Polícia Civil faz operação no Palácio do Buriti nesta sexta-feira



A relação entre o PM reformado João Dias e Cirlândio Martins, ex-chefe de gabinete da Casa Militar, é alvo de investigação por conta de um caso de suposto suborno envolvendo o ex-secretário de Governo e atual conselheiro do Tribunal de Contas do DF, Paulo Tadeu

Mirelle Pinheiro, Maria Eugênia e Carlos Carone

Equipes da Divisão de Operações Especiais e da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) cumpriram mandados de busca e apreensão na Casa Militar, no Palácio do Buriti, na manhã desta sexta-feira (2/9). O alvo da operação foi o ex-chefe de gabinete do órgão, coronel Cirlândio Martins. Foram recolhidos computadores, celulares e documentos.

Os investigadores apuram a relação entre ele e o PM reformado João Dias, pivô da queda de Orlando Silva do Ministério do Esporte. Os dois são suspeitos de prática de extorsão, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e falsa comunicação de crime. Dias foi levado coercitivamente para depor.

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Em 2011, João Dias invadiu o gabinete do então secretário de Governo e atual conselheiro do Tribunal de Contas do DF (TCDF, Paulo Tadeu, no Palácio do Buriti, levando uma maleta com R$ 200 mil. Ao chegar ao local, abriu a sacola e despejou o dinheiro, alegando que teria sido dado a ele a título de suborno.

Na época do episódio da maleta, João Dias foi preso. Em depoimento, afirmou que teria ido ao Palácio do Buriti para devolver o dinheiro que havia sido entregue por uma comitiva do secretário de Governo — supostamente formada por um delegado da Polícia Civil, um coronel da PM, um membro da família de Paulo Tadeu e uma assessora.

Segundo o PM reformado, a tentativa era comprar o seu silêncio sobre supostos negócios escusos que envolviam o secretário. Ele contou que não teria aceitado o acordo, mas mesmo assim o grupo teria deixado uma sacola de dinheiro na porta da garagem da casa dele. Na época, Paulo Tadeu negou a versão do PM e disse que tudo era uma farsa para prejudicá-lo e ao então governador Agnelo Queiroz (PT).

De acordo com o delegado-adjunto da Deco, Adriano Valente, a polícia já vinha investigando desde aquela época a relação entre os dois. O coronel havia prestado depoimentos, porém, não convenceu os investigadores sobre a veracidade do que contou. João Dias, por sua vez, foi intimado seis vezes para depor e não apareceu, ressaltou Valente, em nenhuma das convocações. Por isso, foi conduzido pelos agentes a prestar esclarecimentos.

A polícia também cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Cirlândio, que foi exonerado na semana passada. Toda a operação, batizada de Palácio Real, foi autorizada pela Justiça.

O inquérito que apura o episódio da maleta foi instaurado em 2011. A polícia quer saber a origem do dinheiro jogado da mesa, a veracidade das acusações e a ligação entre as pessoas envolvidas. “A polícia acredita que não se trata de pagamento de suborno”, disse Valente. O policial destacou que desde o início das investigações ficou bem claro que João Dias tinha um contato muito próximo com o Cirlândio, mesmo antes da data do fato.

“Já temos uma ideia da origem do dinheiro. Em breve tudo será esclarecido, já que as investigações estão chegando ao fim. Agora, vamos analisar as evidências colhidas”, destacou, ao lembrar que apenas com João Dias foram apreendidos 20 aparelhos celulares.

Em nota, a Casa Militar explicou que está colaborando com as investigações. “Foi franqueado o acesso aos agentes da Polícia Civil que realizaram, na manhã de hoje, busca e apreensão de documentos e arquivos de computador relacionados ao ex-servidor Cirlândio Martins dos Santos, exonerado no dia 24 de agosto. A operação da Polícia Civil é consequência de uma investigação iniciada no governo passado, em 2012.”

Após prestar depoimento na Deco, João Dias saiu tranquilo e sorridente, acompanhado do advogado. Chegou a dizer que a ação da polícia realizada nesta manhã foi “impecável”.

Não posso dizer de quem é o dinheiro. Foi há muito tempo. Não me lembro com detalhes o que aconteceu. Mas afirmo que é dinheiro de propina”
João Dias

“Reafirmei tudo que contei no passado. Os celulares que foram apreendidos na minha casa são do passado, sucata. O que eu acho engraçado é que, agora, ninguém quer o dinheiro do Buriti”, brincou.

Questionado sobre o motivo de não ter comparecido à delegacia quando foi intimado seis vezes, alegou que deve ter tido algum problema no procedimento que foi encaminhado para a PM. “Não sei o que aconteceu, houve algum ruído no meio desse processo. Estou aqui para ajudar. Não posso dar mais detalhes porque o processo está em segredo de Justiça”, concluiu.

Operação Shaolin
A ação é um desdobramento da operação Shaolin, deflagrada para apurar denúncias de desvios de verbas do Segundo Tempo, principal programa do Ministério do Esporte no governo Lula.

A origem das irregularidades, segundo as investigações feitas à época, seria o repasse de R$ 2,9 milhões para a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak) e para a Associação João Dias de Kung Fu. O maior convênio, de R$ 2 milhões, foi assinado em 2005 pelo então secretário executivo do Ministério dos Esportes, Orlando Silva, com a Febrak.

A federação teria de desenvolver atividades desportivas com 10 mil alunos da rede pública de ensino enquanto não estavam em sala de aula. O segundo convênio, de R$ 920 mil, foi firmado com a associação em 2006, quando Agnelo não era mais ministro do Esporte.

Segundo a polícia, as associações, presididas pro João Dias, se apropriaram de R$ 2 milhões dos convênios sem prestar os serviços combinados. A investigação sustenta que as ONGs de Dias forjavam a compra de materiais que seriam usados durante as atividades com as crianças, tais como quimonos, jogos de xadrez, damas, varetas e alimentos. As associações teriam atuado em conluio com empresas que forneciam notas fiscais frias para driblar a fiscalização do ministério. O objetivo das investigações era descobrir se o dinheiro desviado foi utilizado para financiar campanhas políticas.

De volta ao Buriti
É a segunda vez em menos de um mês que uma operação policial é realizada no Buriti. No último dia 17, agentes e representantes do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) cumpriram mandados de busca e apreensão no anexo e no prédio principal.

Eles estiveram na Secretaria de Planejamento e na Vice-Governadoria em busca de provas sobre denúncia da  presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde (SindSaúde-DF), Marli Rodrigues. Na ocasião, o objetivo da operação era apreender documentos, computadores e outros elementos de prova — como e-mails — de extorsão por parte de servidores públicos. De acordo com a sindicalista, havia um esquema de cobrança de propina por parte de servidores para liberar contribuições sindicais.

Fonte: Metrópoles



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