Falta penicilina para combater sífilis na rede pública de Saúde do DF



Omissão do Estado pode comprometer saúde de gestantes e dos bebês. Microcefalia é um dos quadros possíveis decorrentes da falta de tratamento.

Por Kleber Karpov

Política Distrital recebeu informações de uma especialista da Secretaria de Estado de Saúde do DF, que pede para não ser identificada em relação à falta de penicilina para combater sífilis na rede do DF. Outro problema apontado é a não realização de exames de urocultura e de teste do laboratório de pesquisa de doenças venéreas (VDRL, do inglês venereal disease research laboratory), por ausência de reagentes.

Com a deficiência na detecção precoce, por meio de exames, a prevenção da doença fica comprometida e pode afetar gestantes e bebês, inclusive com risco de desenvolver quadro de microcefalia.

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Falta penicilina para combater sífilis em toda rede da SES, bem como kits de exames para fazer Urocultura e VDRL para cuidar das mulheres no pré-natal, há mais de dois anos. Exames básicos de prevenção estão em falta. Sem eles [os exames], o pré-natal da gestante é feito sem qualidade, podendo causar graves consequências tanto para a mãe quanto para o bebê. As consequências disso é que o Estado irá pagar mais com internação em leitos e normais e até de UTI, que custa centenas de vezes mais caro do que os kits de exame ou a própria medicação do tratamento.

A profissional criticou ainda o abandono à Saúde da mulher.

A penicilina custa centavos e os exames são baratos. A saúde da mulher e da gestante está atendendo só em termos de quantidade, mas não de qualidade. Prevenção é a base de tudo e a Estratégia Saúde da Família (ESF) é onde se faz prevenção.

Omissão X Mortes

A profissional aponta também que a prioridades em relação à atenção primária reflete no aumento do índice de mortalidades materna e infantil.

“A prevenção está sendo deixada de lado! É muito mais barato prevenir. Vamos atrás dos casos de mortes de bebês por faltas de cuidados no Pré-Natal, os números vão se multiplicar.”

Mortalidade materna

Um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), a redução da mortalidade materna é um compromisso assumido entre os lideres mundiais, em setembro de 2000. O evento ocorreu na sede das Nações Unidas, em Nova York (USA), ocasião em que adotaram a Declaração do Milênio da Organização Unida (ONU).

Embora de 1990 a 2011, o Brasil reduziu em 55% a taxa de óbitos das gestantes, de 141 para 64 óbitos por 100 mil nascidos vivos em duas décadas, Ieva Lazareviciute, oficial de Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alerta sobre as mortes maternas que poderiam ter sido evitadas durante as consultas pré-natais ou no atendimento médico.

O trabalho para a redução da mortalidade materna merece todo nosso esforço e atenção e passa, sobretudo, pela prevenção. Como mãe, fico mais triste ainda quando uma mulher chega a falecer num momento que poderia ser o mais feliz da sua vida.

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No DF, a crise anunciada por parte do GDF e a falta de profissionais, medicamentos, insumos e equipamentos, deixam as futuras mamães com os atendimentos pré-natais prejudicados. Outro agravante são os casos recentes em todo o país, inclusive no DF de infecções com os vírus da dengue, zika e chikungunya.

No início de 2016 o DF registrou duas pacientes gestantes, de 29 e 36 anos, a época nos inícios do segundo trimestre e do terceiro trimestre de gravidez, com contaminação por zika vírus. Um dos casos, autóctone (originado na região) no Distrito Federal.

Na opinião da Especialista da SES-DF que torce por melhoras, o quadro pode piorar por uma série de fatores que somados podem resultar em um desastre. Isso porque o DF e o país sofre com os excessos de focos do mosquito Aedes Aegypti, a epidemia de dengue, zika vírus, que se expande em todo país.

A isso soma-se o agravante da deficiência de atendimento na atenção primária, sobretudo às mulheres gestantes e a incapacidade da rede em diagnosticar corretamente as doenças, em razão da similaridade dos sintomas do curto espaço de tempo de manifestação da doença e ainda do grande volume em que se apresenta no DF e entorno, além da falta de reagentes: “O DF está, desde 2011, com 38/100 mil mortes [mortalidade materna], de acordo com dados da OMS [Organização Mundial de Saúde]. No Rio Grande do Sul, esse índice é de 25/100 mil. Abaixo da meta estabelecida para Brasil e nós estamos na Capital do Brasil.”

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Expectativas para o DF

A Especialista da SES-DF comentou sobre o atual secretário de Estado de Saúde, Humberto Fonseca. A expectativa em relação à Fonseca, médico da família, formado pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) é que ele faça a diferença em relação à atenção primária. Vale observar que essa foi a prioridade destacada por parte do governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB) ao nomeá-lo.

“Ele [Fonseca] entrou agora. Tem tudo pra fazer a diferença, já que atuou de perto na ESF e sabe do diferencial que faz a prevenção. Torço sinceramente para que a ESF saia da casa dos 30% e supere os 80%. O DF está ha mais de quatro anos parado, sem avançar na ESF.”.

Importância do exame

O VDRL é um exame de sangue para detectar a presença da bactéria Treponema Pallidum no organismo, causadora da sífilis, Doença Sexualmente Transmissível (DST). Durante a gravidez o VDRL deve ser realizado no início do pré-natal e repetido no segundo trimestre, mesmo que o resultado seja negativo.

Se positivo a gestante deve ser medicada com antibiótico, penicilina. O exame deverá ser realizado todos os meses até ao final da gravidez, para confirmar a eliminação da bactéria causadora da sífilis.

Se a gestante não receber tratamento adequado pode haver transmissão da doença ao bebê, por meio da placenta ou do canal do parto e, ocasionar problemas neurológicos, a exemplo de microcefalia ou outros quadros mais graves.

Secretaria de Saúde

Politica Distrital entrou em contato com a SES-DF que por meio da Assessoria de Comunicação informou que confirmou a existência de “estoque reduzido de Benzetacil (penicilina bezantina).”.
Confira a nota na íntegra:

O Distrito Federal é uma das poucas Unidades da Federação que ainda tem estoque deste medicamento. Por este motivo, a secretaria está fazendo uso racionalizado do insumo. Este medicamento tem histórico de falta de matéria-prima e todos os Estados estão com dificuldade de aquisição. O último pregão para aquisição de Benzetacil foi realizado em 2015 e deu origem a uma Ata de Registro de Preços válida até 30/07/2016, com dois processos de compra. Porém, por falta de matéria-prima, não houve entrega do fornecedor. A Saúde de Brasília esclarece que todas as unidades de saúde, inclusive de Atenção Primária, podem fazer o acompanhamento de pacientes com diagnóstico de sífilis.



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