Negligência de Rollemberg pode causar tragédia sem precedentes
Por Kleber Karpov
Na manhã desta quarta-feira (28/Fev), uma composição do metrô que saiu dos trilhos na chegada da estação de Arniqueiras, em Águas Claras, sentido Plano Piloto. Segundo a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) ninguém se acidentou pois o veículo estava em recolhimento. Mas, uma servidora do órgão apontou, o que chamou de negligência na manutenção dos trilhos o que pode revelar que, caso o sistema metroviário do DF continue a ser tratado sem a devida atenção, uma tragédia pode acontecer em breve.
Sob sigilo de identidade, a servidora informou ao Politica Distrital (PD) que, em 2016 houve dois incidentes de descarrilamentos, dentro da linha de manutenção, no pátio de manobra. “Esses acidentes ocorreram em uma região onde não tem sinalização eletrônica, o processo de manutenção é realizado por pessoal da empresa terceirizada e tem pessoas sem preparo técnico operacional para realizar procedimentos nos equipamentos.”, disse.
Ainda de acordo com a servidora, os descarrilamentos ocorreram por déficit de pessoal. “Mas, o descarrilhamento de hoje, não tem relação com o do ano passado. O do ano passado ocorreu no setor operacional e foi por erro humano, mas isso também ocasionado por problemas de gestão pois deveria ter um piloto é um alinhador. Porém, o que ocorreu é que havia apenas uma pessoa conduzindo o trem e fazendo o alinhamento. Então ele faz o alinhamento, sobe no metrô, leva o trem pra frente, desce, realinha, sobre, vai para trás, até deixar alinhado, e numa dessas, houve o descarrilhamento.”, Explicou.
Alerta
Porém, a servidora apontou problemas graves em relação a manutenção do sistema metroviário. De acordo com a trabalhadora, a gestão do Metrô se utiliza de “meios paliativos”, o que pode acentuar o desgaste natural dos trilhos.
“A última manutenção foi feita em 2009. A manutenção de socamento de brita e contra-trilho deveria acontecer a cada dois anos. O esmerilhamento, que é feito com uma máquina que passa sobre o trilho para fazer o alinhamento deveria acontecer a cada 12 a 18 meses e isso não tem acontecido. No caso do socamento de brita, um veículo auxiliar, que a gente chama de VA, deveria passar por cima dos trilhos. Esse aparelho levanta o trilho, despeja a brita e faz a compactação. Só que o que tem acontecido aqui é que passam com um caminhão que despeja a brita e fazem uma compactação manual. O que extremamente perigoso pois isso pode causar ondulação no trilho, tipo uma espécie de calo.”, explicou.
Pontos críticos
Ainda de acordo com a servidora, a manutenção inadequada da malha de trilhos do metrô, em questão de tempo, deve resultar em tragédia. “O descarrilhamento de hoje ocorreu em local plano, onde não tem curva, fora de um ponto crítico. Nós temos vários pontos críticos, como a ponte na Ceilândia e via Asa dois, próxima à estação Asa Sul, no sentido Plano Piloto e a Furnas, via quatro, voltando de Samambaia, por exemplo. Então, com esse tipo de manutenção que estão fazendo, infelizmente esse tipo de acidente vai acontecer novamente e pode matar muita gente. Não tenho dúvidas disso. É questão apenas de quando e onde. Por isso estou trazendo essa denúncia pois além dos passageiros, nós servidores, também podemos nos tornar vítimas.”, afirmou.
Falsa economia
A servidora criticou ainda a ‘economia’ de R$ 50 milhões, anunciadas pelo Metrô-DF e ‘investimentos’ desnecessários, quando o sistema metroviário tem “outras prioridades”.
“O metrô arrecadou 50 milhões nos últimos três anos. Se você pesquisar no mercado, vai ver que tem algumas máquinas que fazem esse alinhamento, deve custar algo em torno de R$ 100 mil para fazer, mas não fazem. Ficam colocando estação alimentada com energia solar, reduzindo o quadro de pessoal qualificado, não fazem nomeações, em nome de uma falsa economia que pode custar caro ao Estado e aos cidadãos, enquanto o que deveria ser prioridade é totalmente ignorado.”, disparou.
Servidor aponta problema e pede solução
PD teve acesso ao Relatório de Ocorrência, de agosto do ano passado, em que um servidor do Metrô-DF, encontrados ao longo da via permanente. No relatório, o servidor aponta a deterioração da via permanente e a “perda se segurança, redução da disponibilidade de uso, fadiga do material rodante e desgastes dos trilhos”, problemas que segundo o profissional, poderiam ser evitado com manutenção preventiva e preditiva dos trilhos. O trabalhador alertou ainda que o último trabalho de manutenção corretiva foi realizado em 2011.
Falha de Freios
Na reportagem do DFTV 1a Edição da Rede Globo, problemas com o sistema de frenagem do metrô foi apontado como uma das possíveis causas do acidente. No entanto, a servidora refutou tal versão.
“O trem só descarrilha se estiver acima de 60km/h. Quando há problemas de freio, o piloto faz um interrompe o sistema de freio, reduz a velocidade e segue a 20km/h, porque é responsabilidade dele [condutor] se houver problemas com os freios, e ele deixar de seguir esse procedimento, caso ocorra algum acidente.”, disse.
O que diz o Metrô-DF
PD conversou com o diretor de Operações de Manutenção do Metrô-DF, Carlos Alexandre sobre a realização de manutenção da malha metroviária. Em relação ao ao socamento de brita, Alexandre informou que a última manutenção completa ocorreu há sete anos. Questionado sobre a necessidade de realização do procedimento a cada dois anos, o diretor afirmou, no entanto, que manutenções constumam ser realizadas, “de acordo com a necessidade da via.
“O metrô de São Paulo, por exemplo, tem um intervalo menor que o nosso. Elas [as manutenções de socamento de brita] são feitas pontualmente assim que são detectados problema de nivelamento. Mas, ao longo da via inteira é que faz sete anos.”, afirmou.
Quanto ao contra-trilho, Alexandre explicou que se trata de um componete de segurança do metrô, para casos de descarrilhamentos. “Se houver um problema de descarrilhamento ele vai cair no contra-trilho.”, disse ao afirmar que o equipamento não sofre desgastes. “A manutenção é praticamente zero. Ele não sofre desgastes.”.
Quando ao esmerilhamento dos trilhos, Alexandre explicou que serve para “refazer o perfil do boleto do trilho, onde a roda do trem passa no trem passa no trilho. Segundo o diretor do Metrô-DF, esse tipo de manutenção deve ser realizado a cada sete anos. “Nós já estamos com o processo de termo de referência pronto para licitarmos. A estimativa de gasto é de R$ 4 milhões para a via inteira.
Profeta?
Quem se surpreendeu com o acidente foi a deputada distrital, Celina Leão (PPS). Como se tivesse previsto o futuro, coincidentemente, a parlamentar utilizou a tribuna, a tarde de terça-feira (27/Fev), ocasião em que anunciou a realização de uma audiência pública para tratar do sistema metroviário, incluindo a falta de segurança. Na ocasião, Celina Leão cogitou a possibilidade de ocorrer um acidente no Metrô-DF.
“Nós vamos fazer uma audiência pública sobre o metro, sobre a questão da segurança do metrô. Sabe porque deputado Wellington. Sabe quando o metrô entra nas grandes pautas? Quando nós temos um carnaval ou alguma coisa e as pessoas veem a fragilidade hoje que passa o Metrô-DF. Será que vai esperar ter uma tragédia como teve a da ponte para fazer uma intervenção verdadeira no Metrô-DF. O Metrô-DF está sendo sucateado”, disse.
Após o acidente, ao PD, a distrital afirmou que deve acionar o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e o Tribunal de Contas do DF (TCDF) para que apurem os contratos de manutenção Metrô-DF.
Auditoria e investigação
Outro a se manifestar sobre o descarrilhamento do metrô foi o senador Hélio José (PROS-DF). Em setembro de 2016, o parlamentar realizou uma audiência pública no Senado Federal para tratar das condições de trabalho no Metrô-DF, causadas especialmente pela falta de pessoal. Na ocasião, o parlamentar chegou a apontar o sucateamento de sistema elétrico e falta investimento em quadro pessoal estão entre possíveis causas de sucessivas falhas naquele órgãos.
Em relação ao acidente, Hélio José seguiu também informou que deve oficiar os órgãos de controle e cobrar que se faça uma auditoria em relação a todos os contratos de manutenção do Metrô-DF.
“Não consigo conceber que mesmo após tantas denúncias em relação ao Metrô-DF, com o sucateamento do sistema elétrico, com a falta de quase mil servidores, com os desabamentos que temos visto acontecer no DF, que um meio de locomoção, responsável pelo deslocamento de milhares de pessoas, por viagem, possa expor a vida dos cidadãos que moram nas áreas atendidas pelo Metrô-DF, e também dos servidores e funcionários que trabalham no Metrô-DF. Nós vamos oficiar o Tribunal de Contas e o Ministério Público pedindo que haja uma auditoria em todos os contratos de manutenção do Metrô e também que se apure se há negligência e que se apure as devidas responsabilidades dos gestores e até mesmo do senhor governador do DF, o senhor Rodrigo Rollemberg que parece fazer vista grossa a falta de gestão no seu governo.”, disparou Hélio José.
Atualização: 28/2/18 às 20h23