Dieta específica ajuda no controle das crises de pacientes que tem resistência a medicamentos
Kelly Ikuma
Referência no atendimento a pacientes com epilepsia, o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) tem o primeiro e único ambulatório especializado da Rede Pública do DF em uma dieta específica para controle das crises convulsivas na infância. O local atende crianças de 6 meses até 15 anos, e o resultado da alimentação direcionada pode ser visto já nos três primeiros meses.
O agendamento pode ser feito pessoalmente no Hmib e os pacientes terão que ter em mãos o encaminhamento do neuropediatra da rede pública. O Hospital da Criança, Hospital Regional de Taguatinga, Hospital Regional do Paranoá, Hospital Regional da Asa Norte, Hospital Materno Infantil de Brasília e o Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica do DF são as unidades que poderão fazer esse encaminhamento.
O ambulatório de dieta cetogênica, como o espaço é chamado, atende apenas portadores de epilepsias refratárias na infância, ou seja, casos de difícil tratamento por meio de medicamentos. Os alimentos são ricos em gorduras, moderada em proteínas e pobre em carboidratos. Quando ingeridos, permitem uma incompleta queima das gorduras pelo fígado resultando em corpos cetônicos no sangue e na urina, que serão utilizados para produção de cetose, importante para o tratamento das crises.
A Superintendente da Região Centro-Sul, Denize Bomfim, ressalta a importância do atendimento especializado a esses casos, principalmente após aprovação do Projeto de Lei 41/2015 que institui o Programa de Prevenção à Epilepsia e Assistência Integral às Pessoas com Epilepsia no Distrito Federal. “A Região Centro-Sul abraçou esse compromisso de viabilizar uma assistência precoce e de qualidade aos pacientes com epilepsia, prevenindo assim, sequelas que podem levar o indivíduo a exclusão social”, relata.
Para a neuropediatra responsável pelo ambulatório, Ludmila Uchôa, ainda há muito desconhecimento sobre os benefícios da dieta por parte dos profissionais de saúde. “A dieta é uma medida terapêutica em potencial, com baixo custo e deve ser lembrada sempre nas epilepsias refratárias e, em algumas síndromes epilépticas da infância e deve até ser usada antes do caminho angustiante dos remédios e cirurgias”, explica especialista.
A pequena Beatriz Cristina, 2 anos, começou a dieta há um mês. Os benefícios já estão sendo vistos pela mãe da menina, Lázara Cristina. “Ela tomava três tipos de medicamentos. Agora, com um mês de dieta, já vamos retirar a primeira medicação”, conta, animada também com as alterações de comportamento da criança. “Ela antes ficava imóvel, agora já mexe os olhos. Também diminuiu o número de crises de convulsão”, completa.
Resultado
A dieta cetogênica possibilita redução superior a 50% das crises, em mais da metade das crianças, quando bem indicada, inclusive a cura das crises. Os benefícios alcançados não isenta o paciente dos efeitos colaterais, assim como qualquer medicação. Os mais comuns são vômitos, náuseas e constipação intestinal. Essa nova possibilidade de tratamento e prevenção proporciona uma melhor qualidade de vida da criança e da família.
Segundo a médica responsável pelo ambulatório, Ludmila Uchôa, estudos mostram que a epilepsia é uma condição neurológica grave de maior prevalência no mundo, acometendo entre 1% a 2% da população. Estima-se que existam 70 milhões de epiléticos no mundo e que cerca de 20 a 30% sejam refratários, isto é, as medicações foram utilizadas em doses máximas toleradas não conseguem cessar as crises e não há indicação cirúrgica.
Fonte: Agência Saúde DF