Por Bom Dia Rio
O desvio de dinheiro na saúde prejudica principalmente quem depende da rede pública para conseguir atendimento. No Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), que já teve Sérgio Côrtes como diretor, a fila de espera por uma cirurgia tem, atualmente, mais de dez mil pessoas. O defensor público da União Daniel Macedo destaca que verba desviada ajudaria a custear hospital por um ano e meio.
Nesta terça-feira (11), o ex-secretário estadual de Saúde, Sérgio Cortes, e dois empresários que forneciam equipamentos hospitalares para o governo, principalmente para o Into, foram presos na operação ‘Fatura Exposta’. O esquema apura o desvio de R$ 300 milhões da área da saúde.
A paciente Lúcia Helena diz que ficou indignada com a revelação dos caso de corrupção envolvendo o Into e o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes. Ela sofre de escoliose degenerativa na coluna lombar, sente muitas dores, e médicos dizem que remédios não fazem mais efeito.
“Estou indignada, revoltada. Não tem só eu aguardando na fila, esperando uma cirurgia. Tem muito mais gente. E a resposta que o Into nos dá é que tem de aguardar, que está ruim, que o hospital está sem condições, para aguardar. Nem em outros hospitais tem condições de fazer a cirurgia. O único que faz a cirurgia é o Into. Tomo vários tipos de remédios para dor e me trato com dois neurologistas no Hospital dos Servidores. E o que eles falam é que não adianta mexer mais na medicação, que já cheguei no meu limite. A gente está precisando e está acontecendo tudo isso. Sinto revolta”, disse a paciente.
Também na fila por uma cirurgia na coluna, Luiz Carlos diz que está esperando há três anos. Ele conta que em março tinha 490 pessoas na sua frente, agora, já são 500, e ninguém dá uma explicação para esse situação.
“Tem até um médico que me dá uma força, mas não dizem nada. Não sei como é a dor do câncer, mas a que sinto é insuportável. Tomo 16 comprimidos por dia para dor. O médico diz que não posso, mas não aguento a dor. São 23 anos tomando esses medicamentos. Ele diz que isso para mim já virou água”, conta o paciente.
Como ele, 3.146 pacientes aguardam uma cirurgia na coluna. O Into também está, desde fevereiro, sem exames laboratoriais. O laboratório voltou a funcionar recentemente, mas a prioridade para exames de sangue, por exemplo, é para pacientes com urgência para isso. A partir do próximo mês o atendimento para exames vai normalizar para os outros pacientes.
O defensor público Daniel Macedo diz que a relação entre corrupção e a crise na saúde é direta. Em 2014, a Defensoria identificou uma fila de 14.070 pacientes. Em 2016, a fila passou para 16 mil pacientes e hoje é de 21 mil pacientes. Ele destaca que a demora agrava a situação dos pacientes, como a de Lúcia Helena, que passou a andar de muletas e em pouco tempo terá de usar uma cadeira de rodas.
“Vem agravando a situação. O Into recebe R$ 245 milhões para sua gestão. Os R$ 300 milhões desviados ajudariam bastante. Do que se sabe, foi o equivalente a um ano e meio de orçamento desviado. Isso vem agravando o estado físico e moral dos pacientes”, destacou Macedo.
A paciente Lúcia Helena diz que, se pudesse falar com os investigados no caso de corrupção do Into, perguntaria que porque eles fizeram isso se um dia juraram salvar vidas.
“E agora, as pessoas estão morrendo. Milhares já morreram na fila esperando uma cirurgia. E tem muitas, que por causa da espera, não puderam mais fazer a cirurgia por causa de idade avançada e tiveram outros problemas de saúde. Será que não eles não têm nem um pouquinho só de pena dessas pessoas? Eles fizeram um juramento para salvar vidas”, concluiu a paciente.
Fonte: G1 Rio