Em depoimento, distritais responsabilizam GDF e Liliane Roriz por “emenda batizada”



Por Lilian Tahan e Guilherme Waltenberg

Em depoimentos prestados à força-tarefa que deflagrou na terça-feira (23/8) a Operação Drácon, os investigados atribuíram ao governo e à deputada Liliane Roriz (PTB) a responsabilidade pela destinação da emenda alvo do escândalo de corrupção descoberto a partir dos grampos envolvendo a Mesa Diretora da Câmara Legislativa.

O Metrópoles teve acesso aos seis depoimentos colhidos por policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) e integrantes do Grupo de Atuação Especial de Combate aos Crimes Organizados (Gaeco) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Todos foram realizados na manhã de terça-feira (23), logo após o cumprimento dos mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão na Casa e nos gabinetes dos investigados.

A maioria dos suspeitos de integrar o esquema envolvendo desvio de verbas de emenda da saúde narrou um enredo parecido aos policiais e promotores. Líder do governo até o início do escândalo dos grampos, o distrital Júlio César (PRB) disse, em seu depoimento, que a Câmara Legislativa teve de fazer uma correção no texto vetado pelo governador para constar que a emenda destinava-se ao pagamento de pessoal da UTI. “Não houve influência política para esta alteração. A destinação à área de UTI foi feita atendendo à demanda indicada pelo governador em função da crise da saúde, no ano de 2015.”

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Como exemplo de que essa seria uma prática recorrente do GDF, Julio César informou que, no dia anterior ao seu depoimento, teve uma reunião com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e que um dos assuntos foi justamente a questão das emendas parlamentares. Ele disse que o governador voltou a pedir que as emendas se destinassem à saúde. “Inclusive, o governador informou que colocaria seu secretário parlamentar, José Flávio, em contato com as assessorias dos parlamentares para proceder à indicação desses setores.” O parlamentar destacou que, apenas neste ano, já destinou R$ 2,5 milhões de suas emendas para o setor de oncologia, a pedido de Rollemberg.

Quem também devolveu a bola da emenda batizada para o governo foi o deputado Cristiano Araújo (PSD). “Cabe ao Executivo, de acordo com o seu programa de trabalho, decidir quem receberá a verba”, declarou o distrital. Segundo Cristiano, “no bojo do ajuste político com o Executivo para a destinação de sobras orçamentárias não é possível combinar quais empresas receberão os valores, pois os pagamentos seguem uma ordem cronológica que deve ser respeitada”.

Nos áudios gravados pela deputada Liliane Roriz, o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves sugere que Júlio César e Bispo Renato Andrade (PR) teriam cobrado do empresário Afonso Assad, da Associação Brasiliense de Construtores (Asbraco), um percentual para a liberação de emenda do interesse de Assad. Segundo é possível supor a partir das conversas grampeadas, como o empresário não aceitou participar do esquema, os deputados teriam se mobilizado para alterar a destinação da emenda, desta vez para o pagamento de empresas ligadas à saúde.

Nesse contexto, surge Cristiano Araújo, que teria, segundo os áudios, “arrumado a parceria com as UTIs” em um esquema no qual os deputados destinariam as sobras orçamentárias da Câmara. O valor, R$ 31 milhões, seria destinado a empresas ligadas à saúde, com o compromisso que elas retornassem aos parlamentares envolvidos um percentual entre 5% e 10% da verba liberada.

Deputados acusam algoz
Autora do depoimento mais extenso entre os investigados da Drácon, a presidente afastada da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), disse que o texto da emenda aprovada no plenário da Casa destinava toda a sobra orçamentária ao pagamento de pessoal da Secretaria de Saúde. E que a referida emenda aditiva, agora alvo de investigação, teria partido do gabinete da vice-presidência, à época exercida pela deputada Liliane.

Segundo Celina, ela foi procurada, “salvo engano, pela deputada Liliane Roriz ou por algum assessor da deputada, apresentando um projeto de lei com uma emenda aditiva, destinando sobras orçamentárias da CLDF”. Júlio César e Cristiano Araújo reforçaram diante das autoridades a versão de que a origem da emenda sob suspeita seria do gabinete de Liliane.

Em suas declarações à força-tarefa, Celina Leão ainda destacou que a sua relação com Liliane Roriz era conturbada. Ela contou que “Liliane Roriz sempre disputou politicamente” com ela e que a colega chegou a a se declarar sua “inimiga pessoal”.

Intensicare na mira
Todos os investigados foram questionados pelos promotores e policiais a respeito do grau de conhecimento deles sobre a atividade da Intensicare. Responsável pela gestão da UTI do Hospital Regional de Santa Maria, a empresa recebeu, nos últimos cinco anos, R$ 200 milhões em contratos com o GDF. A partir de denúncias de que a empresa estaria envolvida no suposto esquema de corrupção montado para desviar verbas da saúde local, a Intensicare entrou na mira dos investigadores.

Os depoentes também foram perguntados sobre a relação deles com o secretário executivo da Terceira Secretaria, Alexandre Cerqueira. Ele á apontado por testemunhas da denúncia ao Ministério Público como uma espécie de operador do esquema de corrupção supostamente montado pelos distritais. Os que responderam às perguntas dos investigadores negaram qualquer proximidade com Alexandre. E um dos depoentes que poderia dar detalhes sobre o papel do assessor na trama investigada pelos promotores e policiais manteve-se calado. Responsável pela indicação do assessor, o distrital Bispo Renato, assim como o seu subordinado, invocaram o direito de permanecerem em silêncio.

Dinheiro debaixo do banco
Entre as apreensões da Operação Drácon, está uma quantia de R$ 16 mil em espécie. O dinheiro vivo pertence ao deputado Cristiano Araújo. O valor foi encontrado embaixo do banco do Ford Fusion (carro oficial da Câmara) a serviço do parlamentar. Segundo o distrital disse em seu depoimento, “o montante havia sido recebido a título de subsídio do presente mês”.

Cristiano explicou às autoridades que tem o costume de sacar o seu salário em função de processos trabalhistas a que responde referentes à empresa da qual já foi sócio, a Vipasa. Segundo o deputado, ele teme que “uma eventual medida judicial pudesse incidir sobre sua conta bancária”. O parlamentar se comprometeu a apresentar o extrato provando o saque de seu salário.

Fonte: Metrópoles



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