“Isso se chama assassinato! É difícil ser cúmplice” afirma gestor do HRT sobre possíveis mortes de bebês por falta de insumo na neonatologia



Sem cateteres apropriados, recém-nascidos contraem infecção em decorrência de uso demorado de catéter umbilical

Por Kleber Karpov

Profissionais de saúde da neonatologia do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) apontam o desespero de tentar salvar vidas de recém-nascidos, sem insumos básicos para desempenharem as funções. Política Distrital (PD) teve acesso a uma conversa, no aplicativo Whatsapp, entre gestores do hospital que expõem a gravidade do caos da gestão da saúde pública do DF.

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Por se tratar de um grupo restrito de gestores do HRT, a pessoa em questão, além de sigilo da identidade, também solicitou para não publicar os posts ‘na íntegra’ de um grupo do hospital, ao repassar a denúncia. PD utilizará nomes fictícios para evitar a identificação das conversas entre os gestores, sobre a neonatologia do hospital.

Em uma das mensagens que ocorreram na sexta-feira (13/out), a Pessoa A informou aos demais membros do grupo a condição das evoluções dos recém nascidos :

“Então temos: Rn [Recém-Nascidos] do leito 1 (10 dias de cateter umibilical) e do leito 8 (7 dias de cateter) com abdome distendido, resíduos gástricos e dieta zero com antibióticos e pais cientes do quadro clínico. Direção dos hospital também ciente. Precisamos urgentemente de PiCCS [Cateter Central de Inserção Per​iférica] vamos ter mortandade em série na UTi Neonatal. Isso se chama assassinato! É difícil ser cúmplice!” disse a Pessoa A.

Em resposta, uma Pessoa B afirmou compartilhar do mesmo sentimento da Pessoa A, e falou da dificuldade de recebimento dos insumos, com a ressalva que obteve, do fornecedor, uma doação de um cateter para uma criança.

“Entendo sua preocupação e compartilho de seus sentimentos quanto a problemática apresentada. Administrativamente fizemos tudo que estava em nosso alcance. Estávamos aguardando a entregue que seria realizada hoje [13/Out], por meio de compra regular da SES. Até o momento, não houve confirmação da entrada do material no estoque da Farmácia Central. Por outro lado, fiz contato com um fornecedor que nos vendeu por último, este se prontificou em nos doar um cateter para uma criança. Já providenciamos a busca e a enfermeira da neo já ciente.”, respondeu a Pessoa B.

A Pessoa A, reconheceu o trabalho do colega B, e criticou  os “líderes” ao fazer alusão aos superiores hierárquicos. “Pessoa B, eu sem bem de seus esforços individuais! Estaríamos em outro patamar se nossos líderes tivessem a postura que você tem! Agrade;o a sua busca intensa mais uma vez!”, disse.

Porém, a Pessao A observou que a doação do fornecedor era insuficiente para resolver o problema e lamentou a morte de recém-nascidos na neonatolgoia do HRT.

“Mas infelizmente um PICC não cobre nossa demanda nem para hoje. É desesperador vermos esses pequenos seres morrerem por falta de algo tão simples. Será que semana que vem teremos a entrega? Eles deram prazo?”, desabafou.

A Pessoa B por sua vez esclareceu que “a subsecretária deu preivsão de entrega para hoje [(13/Out), o que não ocorreu]. Estamos na expecativa.”.

Demora e angústia

No dia seguinte (14/Out), a Pessoa A volta a perguntar pelos PICCs e alerta para o perigo aos recém-nascidos, em decorrência da demora do uso de cateter umbilical.

“Chegaram os PICCS? Estamos com bebê muito grave, já com infecção decorrente de cateter umbilical demorado.”, disse.

Como retorno, a Pessoa B, explicou que  a SES faturou 93 cateteres, mas que a empresa tem prazo de entrega de até sete dias. “Os piccs serão faturados hoje. Conversei com a empresa que venceu a dispensa [de licitação]. Salvo me engano a Secretaria adquiriu apenas 93 cateteres por dispensa de licitação com outro processo regular em curso. A empresa tem até 7 dias para entrega, falei da urgência e responsável pediu que a Secretaria encaminhasse e-mail relatando a urgência, para eles agilizarem a entrega. (SIC)”.

Sem receituários

Outro problema também foi abordado pelo grupo. A falta de receituários que segundo os profissionais de saúde, pode comprometer o atendimento dos pacientes.

“Sem receituários. O atendimento está com risco de parar. Onde posso mandar servidro do Ambulatório tirar cópia de receituários?”questionou uma Pessoa C. Por resposta uma Pessoa D explicou que seria necessário digitalizar e imprimir o documento, por impossibilidade de fazer cópia na DA [Direção Administrativa].

A pessosa C questiona a possibilidade de pegar emprestado em outras unidades. “Não podem nos emprestar? Upas? HRSAM [Hospital Regional de Samambaia]? E lê a resposta da Pessoa D, explicando que a gráfica da Secretaria de  Estado de Saúde do DF (SES-DF) “não está distribuindo formulários para ninguém. Não tem papel”.

De volta a Pessoa C reafirma ser um problema a falta de receituários no HRT. “Receituário comum estamos fazendo no verso de qualquer outro impresso, apesar de ja ter havido recusado do posto de saúde em atender. Receituário controlado não tem jeito de fazer isso.”, disse ao observar que ao menos 3 mil pacientes são atendidos na unidade semanalmente. “Por dia o Ambulatório atende de 400-600 pacientes. Então será em torno de 3000 pacientes por semana sem serem atendidos.”, concluiu a Pessoa C.

O que diz a SES?

PD entrou em contato com a SES-DF para apurar a falta de cateteres na neonatologia e de receituários nas estruturas do HRT. Por meio de nota a Pasta informou que fez empenhou o copra do cateter umbilical, que deve ser entregue em até 30 dias. A secretaria informou ainda que a compra dos PICCS for finalizada e aguarda a entrega por parte dos fornecedores.

“A Secretaria de Saúde informa que a compra do cateter umbilical foi empenhada em 13/10. Após recebimento do empenho, a empresa tem até 30 dias para entregar. Já o cateter de inserção periférica tem estoque regular para o infantil, infanto-juvenil e idoso. A compra dos cateteres de inserção periférica adulto e neonatal foi finalizada e aguarda-se entrega por parte dos fornecedores.

Quanto à impressão de receituário, a pasta esclarece que o processo de aquisição de papel está em andamento. A impressão está sendo realizada, priorizando os formulários que apresentam maior demanda.”.

Atualização: 18/10/2017 às 15h53 para correções



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