Imagine médicos especialistas que mantêm vínculo com o paciente, conhecendo o histórico de saúde e as dificuldades do dia a dia, sabendo, inclusive, as relações familiares e as condições da região de moradia. Profissionais capazes de atender desde bebês até idosos, resolvendo mais de 80% das demandas de saúde e, se necessário, ainda fazer os encaminhamentos necessários a outra área. Tudo isso, sem deixar de acompanhar cada etapa. Sim, esses especialistas existem e constituem a linha de frente na maioria dos atendimentos realizados na rede pública. Por esse motivo, são homenageados nesta terça-feira (5), Dia do Médico de Família e Comunidade.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) conta com 509 profissionais dessa especialidade. Eles atuam, principalmente, nas equipes de Saúde da Família (eSF), vinculadas à rede de 175 unidades básicas de saúde (UBSs). “É um profissional que deve, sobretudo, gostar de gente. Não só atender o indivíduo, mas se interessar pelo modo como essa pessoa vive, onde e como está estruturada a família dela e a comunidade ao redor. O médico de família e comunidade precisa de conhecimento amplo sobre as diversas áreas da medicina e da sociedade”, afirma a médica Paula Lawall, da Coordenação de Atenção Primária à Saúde da SES-DF.
Atuação
“Não só atender o indivíduo, mas se interessar pelo modo como essa pessoa vive, onde e como está estruturada a família dela e a comunidade ao redor. O médico de família e comunidade precisa de conhecimento amplo sobre as diversas áreas da medicina e da sociedade”médica Paula Lawall, da coordenação de Atenção Primária à Saúde da SES-DF
A rotina é diversificada. Seja nas visitas domiciliares da eSF, nos consultórios das UBSs ou nos Consultórios na Rua, os médicos de família e comunidade tratam de todos os tipos de demandas. São servidores que atuam no pré-natal, no acompanhamento da criança que cresce, na assistência a pacientes com doenças crônicas diversas, no atendimento em saúde mental, nas indicações ao tratamento contra cigarro ou álcool, no enfrentamento à obesidade, e a lista continua.
“O médico de família e comunidade realiza atendimento a todos os pacientes, independente da idade, da condição de saúde e do ciclo de vida. Ele acompanha a pessoa ao longo da vida, desde o pré-natal, o desenvolvimento da criança, a adolescência, a vida adulta e o envelhecimento”, resume a médica da SES-DF Alice Ponte Lima, que realiza atendimentos na UBS 1 do Guará. Ela destaca a atuação em conjunto a outros profissionais da eSF, como enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Há ainda a parceria com farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos, entre outros.
Essa multiplicidade de atuações em na UBS perto de casa é elogiada pela auxiliar de serviços gerais Flávia Barbosa, 40 anos. Com seis filhos, de idades entre 7 e 24 anos, ela é usuária da unidade localizada no Arapoanga, onde tem atendimento para si e seus filhos. “É muito bom ter esse profissional de saúde que pode avaliar não só o paciente, como o ser humano. Eu me sinto segura”, afirma. Em uma única consulta, ela fala desde o acompanhamento ginecológico até uma investigação em saúde mental.
Quem atende Flávia é o médico Arthur Fernandes da Silva, acostumado a identificar, tratar e acompanhar muitas demandas de saúde ao mesmo tempo. “Às vezes, no primeiro contato, há muitas coisas a serem resolvidas que não cabem em uma consulta só. Mas como a UBS se encontra no território, perto de onde as pessoas vivem, conseguimos ter outros encontros”, conta. Referência Técnica Distrital na área de medicina de família e comunidade, o profissional destaca tanto a necessidade de o especialista da área gostar de lidar com pessoas quanto identificar equipamentos e características da comunidade que possam dialogar com questões de saúde, como a disponibilidade de calçadas para caminhadas, os Pontos de Encontro Comunitário (PECs), hortas, feiras etc.
Evitando filas
Apesar de o caráter preventivo se destacar, médicos de família e comunidade também atendem demandas de pequenas emergências. São casos de gripe, dor de cabeça, diarreia, dor de barriga, pico de pressão, descontrole do diabetes ou mesmo sintomas da dengue. Dessa forma, há atendimento rápido a pacientes de baixa complexidade que poderiam aguardar por horas em unidades voltadas a casos mais graves, como os hospitais e unidades de pronto atendimento (UPAs).
Foi a escolha da Letícia Mendes, 41, mãe de Amanda e Luana, de 5 e 4 anos, respectivamente. As meninas estavam gripadas, porém com baixa gravidade. Na UBS, o atendimento foi rápido e ainda Leticia ainda recebeu os medicamentos prescritos. “É o caminho mais tranquilo”, revela a mãe.
Picadas de inseto, dor de dente, mordedura ou arranhadura de animais, palpitações e pequenos ferimentos também fazem parte do rol de situações que podem ser resolvidas na rede de UBSs. Por outro lado, se a avaliação indicar algum risco de agravamento, é feita a transferência a uma unidade de maior complexidade.
Atendimento em todo o DF
A medicina de família e comunidade começou no Brasil nos anos 1970, com o início dos primeiros sistemas de saúde comunitária e se aprofundou ainda naquela década com o início dos programas de residência na área. As diretrizes de descentralização e de fortalecimento da Atenção Primária à Saúde ganharam destaque com as leis nº 8.080 e nº 8.142, ambas de 1990, que balizaram a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
No DF, além dos médicos da especialidade, a rede pública conta com o suporte de quase 100 servidores que realizam residência médica para a especialização na área. São dois anos de formação, envolvendo teoria e trabalho prático nas UBSs e nas eSF. Também há o reforço de profissionais do programa Mais Médicos, do governo federal. Assim, todas as 623 equipes da eSF da capital contam com ao menos um desses médicos.
É possível cada cidadão saber qual a sua UBS de referência por meio do endereço residencial, no portal do InfoSaúde.