Josiane Canterle
As unidades de terapia intensiva (UTIs) possuem equipes formadas por vários profissionais de diferentes especialidades. Cada um tem seu papel importante para que os pacientes se recuperem. Com a pandemia de Covid-19, o trabalho das equipes de cirurgiões-dentistas nas UTIs tem contribuído para reduzir as complicações da doença e para antecipar a recuperação dos internados.
Referência para o tratamento de pessoas acometidas pelo novo coronavírus, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) foi o primeiro do Distrito Federal a receber pacientes com a nova doença, inclusive aqueles que necessitaram de internação em UTI. Desde então, o trabalho dos dentistas desta unidade ficou ainda mais minucioso e com novos protocolos de segurança de forma a manter a saúde desses profissionais.
Nos meses de enfrentamento da pandemia, uma das descobertas foi a de que na cavidade bucal se encontra a maior carga viral devido à presença da saliva e secreções. Diante disso, profissionais como a cirurgiã-dentista intensivista Gláucia de Ávila Oliveira passaram a conviver com o medo de se infectar e o desafio de tratar dos doentes sem muitas informações das complicações envolvidas.
“No início foi bem difícil, em alguns momentos achei que não conseguiria”, relembra Gláucia. “A verdade é que meu trabalho é muito gratificante porque sei que posso fazer a diferença em um momento crucial da vida de cada paciente”, avalia a cirurgiã-dentista.
A profissional conta que ainda não está claro, cientificamente, que a Covid-19 cause lesões bucais, mas foi percebido que, quando o paciente apresenta herpes simples ou candidíase bucal, as lesões tornam-se mais graves e duradouras, o que piora a qualidade de vida do doente durante a internação.
Sintomas relacionados à saúde bucal
Outros sinais e sintomas orais relacionados ao vírus Sars-CoV-2 incluem os distúrbios do paladar, relatados por muitas pessoas que foram infectadas. De acordo com Gláucia, eles podem estar relacionados a alterações neurais, gengivite descamativa e ulcerações não específicas nas mucosas. “Ainda é desconhecido se essas condições são causadas diretamente pela infecção da Covid-19 ou se são decorrentes de alterações do sistema imunológico ou de reações ao tratamento sistêmico recebido durante o curso da doença”, relata a profissional.
Para o chefe da UTI adulto do Hran, Vitor Bittencourt de Aquino Fernandes, “o serviço de odontologia deu essa garantia à saúde oral do paciente”. Segundo ele, “a presença de um odontólogo na UTI quer dizer aquela é uma unidade que se preocupa com o alto padrão de atendimento, de forma a não permitir que o paciente complique sem necessidade por uma infecção totalmente tratável, uma coisa totalmente prevenível”, destacou o médico.
Na UTI do Hospital da Asa Norte o trabalho de higiene bucal é feito três vezes ao dia e um desses atendimentos é realizado pela equipe de enfermagem. Os pacientes são examinados diariamente, com exceção dos finais de semana, para diagnóstico precoce de alterações, lesões e doenças. Essa ação previne doenças como a pneumonia associada à ventilação mecânica e é baseado na remoção de bactérias que se acumulam sobre os dentes, gengivas e língua.
“São bactérias que se não retiradas podem ser aspiradas para o pulmão de pacientes intubados ou traqueostomizados”, conta a dentista. Também são realizadas a retirada de cáries ou outros focos de infecção que podem levar bactérias à corrente sanguínea o que interfere na recuperação e alta médica do enfermo.
Entre os principais benefícios de haver esse tipo de acompanhamento especializado na UTI está na queda no tempo internação, o que gera economia de recursos e possibilita que outros pacientes possam utilizar o leito.
“Às vezes acho que quem trabalha na UTI não é capacitado por si só, ele é capacitado e fortalecido por Deus! E, não sei se porque sou extremamente cuidadosa em relação à biossegurança ou se foi por sorte, até hoje não fui contaminada e continuo firme e forte na luta por uma melhor qualidade de vida dos pacientes internados”, comemora Gláucia.