Opinião: GDF contratou, a partir de 2012, mais de R$ 40 milhões da JBS, contrapartida? 



Enquanto candidatos a governadores, Rollemberg (PSB) e Agnelo (PT) receberam doações de R$ 850 mil e R$ 280 mil, respectivamente, na campanha eleitoral de 2014

Por Kleber Karpov

Na última semana veio a público declarações de Joesley Batista, um dos diretores da JBS Friboi, em delação premiada junto à Procuradoria-Geral da República (PGR). Batista revelou que todas as doações realizadas pela empresa, são “contrapartidas, propinas disfarçadas”, pagas à candidatos e políticos. Mesmo as oficiais, registradas no Tribunal Regional Eleitoral (TSE). “Os pagamentos são feitos das mais diversas maneiras, nota fiscal fria, seja dinheiro, caixa 2, até mesmo doação política oficial”.

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A versão essa sustentada também pelo diretor da J&F – holding controlada pelo grupo JBS – Ricardo Saud, que afirma ter destinado mais de R$ 500 milhões para governadores, deputados estaduais, federais e senadores de todo o país. O empresário afirma que o total em dinheiro repassado por meio de “pagamentos dissimulados” alimentou as campanhas de 1.829 candidatos.

No DF, atual governador do DF, o socialista Rodrigo Rollemberg (PSB) e o antecessor, Agnelo Queiroz (PT), foram beneficiados com doações da JBS, durante a campanha eleitoral de 2014. Política Distrital (PD) fez um estudo sobre doações recebidas e serviços prestados pela JBS no Distrito Federal.

Juntos, ambos receberam cerca de R$ 1,14 milhões em doações. A JBS por sua vez faturou mais de R$ 40 milhões em serviços prestados ao GDF, por meio da Secretaria de Estado de Educação do DF (SE-DF).

Rollemberg

No DF, durante a campanha eleitoral de 2014, Rollemberg recebeu, direta e indiretamente, R$ 850 mil em doações da JBS, de acordo com dados do Sistema de Prestação de Contas Eleitoral (SPCE) do TSE. Após ganhar as eleições e assumir o mandato, de 2015 até o momento, o portal da Transparência do GDF aponta que a empresa faturou, até o momento, R$ 12,5 milhões, em serviços prestados à SEDF, de um total de R$ 20,3 milhões empenhados.

Agnelo Queiroz

Na gestão do ex-governador, Agnelo Queiroz, a JBS também se fez presente, com contratos junto a SEDF. Não existem dados de doações registradas junto ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE), durante a campanha de 2010, ocasião em que Agnelo foi eleito para assumir o Executivo, pela primeira vez.

A JBS, por sua vez, nos anos de 2009 e 2010, manteve contratos, tímidos, com a Fundação Jardim Zoológico de Brasília, em que recebeu cerca de R$ 7 mil, no final da gestão de Rogério Rosso (atual PSD) e R$ 77 mil no primeiro ano do governo da gestão de Agnelo Queiroz.

Porém, após 2012, o portal da Transparência aponta um novo contrato, dessa vez com a Secretaria de Educação. A JBS, entre 2012 e 2014 recebeu do GDF, R$ 18,38 milhões, de um total de R$ 22,19 milhões empenhados, pela gestão de Agnelo Queiroz.

Além de Rollemberg, durante as eleições de 2014, Agnelo também recebeu em doações, porém mais módicas. Dados do SPCE apontam que R$ 283 mil entrou no caixa da campanha do petista. Desses, porém, R$ 200 mil chama atenção, uma vez que foi registrado pelo TSE em 17 de outubro daquele ano, após o petista ter deixado de disputar a corrida pelo Executivo, por ser derrotado no primeiro turno.

JBS no DF

Somados os dois candidatos receberam em doações, R$ 1,14 milhões. O GDF, por sua vez, sob a tutela dos dois gestores, pagaram, em serviços prestados à SEDF, entre  2012 e 2017, cerca de R$ 30,9 milhões, de um total de R$ 42,5 milhões empenhado, de acordo com dados do Sistema de Transparência do GDF.

Doações legais, contrapartidas…

Em matéria publicada recentemente, por Metrópoles, sobre doações da JBS, às campanhas de Rollemberg e de Agnelo, a assessoria do governador se restringiu a comentar que as doações foram recebidas de forma legal e as contas aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O argumento também foi seguido pela atual presidente do PT-DF, Érika Kokay, em relação às doações da campanha de Agnelo Queiroz, em 2014.

Opinião

Esse cenário de ‘legalidade’, não está restrito apenas nas doações da JBS, OAS, Odebrecht e demais empresas envolvidas ou ramificadas pelas investigações da Lavajato. O problema vai  além. No DF, outros casos são constantemente denunciados, em especial na gestão de Rollemberg.

Um exemplo recente envolve a tentativa frustrada de o governador tentar implantar as Organizações Sociais (OSs) no DF. Afinal, quem não se lembra de Mohamad Moustafa, o ‘Barão das OSs’, preso, em 2016, pela Polícia Federal, em Manaus, por utilizar as OSs para desviar dinheiro público? Por meio de três OSs e uma empresa ‘parceira’, de taxi aéreo, Rollemberg recebeu R$ 1,1 milhões na campanha eleitoral de 2014 de Moustafa.

Coincidência ou não, Rollemberg passou os primeiros 18 meses de governo tentando instituir as OSs na gestão da Saúde do DF, porém, sem sucesso.  Agora, adivinhe quem tentou habilitar uma OSs para atuar no DF? Quer resposta relacionada a Moustafa, não será mera coincidência. Mas o mantra da desculpa, todos conhecem. “Todas as doações…”.

O que pode estar por trás disso? A institucionalização da corrupção, que os Odebrechts e Batistas da vida, para escaparem da cadeia, finalmente, revelam a existência, com todas as letras, ou em alto em bom tom, para a sociedade brasileira.

O X da questão é: A população vai continuar a aceitar tais práticas passivamente ou pressionará o sistema para impor reformas no sistema político; no sistema eleitoral; na composição de uma nova assembleia constituinte sem vícios e participação de políticos de carreira. Ou será que o brado retumbante desse povo heróico apenas se limitará a se contentar em defender eleições indiretas ou as diretas já para, novamente, estimular alguma mutação desse monstro que corrompe a vida de 200 milhões de brasileiros.



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