Hospital de Base realizou sete deles desde março; três, em julho. Duas receptoras receberam o órgão do mesmo doador
Apesar das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19, o Hospital de Base realizou sete transplantes de rim desde março, sendo três deles apenas em julho. Duas mulheres receberam os órgãos de um mesmo doador e passaram a ser chamadas de “irmãs de rim”. Dividindo a mesma enfermaria, elas prometeram levar a relação para a vida.
As novas irmãs são Ana Carolina Silva Soares, 37 anos, que mora em Sobradinho, Distrito Federal, e Françoise Silva, 34 anos, residente em Catalão, Goiás. Apesar de nunca terem se visto antes, elas viveram o mesmo drama de ter que aguardar na fila por um transplante renal.
“Receber a doação de um rim foi um presente de Deus. Agora, posso continuar meus sonhos e continuar a viver. Também fiz uma nova irmã e com certeza vamos manter contato depois de sair do hospital”, contou Ana Carolina. A paciente fez hemodiálise dos 13 anos aos 23 anos, quando recebeu o primeiro transplante. Depois de alguns anos, o rim parou novamente de funcionar.
“Graças a Deus, agora, fui contemplada novamente. Eu tinha uma vida complicada, porque tinha que fazer hemodiálise três vezes por semana. Dá para viver, mas tem limitações. Eu ficava cansada, não podia beber muita água. É uma angústia todo dia esperar por um rim novo. Agora, será uma nova vida. A melhor parte vai ser beber água como uma pessoa normal faz em Brasília, onde o clima é uma secura”, disse.
Françoise, irmã de rim da Ana Carolina, conta que tinha diabetes desde os 15 anos anos, o que afetou os rins. Na fase adulta, quando veio uma gravidez, o problema agravou. “Desde então, tive que fazer hemodiálise. Eu fiquei desesperada. Tinha acabado de ganhar minha filha. Eu só pensava na minha filha”, lembrou a paciente.
Para ela, a notícia de que o transplante tinha sido liberado foi um milagre. “Desde o momento dessa ligação, Deus encaminhou tudo. Minha esperança agora é ter uma vida normal. Enquanto a gente está na hemodiálise, não vive. São três vezes por semana no hospital. Não pode sair. Não pode viajar. Agora, eu quero aproveitar a minha vida”, contou, ao dizer estar feliz por dividir o mesmo quarto com Ana.
Neste mês, Bruna Lorena da Silva, 25 anos, também foi contemplada com um rim novo. O problema renal começou aos oito anos e até os 15 anos fez tratamento para não perder o órgão, mas sem sucesso. Ela conseguiu o primeiro transplante aos 16 anos, ficou com o órgão quatro anos e depois teve rejeição.
“Quando recebi a ligação dizendo que fui novamente contemplada pela segunda vez fiquei sem acreditar. Não imaginei receber um órgão em meio à pandemia. Só na hora da cirurgia que a minha ficha caiu. Agora, vai mudar tudo. Não vou precisar ficar presa às máquinas. Agora, tenho novos planos. Meus planos são casar, morar na casa que comprei, trabalhar e viver minha vida normalmente”, finalizou a jovem.
O Hospital de Base, que é gerido pelo Instituto de Saúde do DF (Iges-DF), faz transplante de rins desde 1982. “Estamos nos esforçando para não parar. O transplante muda a vida dos nossos pacientes, melhora a qualidade de vida e a sobrevida. Também evita que saiam de casa para fazer hemodiálise”, ressaltou a médica nefrologista do HB Viviane Brandão.
A profissional explicou que a Central de Transplantes do DF, gerida pela Secretaria de Saúde, faz uma triagem detalhada dos possíveis doadores para captar órgãos em bom estado e encaminhar para o HB, que faz a cirurgia.
Os rins podem ser de doadores vivos ou que perderam a vida. “São feitos muitos exames. E agora, com a Covid-19, os pacientes passam por mais ainda, além tomografia de tórax, e ainda o deixamos isolados para que não se contaminem”, detalhou.
“O Iges-DF tem ofertado todo o suporte para que essas cirurgias sejam realizadas. Mesmo diante do cenário de pandemia”, lembra o diretor-presidente do Iges-DF, Sergio Costa.
Como doar
Há dois tipos de doadores. O primeiro é o vivo, que concorda com a doação de um dos seus rins ou parte do fígado, da medula óssea e parte do pulmão.
Nesses casos, geralmente, são parentes ou familiares que têm órgãos compatíveis com a pessoa que precisa receber. No caso da medula óssea, interessados podem se cadastrar na Fundação Hemocentro de Brasília para ser um candidato à doação.
O segundo tipo é o doador falecido, um paciente com diagnóstico de morte encefálica ou morte por parada cardíaca, com doação autorizada pela família.
Para ser doador, nos casos em que há morte, basta informar à família dessa vontade: somente familiares podem autorizar após o diagnóstico de morte encefálica ou parada cardíaca. No caso de morte encefálica, cada doador pode salvar até oito vidas.
Fonte: Agência Brasília