Por Kleber Karpov
Em episódio recente, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), se tornou alvo de críticas da esquerda, juntamente a governadores bolsonaristas, ao anunciar recusa de atender pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de reduzir Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS)(07/Mar), de modo a beneficiar a população em vulnerabilidade social.
Por conhecer a gestão de Rocha à frente do Distrito Federal, PDNews acionou (10/Mar), embora sem resposta das secretarias de Estado de Comunicação do DF (Secom-DF) e de Economia do DF (SEEDF), para compreender a motivação do governador em não atender tal solicitação. Isso porque o Governo do Distrito Federal (GDF), sempre sempre esteve atento às demandas da população de baixa renda. Desde a implementação de ações e programas provenientes do governo federal, às iniciativas próprias, em diversos projetos agregados às políticas públicas, sejam de cunhos sociais, de qualificação profissional e técnica, oportunidades de emprego, inclusão e acesso educação em todos os níveis. Além de suporte a saúde física e mental, moradia e tantos outros, em especial às pessoas e famílias em vulnerabilidade social,
Porém, embora com o ‘vácuo’ ou inércia das secretarias de governo, tal posição acabou por vir à público, por parte do próprio governador, ao apontar a Lula, ter ‘jogado para a plateia’, por transferir a responsabilidade da redução de custo dos alimentos aos governadores. E, para além de questão política, o Rocha contextualizou a recusa com afirmação de ser inócua e ineficiente a redução de impostos. Segundo o governador, no caso concreto, o GDF teria uma redução de aproximadamente R$ 850 milhões ao orçamento da capital federal.
Caso esse, do ICMS, a levar Rocha a ser enxovalhado no mesmo ‘baláio’ de governadores, assumidamente bolsonaristas, alguns desses que se negaram a redução do ICMS dos alimentos por questão meramente, política. Cenário esse que chamou atenção de PDNews em outro cenário.
Não piso no mesmo território
Se de um lado Rocha foi taxado de bolsonarista, na noite desta segunda-feira (17/Mar), a ausência do governador do DF foi percebida na posse do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), em Brasília. Sobretudo por ser egresso do Direito, ex-presidente da seccional do DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF)(2013/2015), com vasta atuação no espectro da esquerda, por advogar para várias entidades sindicais, em especial, do serviço público.
E o motivo da ausência do emedebista, está diretamente relacionado ao ressentimento , em decorrência de Rocha ser acusado por Lula de ser cúmplice do ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL-RJ), algo que o chefe do Executivo local sempre negou.
Em resposta ao convite do presidente da CFOAB, Beto Simonetti, à participação na cerimônia de posse, o governador do DF, se desculpou e de forma taxativo expressou uma cobrança direcionada ao presidente da República.
“Presidente [Beto Simonetti], desejo a vc toda felicidade nesse seu segundo mandato à frente do CFOAB, desde já sabendo que será um grande sucesso para advocacia brasileira. Infelizmente, não poderei participar do evento. Fiz um compromisso comigo que não piso em território que o presidente Lula esteja presente, pelo menos até que ele se retrate por ter me acusado, de forma leviana, de ter sido cúmplice do Bolsonaro no 8/1. Felicidades e conte sempre comigo.”
Tal referência se deu ao fato de, por mais de uma ocasião o chefe do Palácio do Planalto, em manifestações públicas, atribuiu ao governador do DF, os atos do 8 de janeiro, a exemplo da entrevista ao jornal O Globo (5/Dez/23), em que Lula disse que “havia na verdade um pacto entre o ex-presidente da República [Jair Bolsonaro], o governador de Brasília [Ibaneis Rocha] e a polícia, tanto a do Exército quanto a do DF [Distrito Federal]”, além de mencionar a participação, também, de policiais federais. Ou ainda nas declarações realizadas no documentário da GloboNews “8/1: A Democracia Resiste”, produzido pelos jornalistas Julia Dualib e Rafael Norton, em que Lula afirmou: “Não tem outra coisa a fazer se não prender esse governador [Ibaneis Rocha]”.
Pingos nos is
De volta a 2023, não se pode esquecer que Rocha, dadas todas as circunstâncias foi afastado do comando do GDF, por cerca de 90 dias, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Morais, a partir de provocação pela Advocacia-Geral do DF (AGU), endossado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). E somente em 1o de março desse ano, a PGR retirou o governador da condição de investigado e o STF endossou o pedido do procurador-Geral da República, Paulo Gonet.
Ao contrário das várias dinâmicas praticadas, por exemplo, por Bolsonaro, de dar entrevistas, articular anistia ou organizar atos públicos, no que tange o afastamento do governador do DF, ao que tudo indica, por compreender as circunstâncias do momento se desculpou, o chefe do Executivo se recolheu, não interferiu na gestão do DF, passada às mãos da vice-governadora do DF, Celina Leão (Progressista), além de colaborar com todas as provocações, fosse da PGR, da Polícia Federal ou do Judiciário.
Vale lembrar que durante esse período de afastamento, Rocha chegou a desmentir ‘fake news’, sobre ter viajado ao exterior (15/Mar/2023), quando estava em Brasília, conforme publicou nas redes sociais. “Estão me marcando em algumas fake news que têm circulado, dizendo que estou fora do país. É mentira. Estou na minha casa em Brasília. Já estive espontaneamente na Polícia Federal e continuo à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.”.
Mas, se tentou imputar a participação de Rocha, nos atos golpistas do 8 de janeiro, por ter nomeado Secretário de Segurança Pública do DF (SSP-DF), o então ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, esse sim denunciado pela PGR como partícipe na tentativa de golpe de Estado. Também se aponta como argumento, o governador ter concordado em dar alguns dias de férias ao recém-nomeado gestor, algo que não faz do chefe do Buriti, cúmplice da trama golpista. Tampouco demorar a responder, no dia do ato, ou ter sido ríspido com a então ministra do STF, Rosa Weber, conclusões essas, da PF e da PGR, endossadas pelo Supremo.
No contexto é importante ressaltar algo que muitos críticos talvez não tenham conhecimento. Torres era homem de confiança de Rocha e exercia a função de secretário de Segurança Pública do DF, antes e, até ser convidado por Bolsonaro a assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP);
Também, para além das atuações do PGR, da PF e do STF, há que se lembrar que os atos antidemocráticos do 8 de janeiro, foram investigados no Congresso por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), e na Câmara Legislativa do DF (CLDF) na CPI dos Atos Antidemocráticos do 8 de Janeiro. Nenhuma das duas pediu indiciamento de Rocha.
Vale lembrar, por exemplo que das CPIs, se constatou, pediu indiciamento, do ex-presidente; e até mesmo se viu prisões temporárias ocorrem por envolvimentos de nomes de pesos da cúpula das Forças Armadas e da Polícia Militar do DF (PMDF), a exemplo de generais e comandantes do Exército Brasileiro; além de denúncias e investigações de outros personagens.
Também vale ressaltar, que as CPIs permitiram constatar, ainda, as tentativas, por parte das forças de segurança do DF, de desarticular e desmobilizar concentrações em frente ao quartel no Setor Militar Urbano (SMU), porém, sem sucesso por intervenção do EB.
E sob essa ótica, à esquerda cabe, das duas uma: ou revê conceitos e pare de tentar colocar em xeque a colaboração de Rocha com a Justiça, com a Polícia Federal (PF) e com a PGR e assumir como verdadeiras as conclusões dessas dessas instituições, endossadas por Moraes que o inocentaram. Ou se assume que a atuação do Procurador-Geral do DF, Paulo Gonet, dos ministros do STF e da Polícia Federal estejam a atuar politicamente em desfavor, ou para criminalizar Bolsonaro, e nesse caso não se pode falar em golpe de Estado.
Ressentimento
No mesmo contexto, dado a credibilidade da PF, PGR e STF, além do Superior Tribunal Militar (STM), instituições a contar com a credibilidade de Lula e da maioria da sociedade brasileira. Uma vez que elucidaram a situação do governador do DF, pode ser o momento de Lula, fazer uso da resiliência e um gesto ao governador do DF e à população do Distrito Federal.
No mais, embora fique como é publico e notório a declaração e Rocha de ser de direita, também ecoa o posicionamento do emedebista: “não sou bolsonarista” ou ainda, “não sou golpista”.
