HRAN: enquanto se discute o teto cai



O diretor do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), José Adorno, acredita que o aprimoramento do diálogo e dos protocolos de atendimento vão mitigar os problemas e melhorar as condições de trabalho e de assistência naquela unidade de saúde. Enquanto a gestão não consegue implementar essa proposta, médicos e demais servidores e pacientes amargam uma situação que beira o insuportável.

Na noite da sexta-feira (2), o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho, recebeu médicos clínicos do HRAN, junto com gestores, para discutir os problemas e buscar soluções. Estiveram presentes o coordenador da Clínica Médica da Secretaria de Estado de Saúde (SES-DF), André Albernaz Ferreira, a diretora de Urgência e Emergência da SES, Julister Maia de Morais, a gerente de Apoio Diagnóstico e Assistência Multidisciplinar do HRAN Moema Campos, além do próprio Adorno.

A rotina dos clínicos do hospital para começar o plantão começa com concentração e exercício de respiração para buscar calma e paz interior para suportar as horas de sobrecarga de trabalho e de agressividade de pacientes descontentes. A primeira tarefa, segundo os relatos, é localizar uma cadeira para poder se sentar no consultório. Por vezes, os clínicos também têm que pedir à chefia da enfermagem para liberar a sala para poderem trabalhar e dar vazão à fila.

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Quando finalmente começa o plantão
Ao assumir o plantão começa a confusão. Em relato feito por uma médica sobre um de seus plantões noturnos, havia 50 pacientes internados nas alas do pronto-socorro sem evolução e prescrição. No box de emergência, onde a capacidade é de seis pacientes, havia nove. Isso obrigava a alternar a monitorização. Dos sete intubados, dois não estavam sob efeito de sedação por falta de Midazolam. Não raro, eles passam dias e dias, como se ali funcionasse uma UTI.

Desde a segunda quinzena de agosto o box de emergência está sem telefone, o que impede o fluxo normal de ligação para a central de regulação, para familiares, para a central de captação de órgãos.

Enquanto isso, apesar dos corredores tomadas por macas e cadeiras, continua a demanda para atender quem aguarda na porta, apesar de não haver pessoal suficiente para cuidar deles e dos internados. A equipe da classificação de risco manda entrar e os pacientes cruzam os braços nas portas dos consultórios, ameaçam, seguram, não deixam nem usar o sanitário ou tomar água.

Os médicos perguntam: qual é a prioridade? Quem deve ser atendido e quem deve deixar de ser? De quem é a reponsabilidade por quem não consegue atendimento?  A orientação básica é registrar tudo o que acontece no livro de ocorrências do setor. O responsável técnico direto deve ser acionado em casos acima da capacidade resolutiva do médico.

Ações mais assertivas são necessárias
Os recursos do Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde (PDPAS) já estão sendo usados até o limite máximo para aquisição de cada material e medicamento que falta. A falta de filme para exame de Raio-X se deve a um descompasso entre a necessidade existente e a instalação do sistema de digitalização. Falta tomografia e a endoscopia não funciona porque falta glutaraldeído para desinfecção dos equipamentos.

No final de semana após a reunião, um paciente de 56 anos, portador de um tumor na parede torácica foi atingido por destroços de uma parte do forro do teto que cedeu em função de uma infiltração.

Com certeza o bom fluxo da comunicação e protocolos bem estruturados podem ajudar a melhorar a situação no HRAN. Mas enquanto a Secretaria de Saúde não voltar a pagar as gratificações cortadas dos servidores admitidos depois de 2014 e não contratar médicos e outros profissionais em número suficiente, as filas dos pacientes, dos demissionários e dos servidores adoecidos vão aumentar.

Fonte: SindMédico-DF 



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