Morte de bebê em UPA: IGESDF tem contrato de R$ 57 mi para ambulâncias

Um bebê de 1 ano morreu na UPA após ficar esperando transporte para um leito de UTI pediátrica no Distrito Federal



Por Francisco Dutra

Responsável pela gestão das Unidade de Pronto Atendimento (UPAs) e dos hospitais de Base, Santa Maria e Cidade do Sol, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) mantém um contrato com a UTI Vida para fazer o transporte de pacientes no valor R$ 57.741.548,94 por ano. Apesar do investimento, há registros de falhas na transferência de pacientes. Um dos casos mais graves acabou com um bebê , de 1 ano, morto, na UPA) do Recanto das Emas. Enzo Gabriel não resistiu à espera por uma uma ambulância, que o levaria para o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).

O contrato foi firmado entre o Iges e a UTI Vida em 2022, à época no valor de R$ 37.745.565,96. O termo recebeu dois aditivos, o último deles no mês passado, totalizando os R$ 57 mi investidos. O acréscimo, de 53%, é justificado no documento devido ao aumento da rede de atendimento, com a inauguração da UPA Cidade do Sol, no Sol Nascente, Ceilândia.

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O Metrópoles questionou ao Iges-DF os motivos pelos quais a instituição optou por um contrato externo em vez de investir em uma frota própria de ambulâncias. O instituto argumentou que há uma vedação do contrato de gestão entre a instituição e a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), que impede a formação de uma frota da entidade.

“O óbito do paciente se deu pela condição clinica gravíssima em que se encontrava. Assim que seu quadro evolui em piora, a criança foi transferida para a sala vermelha da UPA, um ambiente equivalente a uma UTI, e recebeu em todo o momento que esteve lá a assistência de uma unidade de terapia intensiva. Contudo, houve uma demora muito acima do que prevê o contrato de prestação de serviço, tal fato foi justificado pela prestadora pelo pico de solicitações de remoção pediátrica naquela noite. No momento em que a ambulância foi solicitada havia 10 pacientes pediátricos em estado grave com necessidade remoção, quantidade muito acima da média usual de 3 remoções por noite”, justificou o Iges-DF.

Segundo a diretora médica da UTI Vida, Maria Thereza Pontes Tavares, a rede pública se encontra em estado de emergência por conta da dengue e ainda há o período das doenças sazonais respiratórias. A empresa confirmou as alegações do Iges, de que na data da morte do bebê, havia uma demanda alta e atípica.

“A gente estava com um número de solicitações de remoções pediátricas, de pacientes intubados e em respirador elevadíssimo. Muito acima da média”, afirmou. Pelas contas da empresa, a média de transportes de crianças graves é de três pacientes por plantão. Na data da óbito, havia 10 na fila para remoção.

A empresa disse, ainda, que providenciou reforços e seguiu protocolos médicos para atender os pacientes. A remoção seguiu a ordem de prioridade segundo critérios de gravidade. De acordo com Maria Thereza, no primeiro momento em que foi feita a solicitação de remoção do bebê ele não estaria intubado na UPA, por isso outras crianças foram transportadas antes.

Espera

“A solicitação da remoção foi inserida no nosso sistema pela UPA do Recanto das Emas às 23h30 do dia 14 de maio. Às 2h30 do dia 15 de maio, nós recebemos o contato da médica da UPA do Recanto das Emas atualizando o quadro e informando a nova situação”, contou Maria Thereza.

Segundo a empresa, neste momento foi alterada a prioridade do transporte para imediata. A empresa alegou que disponibilizou a primeira unidade disponível, às 7h20 . Mas ao chegar, por volta das 8h20, na UPA do Recanto das Emas, o menino estava em processo de reanimação.

“Em momento nenhum foi preterida a assistência”, alega Maria Thereza.

Sem chance de sobreviver

Segundo a deputada distrital Dayse Amarilio (PSB), a morte da criança é um sinal da falha do contrato. “A gente percebe que as reclamações em relação ao contrato se repetem. E o Iges, inclusive, ampliou o contrato com um aditivo, chegando a R$ 57 milhões. A empresa não consegue cumprir os prazos de transporte”, alertou.

De acordo com a deputada, a Secretaria de Saúde liberou a vaga para o menino no Hmib. “A remoção foi solicitada por volta das 22h30 (14/5) e a ambulância só chegou no outro dia (15/5), lá pelas 8h40. O paciente foi a óbito 8h15”, comentou.

Para a parlamentar, haveria tempo para reverter o quadro em um leito de UTI. “Foram quase 12 horas de espera já com leito aguardando. E um leito que poderia dar mais suporte para essa criança ter chance de sobreviver”, assinalou Amarilio.

Morte de bebê

O caso é investigado pela 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas). Na segunda-feira (13/5), a família de Enzo Gabriel o levou a uma unidade básica de saúde (UBS) de Taguatinga. O menino apresentava dificuldades para respirar e recebeu diagnóstico preliminar que apontou bronquiolite, pneumonia e asma.

Os médicos liberaram a criança e prescreveram tratamento com antibiótico para ser administrado em casa. Contudo, o quadro do menino piorou. No dia seguinte, a família voltou à UBS, e o paciente foi encaminhamento para uma UPA.

Por volta das 12h50, na unidade de pronto-atendimento, Enzo recebeu diagnósticos de pneumonia avançada e dengue. A saúde dele continuou a piorar e, por volta das 19h, o menino foi intubado.

A família, então, tentou uma vaga em UTI e conseguiu, mas não havia transporte da UPA até o Hmib. O bebê passou a madrugada na UPA, assistido por uma equipe de saúde, mas não resistiu e morreu na manhã de quarta-feira (15/5).

“Demora não foi fator relevante”

Por meio de nota, o Iges-DF lamentou “profundamente o caso” e informou que a equipe assistencial “segue consternada com o ocorrido”. O instituto ainda reconheceu a demora no transporte do paciente, mas não considerou haver “negligência médica ou falha no atendimento”. “Informamos, também, que a demora na remoção não foi fator relevante para o desfecho clínico do caso, pois, por estar na Sala Vermelha, [o paciente] recebia cuidados equivalentes ao de uma UTI”, completou o texto.

Também por meio de nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) comunicou que “não teve envolvimento no caso”, pois disponibilizou leito para a criança e não foi acionada para fazer o transporte do menino, cujo deslocamento ocorreria em uma ambulância do Iges-DF.



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FONTEMetrópoles
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