Mais que promover uma simples programação cultural acessível, o trabalho do coletivo Cinema no Olho da Rua procura ressaltar a importância da sétima arte e alertar sobre como espaços públicos de exibições permanecem fechados. Depois de duas sessões bem-sucedidas que ocorreram enquanto o Cine Brasília (106/107 Sul) permanecia inacessível devido às obras, agora é o Cine Itapuã que será relembrado no próximo dia 30 de maio, às 20h, com uma sessão de curtas-metragens com entrada franca.
“O Cinema no Olho da Rua está se transformando em um coletivo pra pensar, discutir e cobrar políticas de difusão do cinema nacional. A gente não tem pretensão de fazer tudo sozinho, queremos agregar quem está nessa caminhada há mais tempo e quem está chegando agora”, explica Alice Godoy Lopes, integrante do coletivo.
“A gente vai ocupar o lado de fora do Cine Itapuã, um cinema fechado há 19 anos que nenhum de nós teve a oportunidade de frequentar. Um cinema vazio é só um prédio. É a luz do projetor que transforma o ferro e o concreto em possibilidades. Olhar pro Cine Itapuã e conversar com a comunidade de cinema, nos levou a pensar em todas as possibilidades perdidas”, completa.
O segundo cinema mais antigo do DF, inaugurado após o tradicional Cine Brasília, foi fechado em 2005 e, desde então, está abandonado. A sala tem capacidade para 500 pessoas e recebia apresentações teatrais e shows. Fundado em 1963, o cinema era referência na cidade de quase 150 mil habitantes, e que não possui outro espaço cinematográfico.
No ano passado, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que os Bombeiros aprovaram o projeto de reforma do Cine Itapuã e a próxima etapa é a elaboração do projeto básico para o processo licitatório para o início das obras.
Programação
Para a sessão no Cine Itapuã, o coletivo Cinema no Olho da Rua fez uma curadoria que inclui a animação Barra Nova, de Diego Maia, que se passa na praia do Nordeste Brasileiro. O curta Ramal, dirigido por Higor Gomes, fala sobre um grupo de jovens que se diverte sobre suas motocicletas na Vila Marzagão, que fica na periferia da cidade de Sabará em Minas Gerais. Outro título que será exibido é o curta-metragem de São Paulo, Lugar de Ladson, de Rogério Borges. O filme fala sobre Ladson, um jovem com baixa visão, de Rio Claro, interior de SP, que tenta marcar um encontro amoroso durante a pandemia.
Dois outros filmes representam a capital na sessão. O documentário Só Quem Tem Raiz, de Josianne Diniz, se passa no Gama e fala sobre três personagens que compartilham inseguranças, alegrias e sonhos em uma realidade marcada pelo racismo, machismo e homofobia. Outro título local é o falso documentário Nada se Perde, de Renan Montenegro. O curta, feito com recursos do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF, fala sobre o fictício Programa de Reaproveitamento Humano, uma solução inovadora, que transforma as almas de cidadãos falecidos do DF em materiais úteis para construir uma cidade melhor, como asfalto, lixeiras, muros e tinta branca.
A proposta curatorial da sessão no Cine Itapuã nasceu a partir da contemplação dos espaços vazios e do movimento de ocupação desses lugares. “O diálogo que se estabelece entre espaço ocupado e ocupante que é inerente a uma sessão na rua em frente a um cinema abandonado se reflete no diálogo que os filmes estabelecem entre si”, explica Alice.
Transporte
Para quem mora no Plano Piloto e região, e quer conferir a sessão, haverá um sistema de ônibus com saída às 19h, do estacionamento do Cine Brasília (106/107 Sul). Os interessados irão contribuir com uma passagem simbólica ao valor de R$ 10 (o trecho) ou R$ 15 (ida e volta). O transporte será feito com veículos de turismo para garantir o conforto dos passageiros cinéfilos. A reserva da passagem deve ser feita pelo link: https://forms.gle/WmpFE6rrkk15w5cx6.
Cinema no Olho da Rua
O coletivo Cinema no Olho da Rua nasceu em fevereiro como um protesto pelo fechamento do Cine Brasília. Ao organizar a primeira sessão de ocupação da área externa do cinema, entendeu-se melhor o espaço que existe para esse tipo de exibição como evento cultural aberto para todo mundo. O Cinema no Olho da Rua é formado por jovens apaixonados pela sétima arte: a produtora cultural Alice Lopes, a estudante de Cinema Bárbara Augusto, a arquiteta Lara Alves e o músico e produtor Raphael Homar e o cineasta Vinicius Campos. O projeto ocupa diversos espaços da cidade, chamando atenção para as lacunas nas políticas públicas de acesso à cultura em Brasília, transformando o protesto em uma mostra itinerante. Além de estimular o debate sobre o papel do cinema na sociedade. A curadoria prioriza a diversidade e a relevância cultural, o coletivo apresenta uma seleção de curtas-metragens brasileiros contemporâneos, proporcionando momentos de reflexão e entretenimento para todos os presentes.
Assista ao curta-documentário sobre a primeira sessão realizada pelo coletivo: