No último dia 26 de março, o Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), gerenciado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), realizou a primeira trombectomia mecânica (TM) para tratamento de Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, através dos serviços de Neurologia e Neurocirurgia do hospital, totalmente custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Distrito Federal. O procedimento já havia sido feito no âmbito do SUS-DF como parte de estudos clínicos, contudo, o HUB-UnB foi o primeiro hospital público da região a oferecê-lo para a população geral.
Eram 10h da manhã quando Celim Batista de Souza, produtor rural no Projeto de Assentamento de Vigilândia-GO, começou a passar mal em casa, no Riacho Fundo II.
“Ele perdeu as forças nas pernas, ficou com o rosto desfigurado, teve sudorese e também tinha a fala embolada”, lembra a esposa, Maria Luísa Vasconcelos, que o levou para atendimento de emergência na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Riacho Fundo II. “Falei sobre os sintomas dele com a médica, e ela o encaminhou direto para o HUB, para onde fomos levados numa ambulância do SAMU [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]. No hospital, veio o diagnóstico de AVC isquêmico”, relata Maria Luísa.
De acordo com a médica Márcia Silva Santos Neiva, neurologista do HUB-UnB e uma das responsáveis pelo procedimento, Celim passou por uma tomografia do crânio, que identificou um coágulo na cabeça, na primeira porção da artéria cerebral média. “Considera-se elegível para o procedimento de trombectomia mecânica o paciente com AVC isquêmico, que tenha um coágulo numa artéria da cabeça ou do pescoço”, assinala.
Noel Schechtman, neurocirurgião do HUB-UnB que realizou a TM, explica que o procedimento é utilizado para remover um coágulo de sangue que está bloqueando uma artéria no cérebro, causando um AVC isquêmico, e é um tratamento que pode reduzir sequelas e melhorar a qualidade de vida do paciente após um AVC.
“A TM começa com a inserção de um cateter, que é um tubo fino, em uma artéria, geralmente na virilha ou no braço. Esse cateter é guiado até o cérebro por meio de imagens médicas em tempo real. Quando chega ao local do coágulo, um dispositivo especial, como um stent ou um cateter de aspiração, é usado para capturá-lo e retirá-lo, restaurando o fluxo sanguíneo. A trombectomia deve ser feita o mais rápido possível para aumentar as chances de recuperação”, esclarece o médico.
O procedimento começou por volta de 13h, com a colaboração de uma equipe multidisciplinar, e levou cerca de uma hora. Em seguida, Celim foi encaminhado para um leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde recebeu todos os cuidados necessários. Depois, foi encaminhado para a enfermaria da Unidade de Clínica Médica, onde está sendo acompanhado pela equipe de Neurologia do HUB-UnB.
Na manhã de quarta-feira (2/4), o paciente passou por uma reavaliação, e as notícias não poderiam ser melhores: “Ele ficou sem nenhum déficit. Fala normalmente, está caminhando, come sozinho, toma banho sozinho. Então, o procedimento teve um sucesso muito grande, porque o paciente ficou funcional. Sem sequelas, ele vai levar uma vida praticamente normal”, avalia Márcia.
“Eu estou bem, já me sinto normal”, confirma Celim, acomodado na enfermaria que compartilha com outros dois pacientes. “Minha recuperação está correndo bem. Agora, só quero voltar para a roça”, comemora, ansioso para retomar o trabalho na chácara da família em Vigilândia, onde cria gado.
Para Márcia, é de grande importância que a trombectomia mecânica seja disponibilizada no SUS: “Pacientes com coágulos numa região próxima da cabeça ou do pescoço são pacientes que tiveram AVCs muito graves, grandes e extensos. Antes da trombectomia, a gente não tinha muita coisa para fazer por esses pacientes. Eles eram pacientes que saíam muito sequelados ou morriam. Então, disponibilizar esse tipo de tratamento no SUS envolve uma série de benefícios. Pacientes que receberiam alta com muitas sequelas, ou que morreriam, deixam de receber alta dessa maneira, têm chance de voltar para casa, voltar para o trabalho, então é um impacto social muito grande”.
Noel completa: “A trombectomia mecânica para AVC é um tratamento que pode salvar vidas. Os primeiros estudos científicos que comprovaram a eficácia do tratamento foram publicados em 2015 e, desde 2021, este procedimento foi incorporado como tecnologia no SUS pelo Ministério da Saúde. Porém há dificuldades para disponibilizar o procedimento de forma geral para a população, devido à estrutura e insumos necessários, que são caros. Conseguir oferecer a possibilidade da trombectomia mecânica aos pacientes com AVC isquêmico agudo pode fazer uma enorme diferença para o paciente”, conclui o neurocirurgião.
Rede Ebserh
O HUB-Unb faz parte da Rede Ebserh desde janeiro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.