Máfia das próteses tentou matar testemunha com injeção letal



O Metrópoles teve acesso a detalhes da investigação que apontam uma segunda tentativa de homicídio contra a mulher. Homens invadiram a casa dela, em agosto. Ação antecipou operação que prendeu 13 pessoas, entre elas sete médicos no DF

Por Carlos Carone

O material metálico de 53 centímetros deixado na jugular da principal vítima da máfia das próteses que agia no Distrito Federal foi apenas uma das formas de tentar calar para sempre a testemunha. O Metrópoles teve acesso exclusivo a detalhes da investigação que apontam uma segunda tentativa de homicídio contra a mulher, de 34 anos. Homens invadiram a casa dela e aplicaram uma injeção em sua veia, que deveria ter sido letal.

A nova tentativa de homicídio ocorreu na madrugada do dia 14 de agosto, por volta de 5h, enquanto a vítima dormia. Os suspeitos entraram na casa pulando o muro e surpreenderam Ana (nome fictício) enquanto ela dormia. A substância foi aplicada e algum tipo de tubo colocado em seu nariz. Às 5h50, policiais da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco) foram acionados e chegaram até a residência da vítima.

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Os investigadores notaram as marcas de agulha no braço da testemunha e começaram a trabalhar na hipótese de “queima de arquivo”. Ana guardava em sua casa uma série de documentos que incriminavam médicos, funcionários de hospitais e empresas fornecedoras de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs). Provas que envolviam todos num grande esquema criminoso.

Tratava-se de prontuários médicos, ordens de pagamentos e pedidos de compra de materiais desnecessários para a realização de cirurgias. Os papéis, que confirmavam o superfaturamento de muitas intervenções cirúrgicas, sumiram da casa da testemunha.

Os investigadores pegaram as gravações feitas por câmeras de segurança instaladas em casas vizinhas e que flagraram a passagem insistente de um veículo na frente da residência de Ana. As imagens estão sob análise da Deco. Após ser socorrida, a mulher foi levada para o Instituto Médico Legal (IML) e foi submetida a exames toxicológicos, passando a ficar sob escolta da polícia. A ação dos criminosos acabou adiantando o desencadeamento da operação Mister Hyde, deflagrada na última quinta-feira (1º/9).

A primeira cirurgia da mulher no Hospital Home foi em dezembro de 2014. Ela havia dado um mau jeito na coluna e fez 10 sessões de fisioterapia. Sem avanço na recuperação, a equipe médica do hospital sugeriu o procedimento, com a colocação de quatro parafusos e duas placas na coluna. “Tive infecção e, em janeiro, fiz o segundo procedimento. Depois, em um ano, fiz outras quatro cirurgias. No fim do ano passado, em uma delas, foi deixado o fio na minha jugular”, contou.

A reportagem procurou o advogado da testemunha, Jean Cleber Garcia – que defende outras três vítimas da máfia das próteses –, mas ele preferiu manter o assunto sob sigilo. “Só posso dizer que estamos acompanhando o caso de perto e ajudando as investigações com todas as informações possíveis”, resumiu.

O esquema
Segundo a investigação dos promotores e dos policiais civis, o grupo usava os procedimentos cirúrgicos para ganhar cada vez mais dinheiro. Entre as 13 pessoas presas na Operação Mister Hyde, estão médicos e representantes de empresas fornecedoras de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs). Destas, cinco foram soltas na sexta (2/9).

Segundo as investigações, cerca de 60 pacientes foram lesados em 2016 somente por uma empresa, a TM Medical. O esquema teria movimentado milhões de reais em cirurgias, equipamentos e propinas. Há casos de pacientes que foram submetidos a procedimentos desnecessários, como sucessivas cirurgias, para que gerassem mais lucro aos suspeitos. Em outros, conforme revelado pelas investigações, eram utilizados produtos vencidos e feita a troca de próteses mais caras por outras baratas.

Fonte: Metrópoles



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