O coordenador dos testes clínicos da terceira fase da Coronavac no DF, Gustavo Romero, defendeu maior agilidade na transferência de tecnologia para produção das vacinas no Brasil. Ele participou de audiência pública remota da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC) da Câmara Legislativa do Distrito Federal, na noite desta terça-feira (26). Segundo ele, os 5,4 mil litros do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) liberados pela China darão para produzir 8 milhões de doses, mas o Brasil poderia potencializar a produção se houvesse mais investimentos. “Nossas instituições centenárias têm capacidade para a produção de IFA aqui e de assumir uma liderança como a Índia e a China”, avaliou.
Diretor da Faculdade de Medicina da UnB, Romero explicou que a Coronavac utiliza o vírus desativado, “modelo clássico” que tem “perfil de segurança mais previsível”. O estudo no Brasil envolveu 12.500 participantes, 16 centros de pesquisa em oito unidades federativas, além do Butantan e organizações internacionais. No DF, foram 47 profissionais e 948 voluntários. A vacina apresentou eficácia de 100% nos casos graves e os efeitos colaterais mais importantes foram dor no local e cefaleia (dor de cabeça). Todos os participantes eram profissionais de saúde, com alto risco de exposição ao coronavírus.
Por ter sido liderado pelo setor público, segundo o professor, o estudo permitiu “lidar com a questão sem conflitos de interesses econômicos, o que deu mais transparência e tranquilidade na hora de divulgar resultados”. Assim, a decisão foi de considerar os casos leves na avaliação da eficácia geral, que ficou em 50,38%. O estudo apontou, segundo Romero, equivalência no resultado entre adultos e idosos. Mesmo com o sucesso da vacinação, ele frisou que ainda será “crucial manter o distanciamento e a proteção individual para diminuir o impacto da pandemia”, já que todos os imunizantes visam evitar os sintomas e não a infecção. Ele também criticou a estratégia de adiamento da segunda dose da vacina, o que seria “atropelar a evidência científica”.
Para a presidente da CESC, deputada Arlete Sampaio (PT), a Coronavac se destaca pela segurança, pelos efeitos colaterais sem gravidade e pelo baixo custo, “três fatores fundamentais para que uma vacina seja usada em massa”. Ela também enfatizou a importância da pesquisa e do financiamento voltado ao interesse coletivo: “São as instituições que o brasil construiu ao longo da história que estão tomando a frente no processo da vacinação”.
O deputado Leandro Grass (Rede), vice-presidente da CESC, parabenizou o professor pelo trabalho realizado e pelos resultados obtidos. “Nos anima e nos dá esperança saber do trabalho dos nossos pesquisadores, dos nossos cientistas, o papel do Butantan e da UNB”. O presidente da Comissão Especial da Vacina na CLDF, Fábio Felix (Psol), ressaltou o “duplo desafio” que é o de aumentar a produção da vacina e o de combater a desinformação. “Houve uma tentativa praticamente patrocinada por um setor do poder público federal de desqualificar a Coronavac”, criticou.
Vacina de Oxford – No dia 20, a CESC realizou audiência pública com o diretor do laboratório Bio-Manguinhos, que produz as vacinas da Fiocruz, Maurício Zuma. Na oportunidade, ele afirmou que o órgão terá capacidade de produzir 1,3 milhão de doses diárias, com compromisso de entregar até 100,4 milhões de doses no primeiro semestre deste ano e outros 110 milhões de doses no segundo semestre ao Sistema Único de Saúde (SUS). Ambas as audiências foram transmitidas ao vivo pela TV Web CLDF e pelo portal da Casa no YouTube.