Padre chama de “pecado mortal” campanha de planejamento familiar com uso de DIU divulgada por distrital



Julia Lucy, proponente da campanha, na Região Administrativa, se contrapõe e lembrar que método contraceptivo é amplamente buscado por mulheres pela baixa incidência de efeitos colaterais, além de ser reversível

Por Kleber Karpov

Durante a semana, a deputada distrital Julia Lucy (NOVO), divulgou, nas redes sociais, a campanha “Eu Posso Planejar”, realizada nos dias 2 e 4 de outubro na Administração Regional da Estrutural. A iniciativa que promove o planejamento familiar por meio de implante de Dispositivo Intrauterino (DIU) em mulheres interessadas no método contraceptivo despertou a reação do padre, líder da paróquia Jesus Bom Pastor, Geraldo Gama. O pároco, por meio do aplicativo de mensagens Whatsapp, se posicionou contrário ao classificar o DIU de abortivo e chamar a ação de “pecado mortal”.

Publicidade

“Esclareço que o posicionamento da Igreja Católica Apostólica Romana quanto ao uso do DIU é imoral e incorre em pecado mortal, pois tem efeito anticoncepcional. Tem, também, efeito abortivo, pois quando um espermatozoide consegue fecundar o óvulo, formando um embrião, ou seja, uma pessoa humana, o DIU impede o embrião de se implantar no útero, condenando-o à morte. Por isso, é abortivo!”, destacou o pároco.

Na manifestação o padre foi além ao sugerir que “Quem coopera material ou formalmente para um aborto, seguido de seu efeito, incorre em excomunhão, conforme o Direito Canônico, Cânon 1398. Defendemos a vida!”.

Distrital se contrapõe

Após o episódio, por meio de Nota de Esclarecimento, Julia Lucy se contrapôs à manifestação de Gama ao mencionar que o DIU se tornou um método contraceptivo, amplamente procurado pelas mulheres. Dentre os diversos motivos, para escaparem das pílulas anticoncepcionais, que além de reduzir a libido, também são responsáveis por inúmeros casos de reações adversas, a exemplo da trombose.

Confira na íntegra

NOTA DE ESCLARECIMENTO
Após ação “Eu Posso Planejar”, que aconteceu nos dias 2 e 4 de outubro na Administração Regional da Estrutural, promovido pela Procuradora Especial da Mulher da Câmara Legislativa (CLDF), deputada Júlia Lucy (NOVO), totalmente voltado para o planejamento familiar, onde o foco principal foi conscientizar por meio de palestras a importância dos métodos contraceptivos, visando o planejamento familiar, tendo como um dessas opções a colocação do DIU.
É crescente o número de mulheres que têm demonstrando interesse em usar o DIU (Dispositivo Intra-Uterino) como método contraceptivo. Esse movimento pode ser atribuído ao aumento no aparecimento de casos de trombose relacionados ao uso da pílula anticoncepcional, além de fatores comportamentais. Os relatos de pacientes que experimentaram uma queda importante na libido com o uso de pílula também fazem com que a procura por uma opção que preserve a qualidade de sua vida sexual aumente.
O DIU é o método contraceptivo reversível mais usado no mundo, com cerca de 106 milhões de adeptas. A Europa ocidental se destaca no número de mulheres que utilizam o dispositivo, cuja estimativa está em ¼ da população em idade reprodutiva. No Brasil, é importante a contracepção preventiva, para se evitar os 500 mil abortos ilegais no Brasil (Pesquisa Nacional do Aborto, 2018).
Na década entre 2008 e 2017, os gastos com complicações de aborto foram de 486 milhões com internações para tratar complicações, sendo 75% deste valor oriundos de abortos provocados. E entre 2000 e 2016 morreram 4.455 mulheres ao abortarem. (Fonte: Documento Científico)
Custos
Cada gravidez não programada custa R$ 2.293 (SUS, 2018) ao país, só considerando gastos com pré-natal e nascimento, o impacto total chega a R$ 4,1 bilhões ao ano no Orçamento. E esse número não inclui escola e abrigo, caso a mãe abandone a criança, nem gastos com complicações decorrentes de abortos clandestinos.
A necessidade de se trabalhar o tema entre adolescentes fez com que a Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus), por meio da Subsecretaria de Políticas para Crianças e Adolescentes, reunisse, durante o mês de fevereiro de 2019, eventos relacionados à questão de saúde, lançando a Campanha de Prevenção da Gravidez na Adolescência, conforme diretriz do Estatuto da criança e do Adolescente (ECA), art. 8-A.
Número de adolescentes grávidas em 2018 no DF: 4200
Indivíduos entre 10 e 20 anos incompletos (critério da OMS) – representam entre 20% e 30% da população mundial, estimando-se que no Brasil essa proporção alcance 23%. Dentre os problemas de saúde nessa faixa etária, a gravidez precoce sobressai em quase todos os países e em especial, nos países em desenvolvimento.
A gravidez na adolescência vem sendo uma das principais causas de morte entre adolescentes e pode transformar esse momento vital em muitas crises e riscos para a adolescente, para o recém-nato (RN), para a família e para a sociedade, aumentando os custos associados ao evento para o sistema de saúde e, elevando as taxas de mortalidade, além de impactar no futuro de várias gerações.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a gestação nesta faixa etária é uma condição que eleva a prevalência de complicações maternas, fetais e neonatais, além de agravar problemas socioeconômicos existentes. Como em outras condições de saúde, o prognóstico da gravidez na adolescência depende da interação de fatores biológicos, sociais, psicológicos, culturais e econômicos.
Dados Estatísticos
Considerando os dados da América Latina, os números no Brasil são alarmantes. De acordo com o IBGE, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre 10 e 19 anos, dado superior aos índices internacionais. Assim, após análises dos dados estatísticos nacionais e da vigilância epidemiológica do DF (NEPAV/SVS/SES-DF), constatou-se que a gravidez na adolescência é um grave problema de saúde pública, principalmente quando se relaciona a violência sexual e a iniquidade de gênero, visto que esta violência atinge em sua maioria o gênero feminino.
A campanha sobre prevenção da gravidez na adolescência é uma resposta à Lei nº 13.798/2019, que acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei 8.069/1990 –, um novo artigo instituindo a data de 1º de fevereiro para o início da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.
Principais Fatores
Diversos fatores concorrem para a gestação na adolescência. No entanto, a desinformação sobre sexualidade, sobre direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, incluindo o uso inadequado de contraceptivos, como métodos de barreira e preservativos.6 Existem outras causas inerentes ao desenvolvimento psíquico ou fatores culturais, tais como pensamentos mágicos e inconscientes de ser amado/a ou de ser conquistado/a como reflexo dos papéis estereotipados e veiculados pelas mídias e sociedade em geral, muitas vezes envolvendo romance e violência.
Fatores de Prevenção
Um dos mais importantes fatores de prevenção é a educação, fato indubitável para a saúde plena, tanto individual quanto coletiva. Nesse sentido, é importante considerar a educação abordando sexualidade e saúde reprodutiva, tanto no meio familiar quanto na escola, com abordagem científica, e nos programas de promoção à saúde. Não apenas quanto aos eventos biológicos, mas em relação ao convívio de respeito entre meninos e meninas, atividades sexuais com responsabilidade e proteção – métodos contraceptivos – principalmente durante a adolescência.
Depoimentos
Brenda, 21, moradora da Cidade Estrutural e grávida do quarto filho, diz que pelo simples fato de não ter tido a oportunidade de colocar o DIU, optou por tomar injeções como método contraceptivo, teve alergia, e hoje ressalta a necessidade de ter apoio na colocação do DIU após o nascimento do bebê.
Tais, 24, também moradora da Cidade Estrutural, mãe de três filhos, alega que se tempos atrás tivesse tido a oportunidade de colocar o DIU, hoje não teria tantos filhos, teria terminado a faculdade, teria uma profissão. E acrescenta a grande necessidade que a cidade tem de apoio no sentido de esclarecimentos. Ainda segundo ela, é elevado o número de crianças de 12, 13 e 14 anos grávidas, e sem a presença do companheiro, onde os avós acabam tendo a responsabilidade de cuidar dos recém-nascidos. Como ele mesma diz: “uma criança cuidando de outra criança”.
Já a Nazaré, moradora do Setor de Chácaras Santa Luzia, cuidadora de crianças carentes, vem em defesa da deputada Júlia Lucy, após um conselheiro comunitário questionar a ação “Eu Posso Planejar”.
“A falta de planejamento familiar atinge de forma negativa a área financeira, mas também, a saúde, devido à falta de informação e dos métodos contraceptivos para as mulheres e seus companheiros”. (por Bruno Kesseler/Cufa)
Falta de Planejamento Familiar
É importante levar em consideração a dificuldade de conciliar trabalho e maternidade sendo um desafio para a maior parte das mulheres, que esbarram com preconceito e incompreensão no ambiente corporativo. Não é raro que chefes e colegas duvidem da capacidade delas de se dedicarem tanto ao emprego quanto faziam antes de se tornarem mães, já que, na sociedade brasileira, as atividades domésticas e de cuidado com os filhos são vistas quase como exclusivamente femininas. Some a esse contexto o fato de a licença-maternidade ser bem mais longa que a tirada pelos pais e o resultado será um vasto contingente de trabalhadoras que teme ter prejuízos na carreira no caso de uma gestação. Pesquisa do site Trocando Fraldas revelou que três em cada sete mulheres sentem medo de engravidar e serem demitidas.
Além de um dado importantíssimo que é o fato de que o número de famílias chefiadas por mulheres tem aumentando nos últimos anos.
Houve um aumento quantitativo e qualitativo no montante de mulheres chefes de família no Brasil nos primeiros 15 anos do século XXI. Enquanto o total de famílias brasileiras aumentou 39% em 15 anos, passando de 51,5 milhões, em 2001, para 71,3 milhões, em 2015, as famílias chefiadas por homens aumentaram somente 13%, passando de 37,4 milhões para 42,4 milhões. O número de famílias chefiadas por mulheres dobrou em termos absolutos (105%), subindo de 14,1 milhões, em 2001, para 28,9 milhões, em 2015. Em termos percentuais, o total de famílias chefiadas por homens diminuiu de 72,6%, em 2001, para 59,5%, em 2015, enquanto o percentual de famílias chefiadas por mulheres subiu de 27,4% para 40,5%, no mesmo período. (Fonte: Projeto Colabora)
Ascom | Deputada Distrital Júlia Lucy (NOVO)

Política Pública

Mulheres lotam auditório do HMIB em busca de anticonceptivo DIU – Foto: Divulgação/HMIB

Método utilizado em todo país, por intermédio do Ministério da Saúde (MS), no DF, Em 17 de junho, após a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), anunciar campanha de colocação de DIU do tipo T Cobre não hormonal, cerca de 1.100 mulheres lotaram o auditório do Hospital Materno e Infantil de Brasília (HMIB), onde foram acolhidas e passaram por avaliação e palestras, para dar andamento ao procedimento.

Dessas, cerca de 450 se habilitaram para receber o anticonceptivo e, em 1o de julho, 225 mulheres passaram pelo procedimento no HMIB, que contou com o auxílio de um médico e dois residentes do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Na ocasião, a ginecologista e obstetra do HMIB, Andréia Regina Araújo, falou sobre a importância do método enquanto instrumento de planejamento familiar ao lembrar que a colocação do contraceptivo é reversível.

“Atendemos a todas as pacientes agendadas. Todo o nosso empenho teve um resultado bem positivo, inclusive na conscientização dessas mulheres no que se refere à importância do planejamento reprodutivo. É importante elas saberem que não é necessário se esterilizar para ter o direito a planejar quantos filhos quer ter, no momento em que julgar oportuno”, disse Andréia Regina.



Política Distrital nas redes sociais? Curta e Siga em:
YouTube | Instagram | Facebook | Twitter










Artigo anteriorCrônica da Política – Um homem conquistador
Próximo artigoCLDF realiza, na terça (8), audiência pública para debater papel dos Agentes de Vigilância Ambiental na Atenção Primária