Em operação deflagrada pelo Ministério Público, equipes da Decap e da Corf estão desde às 6h desta terça-feira (23/8) na sede do Legislativo local. O alvo da ação é a Mesa Diretora da Casa. Justiça mandou afastar o colegiado e Juarezão (PSB) assume a presidência do Legislativo local
Por Mirelle Pinheiro, Guilherme Waltenberg e Maria Eugênia
Equipes da Polícia Civil estão desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (23/8) na Câmara Legislativa. A operação ocorre uma semana depois de os áudios feitos pela deputada Liliane Roriz (PTB) sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo parlamentares serem divulgados. Estão sendo cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e oito de condução coercitiva, além de afastamento cautelar. O alvo da ação é a Mesa Diretora, composta por cinco parlamentares: Celina Leão (PPS), presidente; Raimundo Ribeiro (PPS), 1º secretário; Julio Cesar (PRB), 2º secretário; e Bispo Renato Andrade (PR), 3º secretário.
Os mandados foram expedidos pelo Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), que também determinou o afastamento cautelar da Mesa Diretora, mantendo, porém, o exercício das funções parlamentares. Mandados estão sendo cumpridos nas residências dos deputados, servidores e ex-funcionários.
Estão na mira da operação, batizada de Drácon, o servidor Alexandre Braga Cerqueira, apontado como o operador do esquema de propina; o ex-secretário-geral da Casa Valério Neves Campos; e o ex-presidente do Fundo de Saúde Ricardo Cardoso dos Santos. O deputado Cristiano Araújo (PSD), que não integra a Mesa, mas está envolvido nas denúncias, também está sendo investigado.
Por volta das 8h30, os distritais começaram a chegar na Decap para depor. Celina Leão foi uma das primeiras a chegar.
Fizeram buscas nas residências e gabinetes dos paramentares. O procedimento foi tranquilo e dentro da lei. Eu acompanhei pessoalmente o depoimento do Bispo Renato. Contudo, ele não pode prestar esclarecimentos porque não sabe do que se trata a investigação. Pedimos a compreensão da promotora que acompanhou o depoimento porque estamos dispostos a ajudar, mas é preciso termos ciência do teor da investigação.“
Destacou, também, que os parlamentares querem saber em que circunstâncias as gravações foram vazadas. Já o advogado de Alexandre Cerqueira, Marcelo Moura, destacou que “a ação me surpreendeu porque tínhamos um acordo com o promotor (Jairo Bisol) de que ele compareceria hoje ao MPDFT, mesmo sem intimação”.
Chaveiros
Chaveiros foram chamados para abrir as salas da presidência da Câmara, Mesa Diretora e dos gabinetes. Segundo fontes do Metrópoles, as fechaduras teriam sido trocadas esta semana pela presidência da Casa. Os funcionários que chegaram cedo para trabalhar na sede do Legislativo foram impedidos de entrar no prédio.
Cerca de 15 viaturas e 60 agentes da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) e da Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, à Ordem Tributária e a Fraudes (Corf) estão na Câmara. Promotores do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) também participam da ação.
A operação é liderada pela Procuradoria-Geral do MPDFT e conta com a participação de pelo menos 10 promotores. O pedido de afastamento cautelar da Mesa Diretora foi assinado pelo desembargador Humberto Ulhoa.
Escolhido nesta segunda (22) para assumir a vaga de Liliane Roriz na vice-presidência da Mesa Diretora, o distrital Juarezão (PSB) não é alvo da operação. Ele vai, inclusive, assumir o comando da Casa temporariamente.
Pego de surpresa, como relatou à reportagem, Juarezão disse nesta manhã que vai se inteirar da ação feita na Câmara e, “confirmado o afastamento dos integrantes da Mesa Diretora”, vai convocar todos os distritais para definir os próximos passos do parlamento local. “Vou ver se a decisão de afastamento chegou à Casa e conversar com os deputados para tocar os trabalhos para frente. Não quero falar nada agora sobre como a Câmara vai proceder sobre as investigações. O momento, agora, é de muita cautela”, afirmou.
Entenda o caso
Liliane teria começado a grampear os colegas no fim do ano passado, quando os parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro – R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões – realocado para a Saúde. O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública.
Na ocasião, Liliane teria questionado a presidente da Câmara sobre a mudança na votação. No áudio, é possível ouvir a presidente da Câmara, Celina Leão (PPS) falando que o “projeto” seria para um “cara” que ajudaria os deputados. A presidente da Casa disse ainda que Liliane não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no projeto. Já mandei o Valério (ex-secretário-geral) falar com você.”
Outros parlamentares
As denúncias feitas por Liliane atingem outros distritais, como o bispo Renato Andrade (PR) e Júlio César (PRB), líder do governo na Casa. Segundo é possível ouvir nas gravações, os dois teriam tentado fazer uma negociação com Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores. De acordo com o que Valério Neves diz em um dos áudios, o empresário poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação. Mas Assad não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir nada”, diz Valério Neves em um dos trechos.
Com a negativa do empresário de participar do tal “compromisso”, segundo explica Valério nos áudios, o deputado Cristiano Araújo (PSD) teria conseguido o “negócio” das UTIs. Ao dizer o quanto os “hospitais iam retornar”, Valério sussurra que seria “em torno de 7%”, revelou O Globo. E diz ainda que todos os integrantes da Mesa Diretora tinham conhecimento do acordo. Celina, por sua vez, diz que se fosse para eles receberem algum tipo de ajuda, teria de ser para todos. Integram a Mesa Diretora Celina, Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César e Bispo Renato.
“Houve crime”
O promotor de Justiça e Defesa da Saúde do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Jairo Bisol, que está à frente do caso,antecipou ao Metrópoles, semana passada, que já estava convencido de que “houve crime”. De acordo com ele, só faltava definir a participação de cada um no “negócio”, termo utilizado por Valério Neves, nos áudios, para definir a mudança de destinação de sobras orçamentárias do Legislativo para a área de saúde. (Colaborou Kelly Almeida e Suzano Almeida)
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Fonte: Metrópoles