Pandemia afetou diagnóstico e tratamento do câncer de mama no SUS

Especialistas em saúde dizem é hora de retomar os atendimentos; deputada, porém, afirma que não há recursos para atender à demanda reprimida



A redução no diagnóstico de câncer em função da pandemia de Covid-19 é uma realidade no mundo todo. A afirmação foi feita pela coordenadora da Oncologia Clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Maria Del Pilar, durante debate promovido pela Secretaria da Mulher da Câmara nesta sexta-feira (9).

Dados do Ministério da Saúde mostram que 41% dos países interromperam o rastreamento da doença após orientação da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, entre janeiro e julho de 2020, o número de mamografias de rastreamento caiu quase pela metade em relação ao mesmo período do ano passado, além de queda de 4% no número de cirurgias. O câncer de mama é o que mais acomete mulheres no Brasil e no mundo. Aqui, estima-se que há mais de 60 mil novos casos por ano. Em 2018, mais de 17.500 pessoas morreram por câncer de mama.

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Deputadas e convidados discutiram sobre o adiamento do diagnóstico e do tratamento de câncer no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos meses. De acordo com pesquisa da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), a principal reclamação entre as pacientes atendidas desde o inicio da pandemia foi sobre o cancelamento das consultas — três em cada 10 relataram esse problema. 22% tiveram as cirurgias canceladas; 16% não conseguiram agendar exames; e quase 10% disseram que não havia agenda para inicio de seu tratamento.

Hora de retomar os cuidados?

Maria del Pilar diz que a orientação para que, no pico da pandemia, as mulheres deixassem de procurar os serviços de saúde foi acertada, pois o sistema estava sobrecarregado e não havia muito conhecimento sobre a nova doença. Mas que agora, com segurança e protocolos adequados de atendimento, as mulheres já podem voltar a buscar os serviços médicos.

“62% esperam o fim da pandemia pra retomar consultas medicas e exames de rotina. Percentual aumenta no grupo de risco pra Covid e também de câncer de mama. Não sabemos quando vai terminar. Então não pode esperar tempo indeterminado pra voltar pro atendimento médico”, afirma.

Marcia Fernandes da Cruz, paciente oncológica de Aracaju (SE), teve a cirurgia adiada – Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados

O Ministério da Saúde reforça esse apelo. Segundo Antonio Braga, Diretor do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da pasta, há uma orientação para que, na atenção primária, haja atendimento imediato para mulheres que apresentem alterações na mama, mesmo sem horário marcado. Mas a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), presidente da Frente Parlamentar Mista da Saúde, tem dúvidas sobre a capacidade dos municípios de responder a essa demanda, que ficou tanto tempo represada.

“Lamentavelmente, a partir do momento que houve mudança na forma de financiamento das mamografias de rastreamento, o recurso pra mamografia de rastreamento disputa com todos os outros recursos do SUS. No ano que vem vai ser pior. Temos 60% dos procedimentos que não foram realizados neste ano. Nós não vamos conseguir atender a demanda reprimida que já existia mais a demanda reprimida deste ano se não tivermos outra forma de financiamento”, alertou.

Cirurgia adiada

Em novembro de 2017, a diarista Márcia Fernandes da Cruz percebeu as primeiras alterações na mama. O primeiro médico que a atendeu disse que o quadro era normal, mas o inchaço chamou a atenção de uma enfermeira, que a encaminhou a um mastologista. Desde dezembro de 2019, Márcia aguarda para fazer a cirurgia de retirada do tumor. A espera só aumentou com a pandemia.

“Em dezembro, o hospital universitário programou a cirurgia e me mandaram aguardar até fevereiro. Mas não me ligaram. Quando eu ligava, diziam que a fila estava enorme e eu tinha que aguardar. Quando veio a pandemia, a cirurgia ficou suspensa. Tive quatro consultas canceladas. Fiquei de fevereiro, quando foi a última quimio, até agosto sem tratamento nenhum. O nódulo da axila cresceu bastante a ponto de estourar e ulcerar”, relatou durante o debate.

Outubro Rosa

O debate, mediado pela deputada Liziane Bayer (PSB-RS), faz parte da programação do Outubro Rosa 2020 e tem o apoio da Primeira-Secretaria e da Comissão dos Direitos da Mulher da Câmara, em parceria com o Senado, por meio da Procuradoria Especial da Mulher, da Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher, do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça e da Liga do Bem.



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FONTEAgência Câmara
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