Por Aline Câmera
Desde a confirmação dos primeiros casos da Covid-19, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição vinculada ao Ministério da Saúde, vem trabalhando para dar respostas em diversas áreas. Após desenvolver os testes moleculares para detecção da doença e aumentar sua escala de produção progressivamente, a Fundação inicia a operação de uma Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 (faça um tour virtual pela unidade). A iniciativa se insere na estratégia de apoio aos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) e ampliação da capacidade nacional de processamento de amostras, ação fundamental para a vigilância epidemiológica do vírus e o enfrentamento da pandemia.
Com potencial para processar diariamente até 15 mil testes moleculares, a nova unidade está localizada na sede da Fundação, no Rio de Janeiro, e teve sua estrutura e equipamentos financiados pela iniciativa Todos pela Saúde. O Ministério da Saúde custeará sua operação. Com isso, o campus de Manguinhos, que já vinha operando com plataformas implantadas no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), passa a ter capacidade de liberar cerca de 17,5 mil resultados por dia. Outra Unidade de Apoio, na regional do Ceará, tem previsão para começar a operar ainda em agosto, podendo executar diariamente até 10 mil testes moleculares.
“A Fiocruz vem buscando ser parte da resposta à crise humanitária que estamos vivendo desde o início da pandemia. A nossa tradição de 120 anos e a presença em todas as regiões do país nos permitem contribuir com o Ministério da Saúde na estratégia nacional de testagem. Além da mobilização das nossas unidades regionais no apoio aos Lacens locais, unimos esforços para implantar as Unidades de Apoio, que permanecerão como legado para o sistema de vigilância nacional e para o Sistema Único de Saúde [SUS] mesmo após o fim da emergência”, destaca a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
Construídas com base em plantas semelhantes e em regime emergencial, as novas instalações do Rio de Janeiro e do Ceará ocupam uma área de aproximadamente 2,3 mil m2, cada uma. Equipadas com plataformas que utilizam a metodologia de PCR em tempo real, as Unidades têm potencial para funcionar em tempo integral, sete dias por semana. A expectativa é que mais de 350 profissionais, incluindo biologistas e técnicos de laboratório capacitados, se revezem em três turnos de trabalho para processar as amostras que são encaminhadas pelo Ministério da Saúde.
“Sabemos o quanto a testagem em massa é importante não apenas do ponto de vista clínico, mas também no que tange a implementação das medidas de controle da pandemia e da dinâmica social. O início da operação dessas novas unidades consolida o esforço da Fiocruz de um lado na produção dos testes e, do outro, no processamento das amostras”, ressalta o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger.
Projeto de expansão
A Fundação começou, em abril, a unir sua expertise adquirida à infraestrutura tecnológica disponível na implantação de Unidades de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19. Além do Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo foram os estados contemplados inicialmente com as plataformas capazes de processar em larga escala as amostras suspeitas da doença. Os equipamentos foram instalados por Bio-Manguinhos, respectivamente, no campus da Fiocruz, no Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e no grupo Dasa, por meio de um acordo feito com o Ministério da Saúde. Com exceção dessas últimas, a operacionalização dos equipamentos é toda gerenciada pela Fiocruz, que atua desde a instalação e treinamento de pessoal, até o fornecimento dos insumos necessários e assistência técnica.
Se até então a mobilização para ampliar a capacidade de testagem era realizada com recursos do Ministério da Saúde, já descentralizados à Fiocruz e a partir de equipamentos disponíveis em Bio-Manguinhos, o projeto das Unidades do Rio de Janeiro e Ceará inaugurou também uma nova fase, marcada pelo apoio da iniciativa privada. Para viabilizar esse segundo momento, além do importante financiamento do MS que será aplicado na operacionalização propriamente dita das duas unidades, incluindo, entre outros aspectos, a contratação de recursos humanos e a aquisição dos insumos necessários, a Fiocruz contou com a doação de cerca de 200 milhões de reais.
A iniciativa Todos pela Saúde, liderada pelo Itaú Unibanco, destinou mais de 180 milhões para o projeto. O valor foi empregado na compra dos novos equipamentos das duas centrais e na estrutura física da unidade carioca. “A limitação na testagem para detecção da Covid-19 ainda é um desafio no Brasil. Para conter a pandemia, é fundamental que se tenha o controle das pessoas infectadas. Por essa razão, o conselho de especialistas do Todos pela Saúde avaliou e tomou a decisão de fazer esta parceria com a Fiocruz”, ressaltou a vice-presidente do Itaú, Claudia Politanski. Já o custeio da obra do Ceará, assim como a aquisição de outros aparelhos, teve a contribuição do Bradesco e do Banco do Brasil, por intermédio da EloPar, e do UnitedHealth Group Brasil (UHG), que doaram, respectivamente, 20 milhões e 5,3 milhões para a causa.
Com a contribuição dessas novas centrais, a quantidade de testes de RT-PCR processados, por mês, pode chegar a um milhão, no pleno funcionamento das Unidades de Apoio. “A capacidade dessas unidades foi planejada tendo em vista a implantação de uma estratégia mais massiva de testagem que está em andamento pelo Ministério da Saúde. Nesse momento, trabalhamos para apoiar a grande demanda dos Lacens”, pontua o vice-presidente de Inovação e Produção em Saúde da Fundação.
Marco Krieger destaca, ainda, o papel fundamental que essas estruturas continuarão tendo para a Fiocruz e para o Sistema Único de Saúde com o fim da pandemia: “É importante ressaltar o legado que esse parque tecnológico representará para o SUS. Além do seu papel prioritário no fortalecimento do sistema de vigilância e no monitoramento de possíveis novas ondas de contaminação da Covid-19, essas Unidades de Apoio continuarão auxiliando os laboratórios de referência da Fiocruz e ainda em outras iniciativas, como é o caso da avaliação do processo de colonização dos mosquitos que são liberados pelo Projeto Wolbachia e também de ações no campo do genoma humano e da genética de doenças raras”, complementa ele.
Além dos testes de diagnóstico por RT-PCR, as novas unidades do Rio de Janeiro e Ceará também foram contempladas, na doação recebida do Todos pela Saúde, com modernas plataformas para execução de testes sorológicos em escala. Baseados na detecção da resposta imunológica após infecção, esses testes são complementares para o enfrentamento da pandemia e já estão sendo realizados para apoiar inquéritos epidemiológicos, avaliações em populações vulneráveis, entre outros. A ação agrega a capacidade nominal de 12 mil testes por dia em cada uma das novas centrais, ofertando apoio adicional ao sistema público de vigilância em saúde.
Ações articuladas
A expansão da capacidade nacional de testagem envolveu na Fiocruz três pilares centrais de atuação que se desencadearam de forma complementar: o desenvolvimento e a produção dos testes em grande escala; o reforço regional dos Lacens e da logística de insumos e amostras em todo o território nacional e a implantação das Unidades de Apoio Diagnóstico da Covid-19. “É importante ressaltar que outras parcerias e arranjos seguem em andamento envolvendo o Ministério da Saúde, a Fiocruz e diversas universidades e instituições de pesquisas com o intuito de ampliar ainda mais a capacidade de testagem nacional”, pontua o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio.
Durante o mês de março, quando a pandemia avançava bruscamente nos países europeus e fazia as primeiras vítimas no Brasil, a Fiocruz iniciou o processo de escalonamento progressivo da produção de testes diagnósticos. Na última semana de junho, a produção tinha atingido uma capacidade de 2 milhões de testes por mês em Bio-Manguinhos e acumulado um quantitativo superior a 5 milhões de testes entregues pela Fiocruz ao Ministério. O compromisso firmado com o MS, prevê um total de 11,7 milhões de testes. O cronograma de entrega é definido em conjunto com o MS, para melhor atender à sua estratégia de distribuição e às necessidades dos laboratórios da rede pública e das Unidades de Apoio.
Se por um lado a produção seguia a todo vapor, por outro, era preciso reforçar a outra ponta, que envolvia o diagnóstico propriamente dito, para atender a demanda crescente de processamento de amostras. Foi então que as unidades da Fiocruz, presentes em todas as regiões geográficas do país, se mobilizaram para contribuir com os Lacens de suas respectivas localidades. Além desses laboratórios, o Lacen de Santa Catarina, em Florianópolis, assim como os laboratórios de referência, localizados no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e no Instituto Evandro Chagas, no Pará, foram contemplados com plataformas instaladas por Bio-Manguinhos. Ribeirão Preto, em São Paulo, também ganhou reforço de um equipamento que vem sendo operado por profissionais da Fundação lotados na Plataforma de Medicina Translacional Fiocruz-USP.
Com essas ações, portanto, a Fiocruz contribui decisivamente com o Ministério da Saúde no alcance dos objetivos de testagem, contribuindo com a distribuição de testes moleculares na quantidade necessária, cooperando com a gestão da logística de insumos e a distribuição das amostras aos Lacens e unidades de apoio e, agora, oferecendo uma capacidade expressiva de processamento de amostras suspeitas da doença. O investimento da pasta nas diversas ações da Fiocruz no âmbito da testagem girou em torno de 930 milhões de reais.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias