Fiscalização conjunta de conselhos vai ao Hospital do Paranoá

Na UTI adulto, bombas de infusão quebradas se acumulam em uma sala. Não há contrato de manutenção para os equipamentos


Conselhos profissionais apuram problemas que prejudicam assistência ao paciente

A fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF), junto com outros conselhos profissionais de saúde, inspecionou o Hospital Regional do Paranoá em 30 de agosto. As enfermeiras fiscais se depararam com equipamentos sem manutenção, falta de vários insumos, problemas na operação do prontuário eletrônico dos pacientes e deficit de profissionais de enfermagem impedindo a abertura de leitos, principalmente na clínica médica.

Durante a vistoria da UTI, fiscais constataram que a equipe de enfermagem não lança, no sistema de prontuário eletrônico, os controles de sinais vitais, medidas antropométricas, balanço hídrico, assim como não marca a opção executada nos medicamentos administrados aos pacientes. O acompanhamento das informações é feito por meio de folhas impressas.

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“Isso é um problema seriíssimo. Se o paciente for transferido de hospital, os dados não estarão disponíveis. Em caso de processo ético ou judicial, é o prontuário eletrônico que comprova o atendimento prestado”, explicou a enfermeira fiscal Juscélia Rezende à enfermeira supervisora da UTI adulto do Hospital do Paranoá.

A falta de computadores foi apontada pela chefia como uma das dificuldades para atualizar o prontuário eletrônico. São poucos terminais disponíveis para uso por vários membros da equipe multidisciplinar, como médicos, residentes e profissionais de enfermagem. A supervisora foi orientada a formalizar a solicitação dos equipamentos à direção do hospital e definir horários para que cada área de assistência possa preencher o prontuário. No controle de medicamentos do carrinho de emergência, as fiscais cobraram o registro de data, assinatura e identificação dos servidores, conforme determina o código de ética da enfermagem.

Equipamentos sem manutenção
Em todos os setores fiscalizados, era constante encontrar equipamentos sem contrato de manutenção corretiva ou preventiva. O “empréstimo” de ventiladores e monitores entre unidades tenta suprir o desfalque causado por máquinas quebradas, uma vez que os equipamentos de reserva já estão em uso ou precisando de reparos.

No pronto-socorro, há somente um respirador para atender a demanda. No momento da fiscalização, uma paciente era ventilada por meio de reanimador manual (ambu), pois o respirador era usado em outro enfermo. No box de traumatologia, cada um dos dois leitos é equipado com um monitor multiparamétrico. No entanto, a supervisora do setor informou que, se outro paciente der entrada na emergência, algum ficará desassistido por ceder o monitor.

Documentos obtidos pela fiscalização do Coren-DF mostram também que a clínica ortopédica sofre com a falta de bomba de infusão, oxímetro, monitor multiparâmetros, esfigmomanômetro, eletrodos para realização de eletrocardiograma. Em um memorando de julho, a coordenação do setor informa a ocorrência de três apagões à noite e dois na manhã seguinte, atingindo o posto de enfermagem, a sala de medicação e a copa. Acionada, a equipe de manutenção avaliou ser necessário a troca do disjuntor.

Insumos em falta
A lista de produtos e medicamentos em falta é extensa no Hospital do Paranoá. Profissionais do pronto-socorro apontam falta de lençóis e vestimentas – reclamação comum em todo o hospital. “Há dias em que não damos banho no paciente porque não há roupa de cama para fazer a troca”, relatou uma técnica de enfermagem. A escassez desses insumos pode aumentar o risco de infecções.

No setor, não há ar-condicionado, e as luzes são desligadas durante o dia para amenizar o calor. Além de lençóis, não há capotes na maioria das unidades fiscalizadas, obrigando servidores a usar equipamentos protetores descartáveis por até uma semana, ou manter um por leito para que os profissionais se revezem na assistência ao paciente, como registrado na UTI.

Outro problema encontrado no pronto-socorro é a falta de cadeira de rodas para levar pacientes para fazer exames – eles são levados em uma cadeira de banho. Recentemente, segundo relato dos próprios profissionais, faltou algodão no setor, e foram usadas gazes, um produto mais caro, em substituição.

Estão escassos também no hospital insumos como máscara N95, equipo com câmara graduada, materiais para curativo, hidrogel, óleo para prevenção e tratamento de feridas (AGE), saco coletor, suporte para soro, seringa de 20ml e agulha 40 x 12. Os lacres para carrinhos de parada cardiorrespiratória são custeados pelas equipes de enfermagem.

Já entre os medicamentos, funcionários enumeraram que não há omeprazol IV, benzetacil, dimeticona, simeticona, ácido fólico e sedativos. Exames de cultura e coagulograma também não estão sendo feitos no hospital.

Horas extras completam escalas
No pronto-socorro infantil, a classificação de risco só é feita à tarde e à noite, com pagamento de hora extra, por falta de pessoal. A sala de vacinas está sob a responsabilidade dos enfermeiros do PS infantil e só é aberta quando necessário, já que não há profissional fixo para o local.

Em alguns setores, a escala só é fechada com o pagamento de horas extras ou com o remanejamento de profissionais de enfermagem de um setor para outro, a fim de não comprometer a assistência. Só em agosto, foram liberadas mais de duas mil horas extras para enfermeiros e cerca de 4,3 mil horas extras para técnicos de enfermagem do Hospital do Paranoá. “O custo dessas horas extras para os cofres públicos é muito alto. Há concursados aguardando na lista de espera, o gasto com eles seria menor”, analisa a enfermeira fiscal Lorenna Melo.

Segundo dados do próprio hospital, existem 206 leitos ativos e 33 bloqueados por falta de profissionais e equipamentos, metade deles só na clínica médica. Na sala de expurgo do pronto-socorro, por exemplo, há apenas uma profissional com jornada de 20 horas semanais, o que é insuficiente para executar o serviço, resultando no acúmulo de material sujo por dias.

O relatório produzido pelo Departamento de Fiscalização do Coren-DF será encaminhado para a gerência de enfermagem do HRPa, com prazos para regularizações possíveis, e para o Ministério Público do Distrito Federal, juntamente com as constatações dos outros conselhos profissionais.

Fonte: Coren-DF



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