21.5 C
Brasília
27 abr 2025 23:10

País inicia estratégia para ampliar oferta de terapias gênicas no SUS

Primeiro projeto envolve imunoterapia para câncer do sangue

Por Vitor Abdala

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou, nesta terça-feira (26), acordos para iniciar sua Estratégia para Terapias Avançadas, que visa baratear e, assim, ampliar a oferta de terapias gênicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto é financiado pelo Ministério da Saúde, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

As terapias gênicas envolvem a manipulação de genes para combater doenças como câncer, doenças autoimunes, aids e síndromes genéticas. Há vários tratamentos atualmente em uso, das quais 15 têm autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para utilização no Brasil. Há outras centenas sendo estudadas em todo o mundo.

O grande problema dessas terapias é o custo. Uma terapia para a distrofia muscular de Duchenne, por exemplo, um distúrbio progressivo e irreversível dos músculos, pode chegar a custar R$ 15 milhões, valor semelhante ao da terapia contra a hemofilia A.

De acordo com a Fiocruz, estima-se que, nos próximos cinco anos serão gastos entre R$ 4 bilhões e R$ 14,5 bilhões por ano nesses tratamentos, caso seja pago o valor cobrado pelas farmacêuticas.

A oferta desses tratamentos em unidades privadas de saúde está fora do alcance para pessoas que não têm esse dinheiro. Já a oferta gratuita pelo SUS é muito cara para os cofres públicos.

A ideia é que a Fiocruz, por meio de seu Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-manguinhos), seja capaz de desenvolver e oferecer terapias gênicas a um custo de cerca de 10% do que é gasto hoje com o mesmo tratamento.

O desenvolvimento inicial desses tratamentos contará com o apoio da organização sem fins lucrativos norte-americana Caring Cross, que fará transferência de tecnologia ao instituto brasileiro.

Rio de Janeiro (RJ), 26/03/2024 – Autoridades assinam acordo de cooperação entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz): o Ministério da Saúde, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e Caring Cross durante lançamento da Estratégia para Terapias Avançadas da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Ministra Nísia Trindade discursa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Ministra Nísia Trindade destaca importância e inovação das terapias gênicas  – Tomaz Silva/Agência Brasil
“A orientação é que [essas terapias desenvolvidas pela estratégia da Fiocruz] sejam incorporadas ao SUS”, afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. “Essa não é apenas uma terapia importantíssima e inovadora. Há uma redução, em dez vezes, do custo dos tratamentos hoje disponíveis. O que significa multiplicar por dez o acesso a essa terapia.”

Câncer

O primeiro projeto a ser desenvolvido pela Estratégia para Terapias Avançadas envolve a reprogramação de células de defesa do organismo para combater alguns cânceres hematológicos, como linfomas e leucemias agudas. Será uma parceria da Fiocruz com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), que já desenvolve pesquisas nessa área.

“É um processo de reeducação da célula. A gente coleta as células do paciente e, em laboratório, a gente vai fazer uma modificação genética nelas, colocando um gene que leva à expressão de uma proteína que vai fazer essa célula passar a reconhecer essas células tumorais”, explicou o pesquisador do Inca Martin Bonamino. “E, depois de todo o controle de qualidade, essa célula é devolvida, como se fosse uma transfusão, para o paciente.”

A terapia chamada de CAR-T consiste em inserir, em linfócitos T (células de defesa) dos pacientes, lentivírus que carregam um gene específico para combater o tumor. Com o novo gene, o linfócito torna-se mais eficaz em encontrar o câncer no corpo e reconhecê-lo como algo a ser eliminado, enviando substâncias que vão causar a morte da célula cancerosa.

Para esse tratamento específico, cujo custo está em torno de R$ 2 milhões, existe a possibilidade de que o valor caia para R$ 200 mil. Além do desenvolvimento da terapia CAR-T, propriamente dita, haverá a produção dos lentivírus.

Os testes clínicos para validação da terapia da Fiocruz e do Inca deverão ser realizados a partir do fim deste ano, nos Estados Unidos e no Brasil.

Com a terapia validada, a ideia é que sejam instalados laboratórios em módulos de contêineres, que poderão ser instalados em hospitais de vários lugares do Brasil, possibilitando a descentralização da realização desses tratamentos.

“Nós aqui em Bio-Manguinhos, vamos aproveitar o conhecimento que a gente adquiriu durante a pandemia [de covid-19] para fazer a produção do lentivírus, que é o vetor viral. E também haverá módulos onde será realizado o processo de CAR-T. E esses módulos serão certificados pela Anvisa e por Bio-Manguinhos”, explicou o diretor de Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma.

Segundo a ministra Nísia Trindade, o barateamento das terapias gênicas beneficiará não apenas o Brasil, mas também poderá ajudar outros países da América Latina e da África.

Flávio Dino quer que Congresso informe como vai identificar autor de emendas

Por André Richter O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal...

Covid-19: Acervo denuncia política de morte na pandemia e pode embasar reparação

Um acervo com 150 registros do que seriam evidências de...

Mobilização Nacional da Lei Seca retira 64 condutores alcoolizados das vias do DF

O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) participou,...

Vencedor de ação do Hemocentro conhece o caminho do sangue até os hospitais

Por Victor Fuzeira Doar sangue é um gesto de solidariedade que...

IGESDF lança programa para reduzir infecções em cirurgias

Por Luciane Paz O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde...

Destaques

Flávio Dino quer que Congresso informe como vai identificar autor de emendas

Por André Richter O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal...

Covid-19: Acervo denuncia política de morte na pandemia e pode embasar reparação

Um acervo com 150 registros do que seriam evidências de...

Mobilização Nacional da Lei Seca retira 64 condutores alcoolizados das vias do DF

O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) participou,...

Vencedor de ação do Hemocentro conhece o caminho do sangue até os hospitais

Por Victor Fuzeira Doar sangue é um gesto de solidariedade que...

Ceilândia ganha o primeiro parque urbano, no Setor O, após investimento de R$ 8 milhões

Por Fernando Jordão Um sonho de mais de 30 anos dos...