Febre Amarela: Não matem os macacos, cobrem dos políticos



Por Kleber Karpov

No Brasil, parte da população brasileira passou a viver na linha tênue entre a racionalidade e o instinto de sobrevivência. Na falta da ação do poder público em temas sensíveis à sociedade, como segurança e saúde prevalece o ‘salve-se quem puder’. As vezes com algum incentivo, assistimos atônitos algumas ações baseadas no ‘faça você mesmo’ afinal, a inércia do Estado impõe a lei do ‘é cada um por si’.

Sob tal regra, nas últimas semanas houve início a um processo, ainda tímido, mas perigo, de dizimação de animais silvestres. Em estados com alta incidência de casos provocados pelo vírus da febre amarela, macacos passaram a ser mortos e se tornaram alvos da população. Reflexo do medo de uma possível contaminação com o vírus transmitido, na verdade não pelo animal, mas pelo mosquito Aedes Aegipty.

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Macacos são vítimas

Noticiários apontam, diariamente, relatos de mortes de pessoas contaminadas pelo vírus e, de um lado mostra a falta de vacinas nas unidades de saúde, para imunizar a população. Do outro, o governo pego de ‘saia justa’, a medida emergencial de fracionamento de doses para se tentar cobrir, o máximo possível, as áreas de vetores das contaminações. Se soma a isso, o desespero de moradores das regiões afetadas, que assistem aflitas as vacinações ocorrerem à conta-gotas, por falta de estoque nas unidades de saúde, próximas as áreas de risco.

Logo, às pessoas sem o devido esclarecimento, criam o senso comum que, na ausência da ação do Estado, a solução viável é eliminar, o que parece ser o problema. Leitura essa, embora compreensível, totalmente injustificável, uma vez que os macacos não transmitem a doença, e assim como o homem, é contaminado.

Além de equivocada, tal reação também é perigosa, uma vez que a incidência de vetores com surtos de febre amarela, ocorrem em grandes metrópoles, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Distrito Federal, todos, com registros de mortes de pessoas.

O inimigo mora ao lado

Por falta de informação, as pessoas desconhecem que, conforme alerta o diretor de Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Denilson Magalhães, o macaco, assim como o homem, pode ser contaminado pelo vírus da febre amarela, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti. Nesse caso, a identificação de contaminação dos animais silvestres, proveniente da picada do mosquito, serve de alerta para as autoridades sanitárias, poder detectar e identificar a existência do problema na região onde vive o animal.

“Pedimos que as pessoas não agridam os macacos. Pelo contrário, precisamos preservá-los, porque se estiver ocorrendo a morte deles em uma região, que não seja pelas mãos humanas, é um evento que chama a atenção da Vigilância Ambiental de que pode haver circulação do vírus da febre amarela naquele local, e precisamos investigar.”.

Números preocupantes

Em 23 de janeiro, o Ministério da Saúde atualizou as informações repassadas pelas secretarias estaduais de saúde, sobre a febre amarela no país. Os dados que compreenderam o período de 1º de julho/2017 a 23 de janeiro de 2018. Ao todo foram contabilizados, 601 casos notificados, desses, 130 confirmados de febre amarela, 309 descartados, com 53 registros de óbitos e outros 162 estão em investigação, de acordo com dados do Ministério da Saúde (MS).

Dos 130 casos apontados pelo MS, 61 aconteceram em São Paulo, 50 em Minas Gerais, 18 no Rio de Janeiro além de um no Distrito Federal. A pasta confirmou ainda 53 óbitos pela doença. Desses, 24 em Minas Gerais, 21 em São Paulo, sete no Rio de Janeiro e um no Distrito Federal.

Alerta vermelho

Porém, em novo boletim (26/Jan), esse específico da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo (SES-SP), os números de casos confirmados aumentaram em 119%, em apenas quatro dias, ou seja, saltaram de 61 para 134 confirmações. E o mais grave, praticamente, na mesma proporção também cresceu o número de óbitos. Os 21 registros passaram para 52, ou seja, aumentou em 116% de mortes em todo estado de São Paulo.

Vale ainda observar que os aumentos de casos de febre amarela são crescentes no país e até mesmo a comunidade internacional acendeu o sinal de alerta. Ainda em 16 de janeiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o Estado de São Paulo, como área de risco para a febre amarela. Posição essa decorrente do crescimento do nível de atividade do vírus, no território paulista, desde o fim de 2017. A recomendação da OMS é que viajantes estrangeiros que visitarem São Paulo tomem a vacina, contra febre amarela, com antecedência de 10 dias.

Mas, vale observar que além de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal, além de casos de febre amarela, também ter registro de óbitos, a OMS aponta ainda outros 13 estados com a presença do vírus: Bahia, Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins, também convivem com casos de febre amarela.

Imunização

Mesmo pego de ‘saia justa’, o governo federal tenta dar respostas rápidas aos estados, de modo a suprir os estoques de vacinas para febre amarela. De acordo com o MS, desde 2017, ate o momento, 57,4 milhões de doses do medicamento foram encaminhadas às Unidades da Federação.

Aos estados onde ocorreram mortes de pessoas, por infecção por febre amarela, teve início a campanha de vacinação. De acordo com o ministro da Saúde, Ricardo Barros foram enviados cerca de 48,4 milhões de doses da vacina. O objetivo é intensificar as estratégias de vacinação de forma seletiva, sendo 18,3 milhões (SP), 10,7 milhões (MG), 12 milhões (RJ), 3,7 milhões (ES) e 3,7 milhões (BA).

Ricardo Barros tem pressa

Atualmente licenciado do mandato de deputado federal (PP-PR), Ricardo Barros tem previsão de deixar o cargo em abril, para tentar a reeleição. Sob essa ótica, o ministro tem pressa e certamente quer levar o bônus de quem combateu o surto de febre amarela no país. Logo, Ricardo Barros tem que correr contra o tempo, garantir a imunização das pessoas, além de evitar os ônus do número de óbitos em decorrência da ação do vírus.

Além da campanha de vacinação, o ministro anunciou a inauguração da linha final de produção da vacina contra febre amarela na unidade da Libbs Farmacêutica, em São Paulo. Medida essa, parte de acordo para transferência tecnológica entre a empresa privada e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-manguinhos) da Fiocruz. A estimativa é de se aumentar a capacidade de produção do insumo em 48 milhões de doses por ano.

Enquanto isso

De um lado, gestores e agentes de saúde dos estados e municípios aguardam a chegada das doses da vacina contra febre amarela para imunizarem a população. Do outro no entanto, parece faltar ao governo federal a capacidade de manter as instâncias inferiores e, principalmente a população, bem informadas sobre os prazos de reposições dos estoques nas unidades de saúde.

A consequência se reflete no desespero da população e em ações extremas, em que, desesperados, as pessoas saem à caça e começam a promover uma matança de macacos, sem entendimento que o animal também é contaminado pelo vírus da febre amarela e não transmite a doença. Isso, quando o correto era pressionar a classe política.

Atualização: 27/1/18 às 18h40



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