Os painéis não deveriam estar lá, mas governo só os retirou para impedir críticas do Metrópoles



Nenhum posicionamento político, ou sobre qualquer assunto, tem de ser maniqueísta, alinhado com o que os outros pensam e muito menos sintonizado com a polarização tão em voga. É verdade que tomar posições que não o colocam de modo automático em um campo ou em outro não é fácil: quem se posiciona sem alinhamento total com um dos lados sofre muitas críticas, quando não ofensas e ataques baixos, dos dois lados.

É o caso da retirada, pelo governo de Brasília — a Agefis é apenas um instrumento — dos painéis de publicidade instalados nas empenas dos prédios situados na área central do Plano Piloto. A legislação não permite e urbanistas criticam isso há anos, mas os painéis continuavam lá, impunemente, protegidos pela conivência do Executivo, omissão do Legislativo e liminares do Judiciário. Aliás, alguns juízes e desembargadores têm, ao longo da história de Brasília, sido protagonistas ativos, por incompetência ou má-fé, de agressões causadas à cidade.

Mas é óbvio que a retirada apenas agora, às vésperas da eleição, é uma ação política do governo, incomodado pelo painel do portal Metrópoles. O painel, em local de grande movimento, vinha expondo críticas ao governador Rodrigo Rollemberg e a sua gestão — o que, além de ser um direito do portal é o que fazem nove entre dez brasilienses. Como não tem como enquadrar o Metrópoles como faz com outros veículos de imprensa, algum gênio sugeriu ao governador que aproveitasse para aplicar a lei há tantos anos esquecida.

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Se não fosse o painel do Metrópoles, o governo, depois de esperar três anos e meio, nada faria contra os demais. Foi, assim, uma clara ação contra a liberdade de expressão e de imprensa, cometida por um governo que recorreu por diversas vezes à Justiça para impedir que seus adversários políticos o criticassem em programas partidários no rádio e na televisão — e, o pior, que incrivelmente conseguiu decisões favoráveis a essa tese no Tribunal de Justiça do DF. E no qual um secretário dá broncas e faz ameaças a repórteres e editores quando não gosta do que publicam.

Não sou favorável aos painéis com publicidade nas empenas dos prédios e não acho que caibam comparações com outras cidades que têm desenho urbano completamente diferente do projeto do Plano Piloto. Se acham que a lei deva ser alterada, para permiti-los, que se inicie um processo de debate para que a Câmara Legislativa decida, ainda que decisões de deputados distritais sejam sempre um perigo para os brasilienses.

A atitude de retirá-los agora, porém, mostrou que o governo não quer ser criticado e está muito mal assessorado na política e na comunicação.

Fonte: Helio Doyle



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