Por Adriana Izel
Fazia 10 anos que a designer de interiores Cris Koressawa, 49 anos, tinha escutado que não podia movimentar os braços e não praticava uma atividade física, quando ela entrou pela primeira vez no Lago Paranoá dentro de uma canoa dragon boat ajudando a movimentar a embarcação.
Durante uma década, ela pensou que não poderia fazer movimentos vigorosos com os braços depois de ter passado por uma mastectomia radical bilateral com esvaziamento axilar após o diagnóstico de câncer de mama. “De repente meu braço dentro da canoa estava me levando para algum lugar. Foi muito louco. A partir daí, não parei mais de vir. E foi só progresso. Vim doente e sedentária para virar atleta”, conta a mulher.
“Percebi que um diagnóstico de câncer não determina o seu futuro”, diz Cris Koressawa, que conquistou duas medalhas no Campeonato Panamericano de Canoagem Dragon Boat, no Panamá | Fotos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Ao lado de outras dez mulheres, Cris conquistou duas medalhas no Campeonato Panamericano de Canoagem Dragon Boat no Panamá, realizado entre 12 e 20 de março. O esporte é uma corrida de barcos, movidos a tração humana, de origem do sul da China.
Ela e o grupo formado apenas por mulheres sobreviventes do câncer de mama da Associação Canomama voltaram para Brasília com a prata nos 200 metros e o bronze nos 500 metros, além do destaque de equipe revelação da competição.
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A viagem foi bancada com recursos do Governo do Distrito Federal, por meio do Compete Brasília, da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL-DF), programa que tem como objetivo incentivar a participação de atletas e paratletas de alto rendimento das mais diversas modalidades em campeonatos nacionais e internacionais, por meio da concessão de transporte aéreo e terrestre a atletas e paratletas. “O Compete Brasília nos ajudou com as passagens e nós trouxemos a medalha para o Brasil para honrar o apoio”, lembra Cris. O time brasiliense disputou com equipes do Panamá, Chile, Canadá e Colômbia.
“As conquistas das nossas canoístas, que trouxeram medalhas do Panamericano, evidenciam o crescimento do esporte em Brasília e nossa capacidade de competir internacionalmente. Continuaremos a apoiar e incentivar o esporte em nossa cidade”, destacou o secretário substituto de Esporte e Lazer, Renato Junqueira.
Mudança de hábito
Para Cris, a inclusão do esporte em sua rotina trouxe o equilíbrio que ela precisava, além da autoestima perdida durante o tratamento da doença. “O diagnóstico não veio por acaso. Eu tinha hábitos que geraram a doença, que vem por questões hereditárias e comportamentais. Eu trabalhava muito. Achava lindo dizer que estava na correria. O câncer é um tapa na cara. E eu fui ressignificar a minha vida. Enxergar que era necessário e primordial ter equilíbrio”, diz.
E ela não é a única a pensar assim. Hoje a Associação Canomama conta com mais de 50 mulheres sobreviventes do câncer de mama, que treinam toda terça, quinta e sábado, das 9h às 11h, na modalidade dragon boat.
A oncologista clínica do Hospital de Base Mirian Cristina da Silva destaca que a atividade física tem papel fundamental na prevenção da doença e também para as mulheres já diagnosticadas com o carcinoma. “Temos vários estudos mostrando a repercussão na diminuição de risco de câncer, principalmente de mama, com atividade física”, revela.
“Reforço muito as pacientes que a atividade física intensa vai deixá-las mais animadas, porque libera hormônios de bem-estar e até previne em questão de terem outro câncer. A mulher com câncer de mama não está proibida de fazer atividade física no membro superior, pode ter que dosar para não ter complicações crônicas, mas é essencial”, complementa a médica.
Diagnóstico e tratamento
Cris Koressawa tinha 33 anos quando recebeu o diagnóstico de carcinoma. Ela conta que no dia da descoberta ficou desorientada. A designer de interiores sabia que havia sinais da doença, mas postergou a ida ao médico. “O nosso corpo fala. Eu fiz o toque e senti que tinha um caroço crescendo e deixei para lá. No meu íntimo, eu tinha medo de ser câncer”, lembra.
Apesar do diagnóstico ter sido feito na rede privada, foi no sistema público de saúde que Cris fez os procedimentos cirúrgicos de retirada das mamas e os tratamentos de quimioterapia e radioterapia nos hospitais Universitário de Brasília (HUB) e de Base (HBDF).
“A minha experiência na rede pública foi muito positiva. Fui muito bem-acolhida. O tratamento começou logo. Fiz as cirurgias, as quimioterapias e as radioterapias. Nunca faltou remédio e os profissionais me acolheram e cuidaram de mim com muito carinho e cuidado”, recorda.
Após todo esse processo, o recado que a atleta deixa sobre a experiência é de que há vida – e muita – após o diagnóstico e o tratamento de câncer de mama. “Percebi que um diagnóstico de câncer não determina o seu futuro. O que faz mudar a nossa vida é como a gente recebe as notícias e reage diante disso. Existe vida após o diagnóstico do câncer”, revela.