Nathália Cardim e Francisco Dutra
Enfim, alívio e esperança. Esses são os sentimentos da artesã Maria Aguiar, de 51 anos, moradora de Santa Maria, nestes últimos dias de 2021. Ela tem motivo de sobra para comemorar o fim de ano. O presente de Natal, chegou antecipado: no início de dezembro, quando a paciente com um tumor no pé, passou por uma cirurgia inovadora de reconstrução do calcanhar no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF).
Trata-se de uma cirurgia em que foi usado tecido da coxa esquerda da própria paciente para reconstituição do pé direito, após a retirada do tumor. Normalmente, nesses casos, a cirurgia realizada envolve a transferência de tecido da panturrilha, conhecida popularmente como “batata da perna”, porém, os resultados são menos satisfatórios, porque aumentam as chances de sequelas, o que pode exigir que mais cirurgias sejam realizadas posteriormente para atingir o resultado desejado.
Casada e mãe de dois filhos, o maior desejo atualmente é o de voltar a andar sem maiores dificuldades.
“A médica explicou que essa era uma cirurgia nova e a minha expectativa é a de voltar a ter uma vida normal, poder andar. Por isso, agradeço muito a equipe de médicos do hospital”, completa Maria.
Procedimento inovador
A cirurgiã plástica que coordenou a equipe responsável pelo procedimento, Laudicely de Araújo Costa, explica que toda a operação, realizada no dia 3 deste mês, teve duração de aproximadamente sete horas. Primeiro, os médicos retiraram o tumor, o que levou menos de uma hora. Depois, foi necessário fazer a reconstrução de maneira minuciosa.
A equipe contou com a participação voluntária do cirurgião plástico Carlos Gustavo Neves, que trabalhou muitos anos no Hospital de Amor, referência em oncologia em Barretos (SP). Agora, ele mora em Goiânia (GO), mas veio à Brasília exclusivamente para a cirurgia.
Além da força de trabalho humana, os profissionais também utilizaram um microscópio moderno de última geração, normalmente usado em neurocirurgias. “Esse equipamento foi essencial para costurar a artéria e a veia, de maneira que o novo tecido tenha a oxigenação garantida pela reconstituição da irrigação sanguínea. É um procedimento similar a um transplante de órgão, só que utilizando o tecido do próprio paciente”, esclarece a médica.
Segundo Laudicely, ela atua desde 2013 no Hospital de Base fazendo reconstruções em pacientes com câncer, mas essa cirurgia foi inovadora. “Essa paciente vai ter um resultado estético melhor, mas o principal diferencial é que a cirurgia reduz as chances de sequelas, com isso, ela vai ter o melhor funcionamento do membro, ela vai poder andar, apoiar o pé no chão, desenvolver a vida normalmente”, diz.
Para a médica, a cirurgia abre portas para novas reconstruções. “Nossa expectativa é que mais pacientes sejam beneficiados com a técnica já usada em outros lugares”, completa a cirurgiã, ao contabilizar que uma cirurgia desse tipo na rede privada custaria mais de R$ 100 mil em razão do material, equipe e estrutura de empregados.
Maria foi diagnóstica com câncer no pé pela primeira vez em 2017 e submetida à cirurgia para retirada em 2018. O tumor voltou em maiores proporções em 2021, por isso, foi necessário usar uma maior quantidade de tecido na reconstrução.
Assista ao relato da artesã:
“Comecei sentindo muita dor no pé e imaginei que fosse um calo. Depois da biópsia, descobri que era câncer. Comecei a ter dificuldade de locomoção. Agora que descobri novamente, fui atendida de maneira rápida”, afirma a artesã.
Ainda em recuperação, os últimos dias do ano de Maria serão com o pé suspenso e em repouso. “Como eu ainda não posso me levantar, a minha família está fazendo de tudo um pouco por mim. O meu sentimento neste fim de 2021 é de pura felicidade e esperança. Vou fazer tudo para me recuperar direitinho. Só de não sentir mais dor, tenho muitos motivos para comemorar!