prova e entra. No nosso modelo, estão previstas ao menos duas etapas diferentes. Todas as ações serão publicizadas.”
Ao longo de 2018, em torno de 1 mil profissionais devem ser contratados por meio do regime CLT, revelou o diretor do Hospital de Base.
Servidores de saída
Dos servidores hoje lotados na unidade, 15,4% manifestaram à Secretaria de Saúde do Distrito Federal que não querem permanecer no local quando o instituto passar a gerir o hospital.
No total, 501 dos 3.236 profissionais devem ser remanejados para outros locais de trabalho. A maioria é composta por técnicos em enfermagem: 250 pessoas da categoria querem ser transferidas, de acordo com Ismael Alexandrino.
Esse foi o segundo questionário feito pela Secretaria de Saúde. No primeiro, o percentual de funcionários que desejavam se desligar era maior: em torno de 21%. A transferência, porém, será gradativa, de acordo com o diretor do Base.
A motivação para os servidores deixarem o hospital é a oportunidade de trabalhar perto de casa, afirma o vice-presidente do Sindate. “Quando entramos no serviço público, fazemos a opção para onde queremos ir, mas nos mandam para um lugar que não tem nada a ver. Essa é a chance deles.”
Fonte: Metrópoles