Idosa não resistiu a parada cardiorrespiratória. Família fala em ‘assassinato’; governo diz aguardar fim da investigação.
Por Letícia Carvalho
A Polícia Civil do Distrito Federal abriu um inquérito para investigar se houve crime na morte da paciente do Instituto Hospital de Base (IBH) Márcia Aparecida da Silva, de 74 anos. Em 2 de setembro deste ano, a aposentada teve uma parada cardiorrespiratória dentro da unidade de saúde e não resistiu.
A família da vítima registrou um boletim de ocorrência na 5ª Delegacia de Polícia. A filha da paciente, Rosane Martins Silva Santos, disse ao G1 que a mãe foi “assassinada” e que houve negligência por parte do hospital. Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que “está acompanhando o caso e aguardando a conclusão da investigação policial”.
“Minha mãe estava na UPA de Sobradinho II. Os médicos acharam melhor levá-la para o Base. Mesmo com a transferência, ela estava bem e falando. Na manhã seguinte, recebemos uma ligação dizendo que ela tinha morrido”, contou Rosane.
À reportagem, a polícia informou que a tipificação do crime está “em apuração”. A investigação conta com um depoimento da cardiologista Sandra Marques e Silva, que prestou atendimento à paciente e que comunicou o falecimento à família.
O relato – encaminhado à chefia do departamento de cardiologia do hospital no mesmo dia da morte de Márcia Aparecida – enumerou uma série de irregularidades ocorridas durante o socorro da vítima (leia abaixo).
Trecho do relato da médica sobre o atendimento prestado à paciente Márcia Aparecida da Silva no Instituto Hospital de Base do DF — Foto: Reprodução
No texto, a médica contou que a paciente foi diagnosticada com infarto agudo do miocárdio. Para reverter o quadro, segundo o depoimento, havia a possibilidade de realizar uma angioplastia – procedimento para desentupir artérias. No entanto, ao tentar contato com o Instituto de Cardiologia do DF, “todos os telefones tocavam, mas não atendiam”.
A cardiologista, então, escreveu que tentou falar com alguém responsável pela regulação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que classificou o caso da vítima como “prioridade 2”. Ou seja, a paciente não teria direito a uma vaga imediata na UTI.
Durante o atendimento, o quadro de Márcia Aparecida piorou. A médica decidiu “trombolisar a paciente” – método em que é usada uma medicação intravenosa para reverter o infarto.
Capacitação
Uma hora depois de o tratamento ter começado, a paciente começou a sentir mais dor e, então, sofreu uma parada cardiorrespiratória. Nessa etapa do socorro, a médica tentou fazer a ressuscitação da idosa. No relato, porém, ela reclamou do preparo da equipe para o procedimento e da falta de insumos da unidade.
“A equipe que estava na sala amarela não sabia como proceder nem onde estavam as medicações para RCP [reanimação cardiorrespiratória]. Fui obrigada a chamar ajuda no posto 4 e descobrimos que o carrinho de parada não tinha prancha rígida para RCP, o desfibrilador não tinha cabo para monitorização por ECG [eletrocardiograma], não tinha gel para as pás e as saídas de vácuo não estavam funcionando. Nem o carro reserva de aspiração está funcionando.”
Outro trecho do relato da médica sobre atendimento prestado à paciente que morreu no Instituto Hospital de Base do DF — Foto: Reprodução Outro trecho do relato da médica sobre atendimento prestado à paciente que morreu no Instituto Hospital de Base do DF —
De acordo com a médica, todos os empecilhos retardaram o atendimento da paciente em cerca de 15 minutos. Ao G1, o genro de Márcia Aparecida, Jeffé Peixoto dos Santos, disse que a polícia solicitou ao Instituto Hospital de Base a apresentação da qualificação dos servidores que participaram do socorro à paciente.
Fonte: G1 DF