Opinião: A fome de um estudante revela o legado do atual governo



Por Gutemberg Fialho

Uma ponte, um novo bairro, um estádio, a paz no trânsito – todos foram legados deixados à população do Distrito Federal por governos anteriores. Nem todos foram positivos. O que se vislumbra como legado do atual não encontra paralelo na história de Brasília.

A diretora de Imprensa do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Adriana Graziano, apontou parte do legado que o governo deixa ao comentar com o professor Samuel Fernandes, do Sindicato dos Professores, o caso do estudante de oito anos que desmaiou de fome em uma escola pública. Com falta de alimentação ou com a ingestão de biscoitos, sucos artificiais e pipoca nas escolas, pelo menos parte das nossas crianças, as de camadas da população menos favorecidas, terão baixo aproveitamento escolar e, no futuro, além dos problemas físicos e de saúde, estão condenadas a permanecer na pobreza, perpetuando o ciclo da fome e da exclusão social, pois terão menor condição de disputar espaços no mercado de trabalho.

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Em nome de uma estabilidade financeira e eventual reeleição, a merenda escolar entrou na lista de supérfluos e o futuro de um número indeterminado de crianças é colocado em risco.

O futuro de milhares de servidores públicos também foi colocado em risco com a unificação dos fundos do Instituto de Previdência dos Servidores do DF, feita para permitir ao atual governo se apropriar dos recursos das aposentadorias e “superar o momento de crise”. Mas não serviu para, pelo menos, salvar o futuro daquelas crianças que se alimentam de biscoito e pipoca nas escolas públicas.

O atual governo também se esforçou para deixar como legado a privatização de unidades públicas de saúde, apesar de imensa resistência da sociedade civil. Aqueles mesmos hospitais que serão tão necessários para tratar os problemas de saúde das crianças que hoje não têm merenda escolar adequada e os aposentados, que terão muita dificuldade para pagar um plano de saúde. E deixou à míngua os hospitais, mesmo tendo mantido a Saúde em Estado de Emergência durante dois anos e meio, com aumento de 20% nas mortes hospitalares entre 2015 e 2016.

Vai ficar na lembrança também o fato de que as vozes que se levantaram em discordância contra medidas mal elaboradas ou protesto contra desmandos foram tratadas como inimigas, perseguidas e atacadas. Vai ficar na memória que cada erro foi negado ou minimizado, desprezado, como disse o governador a respeito da fome de um, dentre não poucos estudantes que não têm merenda adequada nas escolas do Distrito Federal, “é um caso pontual, não é problema da escola e sim da família”. Como a inércia, a omissão vai entrar para a história, compondo o triste legado do atual governo.

* Gutemberg Fialho é médico e presidente do Sindicato dos Médicos do DF


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