OSS: Ministério Público aponta problemas na seleção de entidades para cuidar da saúde no DF



Segundo o órgão, em menos de um ano o GDF qualificou três organizações sociais com histórico de problemas e sem experiência na prestação de serviços para atuar na capital do país

O Ministério Público de Contas do Distrito Federal (MPC/DF) quer que sejam investigadas irregularidades no processo de qualificação, pelo governo local, de três entidades que pretendem atuar na gestão da rede pública de saúde. Para o MPC, existem indícios de contratação de “empresas”, investidas na figura de organizações sociais (OSs), que recebem recursos e bens para prestarem serviços sem que tenham experiência ou fiscalização efetiva. Prática que coloca o atendimento aos brasilienses em xeque. A terceirização da saúde é a menina dos olhos do governador Rodrigo Rollemberg (PSB).

Em outubro de 2015, o MPC e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) alertaram a Secretaria de Saúde para que se abstivesse de terceirizar os serviços públicos de saúde ou repassá-los à iniciativa privada. Porém, três meses depois, foram publicadas as qualificações de duas entidades privadas como organizações sociais: Grupo de Apoio a Medicina Preventiva e a Saúde Pública (Gamp) e o Instituto Santa Marta de Educação e Saúde (Ismes). Mais recentemente, no fim de abril, o Instituto Saúde e Cidadania (Isac) também foi qualificado como OS.

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Os problemas das OSs qualificadas pelo Governo do DF foram revelados em matéria publicada pelo Metrópoles. As organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, declaradas de interesse social e utilidade pública para todos os efeitos legais, que celebram contrato de gestão com o poder público, para formação de parceria na execução de diversas atividades.

Para a procuradora-geral do MPC, Cláudia Fernanda de Oliveira Pereira, uma das características principais da parceria do setor público com o terceiro setor é o aproveitamento de experiência da entidade na comunidade em que atua. Assim, não seria razoável qualificar entidades sem qualquer experiência e com histórico de problemas.

Não é admissível que entidades sejam criadas a fim de terceirizar a saúde pública. Não podemos permitir que essas entidades se aventurem à prestação de serviços tão essenciais à população, sendo que todo o risco e custos ficam por conta da administração pública e da população.”
Cláudia Fernanda, procuradora

Sem médicos suficientes
No caso da Gamp, verificou-se a existência de supostas irregularidades na prestação de serviços no Estado de São Paulo. O Tribunal de Contas de lá recebeu denúncias de inexecução contratual; plantões sem médicos suficientes; subcontratação de serviços, bem como ausência de registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) nos contratos celebrados com os profissionais. Além disso, a GAMP não possui sede ou filial no DF.

Quanto ao caso do Instituto Santa Marta de Educação e Saúde (Ismes), chamou a atenção o fato de a entidade ter sido aberta em 15 de maio de 2014, com um patrimônio social de R$ 8.485,84, e em 18 de junho – pouco mais de um mês depois -, ter solicitado sua qualificação como organização social. E, até o momento, a entidade apenas dispõe de registro provisório no CRM para atuar na área de saúde.

Já a respeito do Instituto Saúde e Cidadania (Isac), a constatação do MPC é que houve atropelo nos procedimentos. Em seu histórico, o instituto prestou serviços à prefeitura de Jacobina (BA). Lá, a atuação do Isac à frente da gestão do Hospital Municipal Antônio Teixeira Sobradinho foi desastrosa e precisou de intervenção.

A medida se deu por descumprimento no contrato de gestão por risco de suspensão do abastecimento de materiais médico/hospitalares, medicamentos e alimentos; desabastecimento de medicamentos; descontinuidade na manutenção do gerador (ausência de bateria), comprometendo a segurança das atividades e dos pacientes; descontinuidade na manutenção da engenharia clínica (equipamentos utilizados diretamente no paciente) e da engenharia hospitalar (sistema de ar condicionado etc.), além de repetidos atrasos na entrega das prestações de contas, entre outros.

Seleção
A Secretaria de Saúde respondeu, por telefone, que a seleção das organizações sociais que poderão atuar no DF passa primeiro por um processo de avaliação, para ver se elas se adequam à Lei 4.081/2008, que rege localmente a contratação das OSs. O que “não significa que elas, mesmo depois de aptas, vão atuar” no sistema de saúde do DF.

Ainda de acordo com a Secretaria, há um estudo que pode modificar a atual lei em vigor, que prioriza as organizações sociais com sede no Distrito Federal ou que se adequem a leis locais. As alterações, ainda não confirmadas oficialmente pela pasta, abririam brechas para a entrada de OSs de outros estados, sem a atual burocracia exigida pela Lei 4.081/2008.

O governo insiste no argumento de que a gestão compartilhada focará na melhoria do atendimento nas seis unidades de pronto atendimento (UPAs) de Brasília (Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho). No DF, o Hospital da Criança José de Alencar é administrado sob as regras dessa legislação.

A Secretaria de Saúde estima que 65% dos pacientes que buscam as emergências do DF poderiam ter os problemas resolvidos nos centros de saúde ou nas UPAs. Pelos planos do Buriti, Ceilândia será a primeira região administrativa a receber o novo modelo de gestão.

Com o objetivo de abrir as portas para as OSs, o governador Rollemberg tem mantido reuniões frequentes com sua base aliada na Câmara Legislativa. Na terça (21/6), porém, os planos do Palácio do Buriti foram abalados com a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Proposta de Emenda à Lei Orgânica (Pelo 43/2016), que impede a contratação e gestão dessas entidades no DF. (Com informações do MPC-DF).

O outro lado
O Grupo de Apoio a Medicina Preventiva e a Saúde Pública (Gamp) procurou o Metrópoles para responder às denúncias apontadas pela reportagem. A OS fez questão de enfatizar que tem um escritório em Brasília desde dezembro de 2015, no Setor Hoteleiro Sul, com seis funcionários. A Gamp explica ainda que “é uma instituição sem fins lucrativos, com maior expertise na área da saúde, com dez anos de existência já qualificada  como organização social em várias cidades e estados do país”.

Sobre as denúncias apontadas pelo Tribunal de Contas de São Paulo, a OS informou que não possui nenhum passivo na Justiça Trabalhista ou órgãos fiscalizadores. “Salientamos que as questões descritas são de cunho político e de interesses obscuros, e que produzem determinadas situações na conquista do poder a qualquer preço, onde não se comprovou administrativamente qualquer dolo por parte da Gamp”.

Fonte: Metrópoles

Atualização: 24/6/16 às 11h45



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