Com a chegada das primeiras chuvas após o período de seca, a saúde pública entra em alerta. Com as águas que adentram as tocas dos roedores, a urina desses animais é levada para a superfície, carregando a bactéria leptospira, a causadora da leptospirose. Nas áreas urbanas, os ratos e ratazanas são os grandes transmissores dessa doença. Eles habitam os esgotos e aproveitam a fartura de alimentos para garantir a sobrevivência, porém acabam levando grave risco à saúde humana.
A leptospirose traz muitos prejuízos à saúde podendo levar à morte nos casos mais graves. No Distrito Federal foram registrados 17 casos confirmados em 2019. Para evitar a proliferação desses animais, e por consequência a disseminação da leptospirose, a Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) faz o controle nos locais com maior disponibilidade de alimentos para os roedores.
As áreas de maior incidência mapeadas no DF são a Rodoviária do Plano Piloto, as feiras, o Setor Comercial Sul e a Região Administrativa de Águas Claras, locais que geralmente têm maior fluxo de pessoas e restos de alimentos.
O controle natural dos roedores dá-se pelas condições de higiene e o acondicionamento correto do lixo. A utilização de veneno somente não consegue controlar o número de roedores. Nesse caso, é necessário o manejo ambiental.
A doença e sintomas
O contágio ocorre através da pele com lesões, pele íntegra imersa por longos períodos em água contaminada ou através de mucosas.
Os sintomas podem levar de um a 30 dias para aparecer, mas normalmente ocorre entre sete e 14 dias. A leptospirose tanto pode ser assintomática como, nos casos mais graves, levar à morte. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, cerca de 40% das ocorrências são graves.
Investigação epidemiológica
Quando uma pessoa contrai a leptospirose, é feita uma investigação epidemiológica para identificar o local onde ocorreu a infecção e é feita ação de bloqueio com produto químico, além de ações educativas realizadas pela equipe da zoonose e a equipe de vigilância ambiental de cada região de saúde.
“O trabalho que a gente faz é quando tem um caso humano é uma investigação para tentar determinar se essa pessoa adquiriu a doença na própria casa, no trabalho ou numa atividade de lazer. Assim tem início a investigação para determinar o Local Provável de Infecção, ou LPI”, descreve o médico veterinário Frederico Tôrres Braz.
O veterinário explica que há uma alta incidência desses animais em locais de grande concentração populacional devido à forma de armazenamento do lixo de maneira inadequada.
“Águas Claras é uma cidade que vem tendo muito problema por conta dos condomínios verticais, muita gente morando em locais próximos, poucos contêineres para armazenar esse lixo, muitas vezes abarrotados, não ficam bem lacrados, então fica essa disponibilidade de alimento e aumento o número desse roedor”.
Braz frisa que é a disponibilidade de alimentos que faz com que a população de ratos aumente. Se naquela região tiver alimentos para 50 ratos, vai ter 50 ratos. Se tiver alimento para 300 ratos vai ter em torno de 300 ratos”, exemplifica. O veterinário esclarece que a reprodução desses animais dá-se de forma muito rápida, no entanto os roedores possuem um mecanismo de controle que fica restrita a disponibilidade de comida para que os membros da colônia não passem fome.
O período mais crítico de transmissão da leptospirose são as estações chuvosas, quando a água e a lama dos esgotos sobem à superfície durante as enchentes, carregando a bactéria.
Atendimento na rede pública de saúde
Quando um paciente apresentar os primeiros sintomas deve buscar atendimento nas unidades de saúde conforme a gravidade dos sintomas. O acolhimento pode ser feito nas unidades básicas de saúde, hospitais, Unidades de Pronto Atendimento ou, no caso de acompanhamento e tratamento, nas policlínicas e ambulatórios.
A gerente de Apoio à Saúde da Família Tamara Correia Alves Campos explica que quando chega um paciente com suspeita de leptospirose, ou outras doenças transmitidas por animais, a Assistência comunica a Vigilância Epidemiológica de qualquer do Hospital ou da região de saúde pela Notificação Compulsória e/ou Sistemas de Notificação como o Sinan.
“A partir daí a Vigilância passa a apoiar a Assistência (UBS, hospitais, UPAs) na Investigação/fechamento dos casos. Muitas das vezes, e dependendo do agravo, a Vigilância Epidemiológica aciona a Vigilância Ambiental para colaborar na Investigação de Campo ou as Áreas Técnicas da SVS/Divep”, esclarece Tamara.
Alerta para a população
A população deve ficar alerta e não utilizar, como medida de controle dos roedores, produtos químicos sem a devida orientação técnica de profissional habilitado. Esse procedimento pode acarretar envenenamento de crianças e de animais domésticos e não eliminar os roedores. Mais orientações podem ser obtidas na Gerência de Zoonoses, por meio de telefone (61) 2017-1342 ou do e-mail [email protected].