4.845Número de bebês que foram alimentados, de janeiro a abril deste ano, graças a 2.140 mulheres aptas a fazer as doações
Cecília estava na 26ª semana de gestação quando a pequena Crystal nasceu, pesando 575 g e com 27 cm. A bebê teve de ficar internada por cinco meses até conseguir respirar sem o apoio do oxigênio e chegar aos 3,05 kg. Nesse período, ela precisou do apoio do banco de leite humano para ser nutrida. “Tinha dias que eu não conseguia produzir 30 ml de leite e minha filha ficava com fome. A Crystal precisou muito do apoio do banco de leite”, relembra a mãe. Hoje aos 6 meses, a criança está em casa, saudável e pronta para começar novas fases na vida.
Crystal é um dos 4.845 bebês que foram alimentados, de janeiro a abril deste ano, graças a 2.140 mulheres aptas a fazer as doações. Mas, além da doação, é fundamental que o trabalho de coleta, pasteurização, divisão em porções e distribuição seja rigorosamente seguido. É esse o trabalho dos bancos de leite humano.
No Banco de Leite do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), a busca pelo leite começa às 8h, quando os militares do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) saem para fazer a rota da coleta. Duas equipes passam por Águas Claras, Areal, Arniqueira, Taguatinga e Vicente Pires.
Doação
Uma das paradas é na casa da engenheira eletricista Lorena Ribeiro, 31 anos. Ela tem dois filhos e foi doadora nas duas oportunidades. Lorena conta que produzia muito leite e que o primeiro filho, Pedro, não ficava saciado. “Frequentemente pedia para mamar, mas eram curtas, como se estivesse se afogando com os jatos de leite entrando na boca”, relata. Aos três meses dele, ela procurou o apoio do banco de leite para tirar dúvidas sobre a amamentação e recebeu a instrução de que tinha de tirar um pouco no início para diminuir o volume de leite.
Assim, também conheceu o programa e começou a fazer parte. Lorena doou por quatro anos. Há quatro meses, nasceu a pequena Isabella. Novamente, a mãe identificou que o volume era acima do suficiente para a filha e que ela estava engasgando; assim procurou o banco de leite para voltar a ser doadora.
“Um projeto totalmente gratuito, mas que salvou os meus filhos de um desmame precoce. E só de saber que uma produção natural minha é capaz de ajudar outras crianças, é maravilhoso”, afirma. Lorena doa cerca de dois litros por semana. Nesta semana, o leite foi colhido pela subtenente do Corpo de Bombeiros Agda Lúcia Marcelo Gomes.
Coleta
“Eu não busco leite, busco vidas”, afirma subtenente Agda, que há 18 anos desempenha a função de coletar o alimento de casa em casa. “Há crianças que eu busquei o leite quando elas estavam mamando e hoje são mães que doam o leite para mim”, conta.
As equipes vão com a caixa térmica monitorada com termômetro, na qual os leites ficarão armazenados no trajeto. O tempo para esse deslocamento é controlado e, mesmo com os recipientes refrigerados, só é permitido o tempo máximo de seis horas da coleta do primeiro leite até a chegada ao banco de leite, independentemente da quantidade de doadoras. “Visamos preservar o leite, pois buscamos pela qualidade e não quantidade de leite materno”, explica a militar.
O trabalho da subtenente acontece por conta da parceria da Secretaria de Saúde com o CBMDF. Ao todo, 24 militares realizam a coleta domiciliar e o transporte do leite humano. Esse apoio é feito em Brazlândia, Ceilândia, Gama, Paranoá, Planaltina, Plano Piloto, Santa Maria, Samambaia, Sobradinho e Taguatinga.
Os frascos são etiquetados com informações sobre a data da coleta do leite, o nome da doadora, o nome do militar responsável pela busca e a quantidade em cada recipiente. As coletas domiciliares são realizadas de segunda a sexta-feira, conforme agendamento com a equipe dos Bombeiros.
Armazenamento
Ao chegarem ao banco de leite, esses recipientes serão higienizados com álcool 70% e esterilizados. Os potes com o produto ficarão em um freezer em temperatura negativa. Todos vão passar por um cadastro do DataSus, no qual estará registrado o dia que o leite foi coletado pela mãe, o dia em que foi recolhido em casa e dados do cadastro da doadora. “Uma pessoa com acesso a essas informações pode estar no Japão e ter a garantia precisa das informações de qualidade na condição que aquele leite chegou ao banco”, garante a chefe do Banco de Leite do HRT, Graça Cruz.
Esse leite terá uma parte do material coletada para análise e pode ficar armazenada sem passar por uma pasteurização por até 15 dias. Assim, o banco prioriza os leites com a data de coleta mais antiga. O importante é que o material nunca seja recongelado.
Pasteurização
Na data apropriada e definida, em período de até 15 dias, o leite vai ser retirado desse freezer e transferido para caixa térmica com termômetro. Essa caixa será colocada em um compartimento só para ela, como uma janela entre a sala de armazenamento e a de pasteurização. Um lado dessa janela deve ser fechado para o outro ser aberto, em um ambiente esterilizado. “O processo todo busca reduzir ao máximo qualquer risco de contaminação”, explica Graça Cruz.
O leite será descongelado em banho-maria. O método consiste em aquecer de forma lenta e uniforme uma substância existente em um recipiente colocado em contato com o vapor d’água. Após essa etapa, o leite será aquecido a uma temperatura de 62,5°C. Ao atingir a medida, deve ser rapidamente resfriado, em um intervalo de 15 a 20 minutos, para 5ºC.
“É um processamento do leite que faz parte do controle de qualidade e da inativação de micro-organismos prejudiciais à saúde. Por esse processo, 99,9% de todos patógenos são eliminados”, informa Graça. Em seguida, o leite volta a ser congelado e pode ficar armazenado por até seis meses. “Isso significa que esse leite pode alimentar uma criança que ainda nem nasceu.”
O HRT pasteuriza seis litros diariamente, de segunda a quinta-feira. Durante a ação, é coletada amostra desse leite, que será levada para análise, que identifica calorias e acidez. Essas informações serão etiquetadas junto com a data que o alimento foi pasteurizado.
Porcionamento e distribuição
Com os dados de cada leite doado, o material será distribuído de acordo com a indicação médica para a necessidade dos recém-nascidos. “Um bebê cardiopata precisa mais de um leite com calorias do que um bebê prematuro, que necessita de anticorpos”, compara a chefe do Banco de Leite do HRT.
O médico prescreve o tipo ideal de leite para aquele bebê e a quantidade exata. Com essas informações, a equipe responsável pelo porcionamento separa o leite que será encaminhando para as crianças. Esse transporte também segue em caixa térmica com termômetro. O líquido ficará em um potinho que poderá ser dado direto para a criança.
Parceria
Além de todas as funções para promover a alimentação de bebês, o banco de leite tem parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), por meio do Bolsa Maternidade. As mães de recém-nascidos em situação de vulnerabilidade contam, desde maio de 2020, com o auxílio que garante enxoval com 21 itens, entre roupinhas, fraldas e mantas.
A mãe de primeira viagem Julia Gomes Batista, 21 anos, passou por todos os processos de apoio do banco de leite. Quando a pequena Lis nasceu precisou de doação no seu primeiro dia de vida. Agora que a pequena tem 23 dias e consegue mamar o suficiente, a mãe doa o que a filha não dá conta. Recentemente, ela foi buscar o auxílio da Bolsa Maternidade. “Quero ajudar, porque minha filha, quando precisou, teve. Agora posso fazer pelos outros o que fizeram por ela”, agradece.
Mês de Doação de Leite Materno
No dia 19 de maio se comemora o Dia Nacional e Mundial de Doação do Leite Humano. Ações de divulgação do tema acontecem ao longo de todo o mês, mas a doação pode ocorrer ao longo de todo o ano. Para doar, ligue no Disque Saúde 160, opção 4.