Economia: Tarcisio de Freitas entre contradições e desejos estranhos aos brasileiros

Por Kleber Karpov

Durante abertura do Arko Conference 2025, nesta sexta-feira (28/Mar), no “Painel São Paulo e Ambiente de Investimentos” evento promovido pela operadora da bolsa de valores, Galápagos Capital, o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos/SP) falou sobre pacificação, isenção da taxação de imposto de rendas para quem recebe até cinco salários mínimos além de sugerir a adoção de práticas da gestão do presidente argentino Javier Milei no Brasil.

Pacificação

“A gente está preso sempre no mesmo assunto. O exemplo é o próprio julgamento do Bolsonaro. As redações estão se preparando para a cobertura e, a partir de agora, só vamos falar disso. […] Vamos ficar para trás mais uma vez. Se um evento acaba pautando o país durante anos, o que vamos ganhar com isso?”, afirmou.

Isenção de imposto de renda aos pobres

O evento chamou atenção também com a discordância de Freitas em relação a isenção de taxação de imposto de renda a pessoas com renda de até cinco salários mínimos. Sem citar nomes ou fazer referência direta nomes, Freitas classificou de manobra eleitoreira e equivocada, a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de abrir mão da arrecadação aos trabalhadores com renda de até R$ 5 mil mensais.

“A gente está vendo de fato uma antecipação de campanha e o governo federal movido pela campanha eleitoral e isso tem um determinado risco. E o risco é da gente tomar decisões que são erradas. E vejo algumas decisões que estão sendo tomadas com muita preocupação. Elas ão feitas baseadas em pesquisa: — Ah eu vejo esse grupo que estou perdendo tração e preciso ganhar tração nesse grupo que vai me dar potência eleitoral. Mas essa potência eleitoral vai custar caro para o Brasil. Quando você abre mão de uma base de pagantes relevantes e aí resolve fazer no seguinte: — Eu vou abrir mão dessa base que é o que todos os países fazem e vou apostar em outra coisa. Eu vou tributar o capital e o estoque de capital.“, disse Freitas.

As referências de Tarcísio ao aludir a destruição de poupança está relacionado ao fato de Lula abrir mão de arrecadar aproximadamente R$ 27 bilhões aos cofres públicos, segundo informações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Isso ao isentar os trabalhadores com salários até R$ 5 mil, de pagar imposto de renda.

Pelas regras atuais, quem recebe renda mensal acima de R$ 2.824 deve declarar Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). A tributação vai de 7,5% para tem renda de R$ 2.259,21 até R$ 2.826,65; de 15% de R$ 2.826,66 à R$ 3.751,05; de 22,5% para renda de R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 e 27,5% para renda acima de R$ 4.664,68, segundo dados do Ministério da Fazenda.

Taxação de Imposto de Renda aos ricos

Também nas referências a perdas à União, Tarcísio fez alusão, ao mencionar a destruição de poupança, o impacto com reflexos em redução de investimentos ou fuga de capital por parte de milionários, uma vez que para compensar as perdas com a isenção aos mais pobres, Lula propôs a taxação para as aproximadamente 141 mil pessoas mais ricas do país, com salários superior a R$ 600 mil ao ano, ao pagamento de cerca de 10% de impostos.

“Ou seja vou destruir poupança e vou impedir o investimento e aí é o contrato com o fracasso porque um país que está caminhando para a informalidade, a informalidade está muito alta em determinados estados. Tenho programas sociais explodindo aumentando o estoque como BPC [Benefício de Prestação Continuada], Bolsa Família, a gente não está dando porta de saída e emancipando ninguém e a gente vai ficar cada vez mais limitado.”, disse o governador.”, afirmou Freitas.

Mas na realidade

Para tristeza de Freitas, o governo federal anunciou nesta sexta-feira (28/Mar), a geração recorde de 431,9 mil postos de trabalho com carteira assinada em fevereiro, número esse, mais expressivo para o mês da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). O resultado é superior às 307 mil vagas de fevereiro de 2024, às 252 mil registradas no mesmo mês em 2023, às 353 mil de 2022, às 397 mil de 2021 e às 217 mil de 2020. Números esses, que refletem também na redução de utilização de programas sociais a exemplo do Bolsa Família, uma vez que beneficiários passaram a ter acesso a emprego.

Vale lembrar que há empresas, em especial do chamado ‘mercado’, a reclamar do baixo índice de desemprego no Brasil, atualmente com 7,5 milhões de desempregados. No trimestre encerrado em fevereiro de 2025, a taxa de desemprego de 6,8% foi a menor para o período em 11 anos, com registro de aumento de 1,3% na renda do trabalhador, também com recorde da série histórica, iniciada em 2012.

Outro ponto a chamar atenção no discurso de Freitas foi o elogio às políticas de arrocho econômico aplicadas por Javier Milei ao povo argentino. Segundo o governador de SP, a política econômica de austeridade fiscal, a sacrificar a população argentina, foi exitosa e deve ser replicada no Brasil.

“O Milei fez isso com muita propriedade na argentina. Ele comunicou que ia tomar medidas duras, na campanha, no discurso de posse, está tomando medidas duras. Se você me perguntar se é possível cortar 5% do PIB de despesa do Estado em um ano eu diria: — É impossível.  […] Mas ele está indo bem. Esta fazendo as reformas necessárias, começando a querer tirar a cabeça do buraco, a querer crescer, a inflação foi lá para baixo. OU seja, se ele está fazendo isso em uma situação muito mais complexa e está mostrando que é possível, porque a gente não vai fazer a mesma coisa? A gente vai ficar aqui parcando passo? Essa é a pergunta. Então tem que tomar muito cuidado quando a discussão é somente eleitoral, isso não vai levar a gente para lugar nenhum.”, taxou Freitas.

A fala de Freitas chamou atenção para além de ter derrubado o câmbio na Argentina, artificialmente e a base de intenso sacrifício ao levar 15,7 milhões de argentinos estão abaixo da linha da pobreza, ainda no primeiro semestre de 2024, equivalente a 52,9% da população, conforme aponta dados do Instituto Nacional de Estadística y Censos de Argentina (INDEC), ou ainda a 7,6% de desemprego no mesmo período.

Vale também observar que, também de acordo com o INDEC a Argentina estava com inflação de 211,4% em dezembro de 2023. Sob comando de Milei alcançou o pico de 289,4% em abril do ano seguinte e 193% em outubro de 2024.

Com a inflação controlada artificialmente e sem reserva de dólares a Argentina que injetou US$ 1,4 bilhão foi gasto para tentar acalmar o mercado de câmbio, publicitou nesta semana a tentativa de obtenção de um novo empréstimo no valor de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo apontou o diretor do Observatório da Dívida Pública Argentina, o historiador Alejandro Olmos Gaona. Atualmente, o país tem uma dívida de US$ 44 bilhões com o FMI.

Nas avaliação de Ganoa, tal recurso deve ser parte da necessidade do governo de manter um câmbio com valor artificialmente baixo por meio da venda de dólares no mercado. O país conta ainda com aporte financeiro de outros US$ 30 bilhões provenientes do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Corporação Andina de Fomento, totalizando cerca de US$ 50 bilhões.

Ao Brasil

Mas como bem ponderou Azevedo, ao Brasil, resta saber se o governador de São Paulo terá coragem de anunciar medidas a exemplo da suspensão de obras públicas cortes da Saúde, redução de subsídios aos setores de energia e transporte, redução “ao mínimo” das transferências discricionárias do Estado nacional para as províncias, e arrochos salariais, que pode levar até mais da metade da população brasileira à linha da pobreza.

Em tempo PDNews deixa a sugestão ao governador. Uma vez que Freitas está a exercer a função de chefe do Executivo da estado brasileiro mais rico, que tal utilizar São Paulo como cobaia. Afinal se as medidas de austeridade de Milei são corretas, certamente, se concorrer à presidência da República, em 2026, será eleito em primeiro turno.