Intensicare é a empresa de UTIs envolvida no escândalo dos grampos



Após a divulgação de áudios da distrital Liliane Roriz sobre um suposto esquema de pagamento de propina para liberar recursos da saúde, a empresa, citada nas gravações de Marli Rodrigues, entrou de vez no foco do Ministério Público. A sede da terceirizada em Goiânia não condiz com uma empresa que movimenta milhões de reais

Por Guilherme Waltenberg, Carlos Carone e Kelly Almeida

Os grampos da distrital Liliane Roriz (PTB) têm ao menos um ponto em comum com as denúncias feitas nas gravações da sindicalista Marli Rodrigues. O elo nos dois escândalos é a Intensicare, empresa goiana responsável pela unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). A Intensicare, que opera desde 2010 sem licitação, entrou de vez no radar das investigações envolvendo desmandos na saúde, inclusive aquelas sob a batuta do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Em uma das gravações de Liliane, a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), cita um “projeto”, no qual seriam destinados R$ 30 milhões para a “UTI”. Essa UTI é justamente a de Santa Maria, gerida pela Intensicare. Apenas neste ano, já foram empenhados ao menos R$ 23 milhões para a empresa. Segundo levantamento do Metrópoles com base no Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo), a terceirizada já recebeu mais de R$ 200 milhões dos cofres públicos distritais desde que iniciou a operação na unidade.

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Essa mesma negociação de R$ 30 milhões foi citada nas conversas gravadas pela presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde em Brasília (SindSaúde-DF), Marli Rodrigues, com o ex-subsecretário de Logística e Infraestrutura de Saúde Marco Júnior. Na conversa, ele fala da liberação de valores entre R$ 22 milhões e R$ 30 milhões para a Intensicare.

No grampo, Marco Júnior conta que a destinação das verbas foi comemorada pelos deputados Robério Negreiros (PSDB) e Cristiano Araújo (PSD), que teriam envolvimento no processo, ao lado do ex-diretor executivo do Fundo de Saúde no DF Ricardo Cardoso. A celebração teria envolvido a visita a uma boate de striptease em São Paulo, chamada Scandallo Lounge. Na época em que o caso veio à tona, os três negaram irregularidades.

Agora, o nome de Cristiano Araújo é mencionado novamente. Em uma das gravações de Liliane vazadas nesta quarta-feira (17), o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves fala que o distrital “arrumou aquela parceria lá com as UTIs”. Ao dizer o quanto os “hospitais iam retornar”, Valério sussurra que seria “em torno de 7%”. Ao Metrópoles, a assessoria de Cristiano Araújo afirmou que ele não vai se pronunciar por não saber o conteúdo da investigação.

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Denúncia
A emenda aditiva que garantiu crédito suplementar para as UTIs partiu do gabinete da vice-presidência da Câmara Legislativa, ocupado por Liliane Roriz até a tarde desta quarta-feira (17). Ela renunciou ao cargo momentos antes da divulgação, na imprensa, dos grampos em que é mencionado o suposto esquema de pagamento de propinas para distritais em troca da liberação de recursos para empresas com contrato na saúde pública local.

Os valores repassados pela Câmara Legislativa à gestão das UTIs seguem um rito particular, por se tratarem de sobras orçamentárias. Nesse caso específico, apenas a Mesa Diretora da Casa pode elaborar o texto que pede a transferência de recursos. E são justamente os integrantes da Mesa — incluindo Liliane — que estariam envolvidos no escândalo, segundo os grampos da própria distrital.

Instalações precárias
A reportagem do Metrópoles foi até Goiânia para conhecer a sede da Intensicare, no Setor Marista. A fachada do prédio onde funciona a empresa que gerencia a UTI do Hospital Regional de Santa Maria é modesta, principalmente para um grupo empresarial que faturou R$ 23 milhões somente nos primeiros seis meses deste ano e mais de R$ 200 milhões nos últimos cinco anos apenas em Brasília.

Vidros sujos, estrutura corroída pela ferrugem e a ausência do outdoor com o nome da empresa dão a tônica de abandono na entrada do prédio. A recepção da Intensicare conta apenas com algumas cadeiras e uma bancada. Ao fundo, a porta que leva a uma área externa chama a atenção para a existência de duas grandes piscinas vazias, totalmente abandonadas e cheias de lodo. Nas duas bordas, ainda havia duas cestas de basquete. A impressão é de que a empresa ocupou a estrutura de uma antiga escola.

Subindo a escada em direção ao segundo andar do prédio, há um salão com várias estações de trabalho. No entanto, apenas cinco funcionários estavam no local. Mesmo sendo uma empresa de grande porte, com movimentação financeira milionária, a Intensicare não contava sequer com um portfólio dos serviços prestados.

Questionada sobre o trabalho que a empresa oferece, uma funcionária destacou, em um pedaço de papel escrito à mão, serviços da companhia, como a gestão de leitos de UTI. Em diversos momentos, a funcionária ressaltava que a empresa seria a “dona” do Santa Maria, um hospital público.

Governo Arruda
A Intensicare chegou em Brasília em 2009, quando assumiu a administração da UTI durante a gestão da Real Sociedade Espanhola no Santa Maria, ainda durante a administração José Roberto Arruda. A Real operava como organização social (OS) na saúde, modelo que o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) quer ativar novamente. Uma vez desfeito o contrato com a Real em 2010, devido a uma série de irregularidades na prestação de contas, a Intensicare permaneceu no comando do setor.

A estratégia utilizada pela empresa para se manter operando a UTI sem licitação já foi alvo de ao menos três representações do Ministério Público de Contas (MPC), entre 2012 e 2014. A empresa, segundo consta nos documentos, simula situações de emergência após interromper a prestação de serviços na UTI. Dessa forma, segundo o MPC, uma emergência é forjada e ela pode ser contratada sem processo licitatório.

Neste ano a empresa informou publicamente, no dia 8 de julho, que havia parado de receber novos pacientes na UTI do Hospital Santa Maria, que é a maior do Distrito Federal. Até o dia 26 de julho, pelo menos, eles ainda não estavam recebendo novos pacientes, alegando falta de pagamento, apesar dos milhões destinados à empresa.

Procurado para comentar as recentes denúncias, o proprietário da Intensicare, Rodrigo Teixeira de Aquino, não foi encontrado. No número de telefone da empresa, ninguém atendeu às ligações da reportagem.

Fonte: Metrópoles



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