Por Fabiana Ceyhan
O 61º aniversário de Brasília oferece-me a agradável oportunidade de parabenizar as autoridades do Distrito Federal e também a sua população acolhedora. Esta simpática cidade tem algo em comum com meu país, a Argélia. São obras do arquiteto Oscar Niemeyer, considerado com o presidente Juscelino Kubitschek e o urbanista Lucio Costa os três padres de Brasília.
As relações entre a Argélia e o Brasil são excelentes e sempre se caracterizaram por uma profunda amizade e solidariedade. Não vos ensino nada de novo se vos disser que o Brasil estabeleceu um vínculo constante com o meu país graças, entre outros, ao trabalho do célebre e talentoso arquiteto brasileiro.
Seus trabalhos e suas obras ocupam, há que sublinhá-lo, um lugar especial no coração dos argelinos, são as melhores provas desses laços privilegiados que mantemos com o Brasil.
Convém recordar que, após a independência em 1962, a Argélia tornou-se uma terra de acolhimento e de asilo. É precisamente neste contexto que Oscar Niemeyer é solicitado pela Argélia. De fato, foi em 1968 que o presidente Houari Boumediene convocou Niemeyer – então exilado em Paris – para fazer trabalhos com vista a transformar a Argélia num país moderno e aberto ao mundo.
Entre 1968 e 1975, período em que esteve no meu país, este grande arquiteto brasileiro concebeu e concluiu quatro grandes projetos. Vale destacar que, além do Brasil, a Argélia é o país com mais obras de Oscar Niemeyer. A aventura argelina foi para ele uma época importante, pois pôde explorar a potencialidade do seu talento construindo:
1- A Universidade de Argel de Ciências e Tecnologias Houari-Boumediene, em nome do presidente argelino que a solicitou;
2- A Escola Politécnica de Arquitetura e Urbanismo de Argel;
3- O Ginásio Omnisport de Argel mais conhecido como a Cúpula de 05 de julho;
4- E a Universidade “Mentouri” da cidade de Constantine, no leste do país. Entre todos os projetos realizados, o da Universidade de Constantine reveste-se de certa importância, em particular porque foi um desafio arquitetônico. Niemeyer disse, passo a citar ‘’ Eu queria que o concreto obedecesse à minha estética, no contexto do relevo dramático e acidentado de Constantine, uma cidade agarrada a uma rocha e como se estivesse suspensa no vazio. Quando, em privado ou em público, falo do meu trabalho, das coisas que realizei, digo sempre que a Universidade de Constantine faz parte das minhas melhores realizações ”.
Concebeu também uma mesquita situada sobre o mar, mas infelizmente esse projeto não foi concretizado devido à morte do Presidente argelino Houari Boumediene, em Dezembro de 1978.
A Biblioteca árabe-sul-americana, um dos seus últimos projetos na Argélia e no mundo, deveria ser construída.
Nunca é demais sublinhar que a contribuição deste grande génio da arquitetura do século XX é considerável. Deixou ao Brasil, à Argélia e ao mundo uma obra imortal cheia de imaginação. Recordo aqui que a Embaixada da Argélia e a Universidade de Brasília homenagearam Oscar Niemeyer, em 2017, por meio de uma exposição de fotografias do fotógrafo britânico Jason Oddy sobre as suas obras na Argélia e isto na sua própria casa situada no Park Way.
Essa homenagem coincidiu, note-se, com a celebração do 30º aniversário da classificação de Brasília como Patrimônio Mundial da UNESCO e do 55º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Argélia, pouco depois da independência do meu país.
Por fim, para concluir, diria que Niemeyer, pilar da arquitetura contemporânea, teve uma relação singular com a Argélia, não só porque construiu várias obras cuja originalidade e modernidade se comprova hoje, mas também porque ali residiu durante quase uma década. E quando falava da Argélia, era sempre com amor, respeito e consideração. Ele disse, passo a citar: ‘Cheguei à Argélia na hora certa, alguns anos após a independência. Lá encontrei a melhor solidariedade. Eu amei este país, mantive carinho por ele ”.