Em nova decisão, Humberto Fonseca retomou atendimento na Atenção Primária, mas manteve, até 30 de maio, suspensão de cirurgias eletivas
Por Kleber Karpov
Com a greve dos caminhoneiros, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) montou um grupo de gestão de crise, para garantir o ‘funcionamento’ dos serviços essenciais à população do DF. Se por um lado, o chefe do Executivo talvez consiga incorporar o discurso da garantia de manutenção do abastecimento de combustível, na Saúde, o governador responde por tabela com mais uma total falta de capacidade de planejamento do secretário de Estado de Saúde do DF (SES-DF), Humberto Lucena Pereira da Fonseca.
No que tange à Saúde, Fonseca editou a Circular SEI-GDF n.º 21/2018 – SES/GAB, em que determinou a suspensão do atendimento na Atenção Primária (AP) dois dias 26 a 28 de maio, bem o direcionamento, nesse período, dos servidores das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e demais unidades da AP para realizar atendimento nos hospitais do DF.
Fonseca foi além e também cancelou todos os agendamentos de consultas ambulatoriais e a realização de procedimentos cirúrgicos eletivos, o que prejudicou centenas de pacientes, muitos que aguardavam cirurgias por anos.
O resultado do contingenciamento, atribuído a greve dos caminhoneiros causou revolta entre os servidores, críticas de entidades sindicais, além de superlotações nos atendimentos de emergência dos hospitais. Porém, nesse caso, de profissionais de Saúde forçados a cumprirem escalas nas unidades hospitalares.
Reações
Para o presidente do Sindicato dos Médicos do DF, Gutemberg Fialho, o governador do DF deu “mais uma vez a gestão da saúde do DF dá um show de incompetência”. O sindicalista criticou a postura do GDF de, “em vez de manter a assistência perto do paciente”, os usuários do Sistema Único de Saúde do DF (SUS-DF) foram forçados a se deslocarem para hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), “dificultando o atendimento e aumentando o consumo de combustível.”.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (SINDATE-DF), Jorge Vianna, também condenou à medida que chamou de “atabalhoada”. “Isso foi uma medida que não teve conversa com os trabalhadores, não teve conversa com ninguém e fizeram isso aí prejudicando a população e jogando as contas nos caminhoneiros”.
Vianna também questionou a transferência dos servidores para atender nos hospitais e suspender o atendimento na AP, além da suspensão das cirurgias eletivas. “Eu não sei o que passou pela cabeça dele [Humberto Fonseca], um desespero, a inexperiência nesse momento falou mais alto.”, disse ao reafirmar a falta de capacidade de estratégia, em um vídeo gravado em rádio e em algumas unidades de saúde.
Para a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde do DF (SINDSAÚDE-DF), Marli Rodrigues, o contingencionamento de Humberto Fonseca, foi uma “clara demonstração de despreparo e falta de um real plano de contingência, apela para o improviso e submete os servidores à humilhação das ameaças: -Ou chegam nos hospitais gerais e UPAS ou serão penalizados.”.
Intenções escusas
Para alguns servidores, a circular do secretario de saúde era uma tentativa de justificar um novo decreto de emergência na Saúde. “O que eles querem é criar o caos na Saúde para o governador decretar estado de calamidade, procura aí que você vai encontrar”, justificou um servidor sob sigilo de identidade.
Reavaliação
Na tarde de segunda-feira (28/Mai), Fonseca fez uma reavaliação do contingenciamento de crise. O SES-DF restabeleceu o atendimento na AP e de consultas ambulatoriais nas UBS e Policlínicas. Porém, manteve a suspensão da realização de procedimentos cirúrgicos até a próxima quarta-feira (30/Mai). Isso sob argumento da possibilidade de redução de estoques nos hospitais.
Questionada sobre a possibilidade de se decretar um novo ‘estado de emergência’, a pasta não se manifestou sobre o assunto e se limitou a reafirmar a necessidade de suspensão dos serviços, em decorrência da greve dos caminhoneiros. “Os profissionais das UBSs foram remanejados para concentrar o atendimento na urgência e emergência dos hospitais.”.