Ian Ferraz, da Agência Brasília
O amor pelo trabalho e pela vida ganha destaque com iniciativas como a da farmacêutica Eva Ferraz Fontes, servidora da Secretaria de Saúde. Ela é a idealizadora do projeto que transforma medicamentos em comprimidos em soluções e xaropes para os usuários da rede pública. Ideia simples que figura como peça-chave no tratamento de pacientes.
Eva e a equipe de farmacêuticos do HRT alteram os princípios ativos de 86 medicamentos em soluções orais e xaropes. Eles são distribuídos gratuitamente, somente no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), a partir da receita levada pelos pacientes. O principal benefício dessa medida ela explica:
“É a segurança dos pacientes, pois eles têm a garantia de que o medicamento vai ser ministrado na concentração e na quantidade certa”, afirma. Ação que também evita o desperdício e a dosagem errada do medicamento. “Com esse trabalho a gente chega a economizar de 60 a 80% dos comprimidos que usávamos antigamente”, acrescenta.
O projeto, que nasceu no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) – onde Eva Ferraz está lotada –, espalhou no boca a boca por outras unidades como uma corrente do bem. De paciente para médico, de médico para outra unidade até alcançar vários hospitais do DF.
Atualmente, o Hospital Regional de Santa Maria, o Hospital Regional de Sobradinho e o Hospital Materno Infantil de Brasília são abastecidos em dias fixos pela produção de manipulados do HRT. O Hospital de Base, o Hospital Regional da Asa Norte e o Hospital Regional de Ceilândia também demandam o serviço com frequência.
Os números traduzem como a iniciativa da servidora se tornou uma boa solução para a rede de saúde. Ao final de 2014, quando os xaropes começaram a ser feitos, a produção foi de 440 ml. No ano seguinte, de 161,7 litros. Quantia que saltou para 406,6 litros em 2016, chegou a 676,8 litros em 2017, atingiu 917 litros em 2018 e, no ano passado, bateu 1.062,2 litros. Em 2020, mais de 92 litros de xarope foram produzidos e entregue aos usuários.
Como acessar
O serviço é gratuito e rápido. Para sair do HRT com o medicamento manipulado leva-se em torno de uma hora. Para ter acesso é necessário levar uma receita com até 30 dias de sua prescrição. Muitas vezes, em farmácias pagas, os pacientes precisam esperar até dois dias.
Uma das principais receitas buscadas pelos usuários é para o tratamento de toxoplasmose congênita, doença infecciosa transmitida de mãe para filho no caso da ingestão de cistos contidos em alimentos contaminados ou com a água contaminada pelas fezes de gato.
É o caso da dona de casa Shirley Barbosa Saraiva, que aguardava o medicamento para tratar o filho Bernardo Mesaque, de sete meses.
“Tomei o medicamento na gravidez e continuo agora. Foi um médico do Hospital Universitário de Brasília que me avisou da farmácia de manipulação daqui. Moro longe, venho de São Sebastião, mas venho feliz. Se precisasse comprar o medicamento não poderia. Gratuito só existe aqui. É muito bom, sim, ver esse tipo de iniciativa na rede pública”, afirma Shirley.
O começo
Em 2014, Eva Ferraz trabalhava com soluções para prevenção e diagnóstico de câncer de colo de útero. Um dia, ao ver uma colega técnica de enfermagem do berçário fazer um pedido de grande quantia de medicamentos, ela questionou: “para quê tanto medicamento? É para alguém?”.
A colega respondeu que levaria para bebês da UTI Neonatal, indicando que colocava os medicamentos diluídos dentro de uma seringa. Eva perguntou para a técnica de enfermagem se poderia ser útil misturá-los com xarope. A partir da afirmativa da colega, nasceu a ideia.
No início, o projeto era destinado a recém-nascidos da UTI Neonatal do Hospital de Taguatinga. O público-alvo foi notado a partir da dificuldade que os profissionais levavam para medicar os recém-nascidos. Com o passar do tempo e o crescimento do projeto ele começou a atender crianças, pacientes de UTI adulto, pacientes de cuidados paliativos e geriatria. Tudo sob demanda. Hoje, todo esse público-alvo está apto a ser atendido pelas receitas.
“A grande satisfação é ver que, a dificuldade que passei com minha filha prematura de 27 semanas, outras mães não precisam passar. Esse trabalho serve para ajudar as mães e que os filhos dela tenham oportunidade de sobreviver e vencer uma fase complicada”, explica Eva.
Hoje, o trabalho que começou com pedidos pelo WhatsApp, está mais organizado. As solicitações que chegam de outras unidades são recebidos por e-mail. As receitas são impressas e até indicadas por cores para pacientes com dificuldade de leitura. Tudo para o enfermo não tomar a dosagem errada e atrapalhar o tratamento.
Vale lembrar que a farmácia do HRT é a única da rede pública a realizar esse tipo de trabalho. O processo de manipulação é feito por profissionais capacitados da farmácia do hospital, munida de infraestrutura e equipamentos adequados.
Horário de funcionamento:
segunda a quinta-feira, das 7 às 19h.
Sexta-feira, das 7h às 12h
Telefone 20171700 ramal 3467
Para ser atendido basta ter uma receita médica carimbada e assinada emitida nós últimos 30 dias
Fonte: Agência Brasília