Entidades refutam ‘ataque’ de ministro da Saúde à classe médica



‘Médico tem que parar de fingir que trabalha’, disse Ricardo Barros

Por Kleber Karpov

Na quinta-feira (14/Jul), no Palácio do Planalto, o ministro da saúde, Ricardo Barros, durante um discurso sobre a proposta de implantação de controle de frequência, por biometria, de servidores da Saúde em todo país, confrontou a classe médica ao sugerir que os médicos fingem trabalhar. A reação de entidades ligadas aos profissionais ligados à medicina foi imediata.

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“Vamos parar de fingir que pagamos o médico, e o médico vai parar de fingir que trabalha […] Quando o município implanta a biometria, metade dos médicos se desligam do serviço porque eles têm cinco, quatro empregos com quatro vínculos empregatícios e não dá conta de cumprir o horário. Como ele ganha pouquinho, ele acha que trabalha pouquinho também e está tudo certo. Esse faz de conta não ajuda a saúde”, disse Ricardo Barros.

Reações adversas

As colocações de Ricardo Barros, no entanto, foram recebidas pela categoria como uma forma de ‘ataque’aos profissionais de Saúde que atuam no Sistema Único de Saúde. Para o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ronald Ferreira dos Santos, “Mais do que apresentar uma crítica de forma torta, o ministro [Ricardo Barros] desmereceu toda uma categoria em sua fala. Foi desrespeitoso”.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica do Brasil (AMB) publicaram, em conjunto uma ‘Nota aos Médicos e à Sociedade’ (13/Jul), em que criticaram a postura de Ricardo Barros. Para a direção do CFM os comentários do ministro são “pejorativos que se mostram desconectados da realidade a respeito do trabalho dos profissionais da saúde, em especial dos médicos, bem como da própria dinâmica de funcionamento do SUS”.

NOTA AOS MÉDICOS E À SOCIEDADE

A VERDADE SOBRE O TRABALHO DO MÉDICO E A GESTÃO DO SUS

Diante da necessidade premente de união de esforços em torno da superação dos inúmeros problemas que afetam o Sistema Único de Saúde (SUS), são completamente inadequados os comentários pejorativos feitos por autoridades que se mostram desconectadas da realidade do trabalho dos profissionais da saúde, em especial dos médicos, bem como da própria dinâmica de funcionamento do SUS.

Pacientes, médicos e demais profissionais da saúde são frequentemente constrangidos por comentários feitos por gestores, inclusive do Ministro da Saúde Ricardo Barros, que distorcem as dificuldades enfrentadas pelo SUS, como ocorreu nesta quinta-feira (13) no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).

Na incapacidade de responder os anseios da população, esses comentários transferem para as categorias da área da saúde, sobretudo para os médicos, a culpa pela grave crise que afeta a rede pública. No entanto, polêmicas infundadas não eximem o Estado de suas responsabilidades ou afasta a compreensão da falta da indispensável atenção administrativa.

Os brasileiros sabem disso. Pesquisa do Datafolha, realizada no fim do ano passado, comprovou que os médicos constituem a profissão que mais conta com a credibilidade e confiança da população. Além disso, segundo os dados, a sociedade reconhece que a falta de estrutura de atendimento, má gestão, entre outros fatores, impedem o pleno exercício da medicina, em detrimento dos pacientes e seus familiares.

Apenas o trabalho articulado de gestores e todos os setores envolvidos nessa crise – o que inclui médicos e demais profissionais da área, assim como a sociedade em geral – ajudará a trazer as respostas esperadas pelos brasileiros, em especial pelos 150 milhões que dependem exclusivamente do SUS.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) reiteram seu compromisso com o SUS e conclamam a todos que comungam do mesmo ideal, inclusive os gestores – nas esferas municipal, estadual e federal –, a somar esforços, evitando contendas ou divisões que somente afastam o país da oferta de saúde pública de qualidade para todos.

Brasília, DF, 13 de julho de 2017.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA

A Federação Nacional dos Médicos (FENAM) também publicou uma Nota Oficial (14/Jul), em que explicitam as reais condições de trabalho encontrada pela categoria médica nas unidades de saúde pública do país e ressalta o esquecimento da regra constitucional que estabelece como dever do Estado, o direito à Saúde ao cidadão.

 

A farsa do discurso oficial 

As matérias jornalísticas que exibem o caos da saúde pública se multiplicam a cada dia. O governo alardeia o falso conceito de que os médicos e demais profissionais de saúde são os responsáveis por esta situação, esquecendo a regra constitucional que estabelece o direito à saúde como dever do Estado.

Apesar das enormes dificuldades, os médicos brasileiros desempenham uma função de grande relevância, mesmo com a precariedade do ambiente de trabalho, assim mesmo, a cada dia que passa, milhões de atendimentos são feitos em todo o país cujos resultados são milhares de vidas salvas. É claro que tudo isso ocorre com enorme sacrifício já que a improvisação expõe este profissional e os nossos pacientes a riscos desnecessários.

Lamentamos as mortes que poderiam ser evitadas. A população sabe quem são os verdadeiros responsáveis de tudo isso que acontece. Pesquisas de opinião revelam que a categoria médica ainda é uma das mais importantes carreiras com credibilidade na opinião pública.

As campanhas patrocinadas por alguns maus gestores tentando atribuir a estes profissionais o ônus da sua incompetência, felizmente não tem encontrado apoio na maioria de nossa população.

O ministro de Estado da Saúde, servidor público número 1 do sistema, deveria ao invés de encontrar os responsáveis por sua incapacidade gerencial, corrigir as graves falhas exercendo a sua obrigação constitucional. Como administrador público deveria não só cumprir as regras existentes, assim como também respeitá-las.

Se valer do seu cargo para atingir uma categoria profissional, que junto com os demais profissionais faz um grande esforço para manter este sistema funcionando, é um grave erro que pode ser caracterizado como, além da ofensa pessoal, também improbidade administrativa.

A civilidade e a urbanidade são princípios e regras da administração pública, que dentre outras, devem ser obrigatoriamente praticadas, caso contrário estaríamos incentivando e expondo estes profissionais a um contexto de violência em que a impunidade seria a regra predominante.

Fingir que trabalha talvez seja a expressão escolhida por um gestor à beira de uma crise de nervos por demonstrar incapacidade em responder aos desafios, transferindo para outros o que talvez melhor se aplique à sua pessoa.

Brasília, 14 de julho de 2017.

Federação Nacional dos Médicos (FENAM)



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